REDENÇÃO

CAPÍTULO 22

     Quando acordo, Guilherme já não está mais ao meu lado. Sorrio ao me lembrar que ele não me deixou sair de seus braços até que eu pegasse no sono. Realmente foi um susto.

   Seguindo o plano de Alice, ontem, durante o jantar, Sophia me convidou para ir ao jogo de futebol de Miguel. Então depois que termino de me aprontar, desco as escadas e encontro algumas pessoas já tomando café. Parece que Guilherme saiu cedo, junto com o senhor Albuquerque e o Henrique, ou seja, Cynthia foi atrás dele para exercer seu papel de espiã.

    Sophia, Miguel e eu tomamos café bem rápido e já fomos ao encontro do motorista, que nos esperava do lado de fora.

    Miguel está no primeiro ano do ensino médio e sua escola é exatamente como as escolas americanas que vejo nos filmes! Quando o motorista nos deixou no estacionamento, eu pude ver algumas meninas vestida de líderes de torcida chegando. Deve ser um sonho fazer o ensino médio aqui.

— Eu vou cumprimentar a senhora Parker, só um minuto. — Sophia diz e caminha até uma mulher que está a alguns metros de nós.

— Ela vai passar uma hora só conversando com essa mulher, e elas nem se gostam! — Miguel reclama, me fazendo rir.

— Minha mãe faz isso o tempo inteiro! — Ele ri junto comigo.

— Como você conheceu meu irmão? — Ele pergunta.

— A minha irmã trabalha na empresa. Um dia eu fui levar uma coisa pra ela, e conheci o Guilherme na recepção.

— Depois ele te perseguiu? — Ele brinca rindo, mas na verdade, foi exatamente isso que aconteceu. — Eu só estava brincando. É que eu já ouvi uma história parecida um milhão de vezes, com a minha mãe e meu pai.

    Olho para Sophia de longe. Quem a vê assim hoje, com toda certeza não imagina que ela se casou aos dezesseis. E se tudo o que eu já li foi verdade, ninguém diz que ela sofreu tudo que sofreu pra conseguir viver bem hoje.

   Renan Albuquerque é um homem bom, eu vejo e sinto isso. Mas, não posso deixar de pensar no que meus olhos olhos vêem. Eu vejo os seguranças abaixando a cabeça toda vez que os dois passam juntos, vejo ele indo atrás dela caso ela se levante e saia sem dizer o motivo, e vejo principalmente, a forma como ele a olha. É de fato o olhar de um homem apaixonado, mas, mais do que isso, é o olhar possessivo. É estranho, eu sei, mas é como eu vejo.

— Mayara? Vamos? — Acordo do meu devaneio ao ver Miguel me chamando.

    Caminhamos juntas até a arquibancada, enquanto Miguel foi para o vestiário. Eu não entendo nada de futebol americano, só sei que estamos torcendo pelo time que veste a camisa vermelha, o time no qual o caçula da família Albuquerque entrou nesse ano.

— Não ligue, eu também não entendo nada. — Sophia fala depois de algum tempo.

— Ele sempre gostou de esportes? — Pergunto.

— Não. Na verdade ele começou a gostar depois que viemos para cá. Pelo menos algumas coisas boas saíram disso tudo. — Ela se refere ao exílio que sofreram, o que os obrigou a vir para cá. — Melissa, minha sobrinha, é líder de torcida. Renan, Luan e Caio saíram da linha de frente da empresa depois de mais de vinte anos.

— E você? Conseguiu tirar algum proveito nisso tudo? — Ela parece se surpreender com a minha pergunta, mas sorri.

— Eu me sinto segura aqui. Sinto que meu filho pode vir a escola sem risco de ser perseguido por nenhum repórter. Sinto que estamos mais unidos do que nunca. Pra tudo ficar perfeito, eu só gostaria de todos aqui, perto de nós. — Ela segura minha mão. — Todos vocês.