CAPÍTULO 13

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    Acordo sentindo minha cabeça pesada e meus olhos inchados de tanto chorar. Olho pela janela, percebendo que o dia amanheceu chuvoso e cinza, assim como eu, pelo visto.

   Ouço meu celular tocando pela décima vez em menos de dez minutos. É o Guilherme, não tive coragem para atendê-lo. A cada vez que olho o visor da tela mostrando seu número, a vontade de chorar volta.

— Mayara? Sou eu filha. — Ouço a voz do meu pai do outro lado da porta. — Me deixa entrar.

— Se eu disser não você vai entrar do mesmo jeito. — Falo apoiando minha cabeça nas mãos enquanto o ouço entrar.

— Você vai me agradecer um dia. — O olho rapidamente. Não acredito que ele veio até aqui e não vai se desculpar! — Você passou a noite inteira chorando, por causa dele?

— Por causa dele!? Por acaso foi o Guilherme que me fez passar vergonha no meio do jantar ontem? Foi o Guilherme que disse que a nossa família é criminosa?

— Filha, eles são pessoas ruins.

— Não pai, eles não são ruins, eles só não são o que você quer que eles sejam. O Guilherme não é mais um adolescente como o Felipe era, quando ele queria ser professor e você o fez se tornar um maldito bombeiro pra suprir as suas espectativas! — Grito.

— Mayara, você não consegue ver o que ele já conseguiu fazer em tão pouco tempo? Você nunca falaria assim comigo!

— Eu tô cansada, pai! Cansada de ser a filha perfeita, a aluna perfeita. Eu não quero ser perfeita em nada, eu só quero ser eu mesma! — Ele me olha com um olhar perdido e respira fundo.

— Eu vou provar que estou certo antes que ele faça com você o que o pai dele fez com a esposa. —Ele saiu do quarto antes que eu podesse responder qualquer coisa.

     Passo o resto do dia com o meu celular desligado, tento assistir alguma coisa na televisão, mas não consigo me concentrar por muito tempo.
    O fim da tarde começa a trazer alguns tons de amarelo e rosa para o céu entre as nuvens, mesmo com o dia chuvoso de hoje. Depois de tomar um banho e vestir um conjunto de calça de moletom e capuz, pego o carro da minha mãe emprestado e vou até a casa de Bianca.

   Depois de ser atendida pela mãe dela, subo até seu quarto. Ela está deitada na cama mexendo no notebook, ainda se recuperando. Os cortes já estão quase todos curados e ela parece bem.

— Oi Maya, veio nessa chuva? — Ela perguntou assim que me viu entrar.

— Eu vim com o carro da minha mãe... — Me sento na cama.

— Como foi o jantar? — Sinto meus olhos enchendo de lágrimas. — Amiga, o que aconteceu?

— Eu levei o delegado Ferreira ao invés do meu pai no jantar... Ele estragou tudo Bianca, chamou os Albuquerque de criminosos e ameaçou o pai do Guilherme... Ele não quer mais que eu veja o Guilherme, e eu não sei o que fazer.

— Maya, eu te conheço a o que, dez anos? E eu nunca vi você dizendo não pro seu pai! Amiga, você sempre teve as melhores notas, os melhores elogios dos professores, sempre foi a mais responsável do nosso grupo de amigos, e sinceramente, qual foi o reconhecimento que o seu pai te deu? Não acha que tá na hora de fazer alguma coisa por você? — Ela segurou minha mão e respirou fundo. — Se eu te conheço bem, você ignorou o Senhor Albuquerque Júnior o dia inteiro, não foi?

— Ele deve estar me odiando.

— Você vai agora pro apartamento dele, e se Deus quiser a última coisa que vocês vão fazer é conversar... — Ela sorri com malícia, idiota.

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