O Harém

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  Uma coisa a se falar sobre aquele pequeno grupo de guerreiros mal-encarados e ladrões de bruxas e príncipes alheios: Eles montavam tendas duas vezes ao dia, uma para o almoço – que era farto mesmo para nós dois "sequestrados' - e outro para dormir durante a noite.

Eu e o segundo príncipe, agora chamado pelos homens de espadachim, tínhamos nossa própria tenda e embora vigiados, depois do segundo dia, não nos prenderam mais. Quando eu estranhei, L'Oreal Paris respondeu com cara de poker:

— Atravessamos a fronteira, estamos em terras Khihat, não fugiríamos nem se pudéssemos ficar invisíveis.

Eu entendi e concordava, a fama de Khihat sempre o precedeu. Era o reino mais fortemente armado, guardado, cheio de fortes avançados e metade do reino era cercado por cadeias de montanhas naturais. Já em algumas cidades mais próximas da capital ao sul, eram muradas.

Era o maior reino em extensão territorial devido a grande divisão de dois milênios e meio atrás e o único que possuía um deserto que ficava no extremo norte.

Fugir dali e passar despercebido nunca aconteceu.

A única coisa que carecia em Khihat era florestas densas, por isso eles sempre se utilizavam do direito de dois dias na floresta dos ancestrais. Já bosques e savanas tinham aos montes.

Nossa viagem se tornou mais tranquila no terceiro dia e quase caí de costas quando disseram naquela noite que estavam parando em uma estalagem e poderíamos nos banhar.

Todos os guerreiros da elite de Khihat se chamavam Jiar Khihat, mas eu internamente apelidei o que nos roubou de Jiar babaca e o babaca aparentemente era o líder dos nove. Então foi ele, Jiar babaca que veio até nós quando desmontamos na frente de uma estalagem até que grande e aparentemente limpinha:

— Sempre ficamos aqui por isso há uma ala para nós, vou levar vocês dois para o quarto e logo as empregadas levam a tina e as roupas limpas. Não devem seguir viagem com esses trajes rústicos de Voyen.

Foi aí que vi pela primeira vez os olhos do príncipe se estreitarem, porém foi rápido e logo ele voltou a cara de poker e falso 'espadachim amansado'. Eu queria dizer que mesmo eles usando roupas de 'guerra', não era lá muito 'elegante', mas fiquei quieta porque eu só queria banho mesmo por enquanto.

Essa coisa de viajar sem banho não era comigo, tinha acabado de perceber.

Entramos na estalagem e assim que meus pés tocaram o chão limpo de madeira polida, eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Foi rápido, mas intenso e automaticamente eu achei a fonte para só então me deparar com olhos negros sobre mim: Era uma mulher pequena que servia uma mesa com dois homens encapuzados. Ela tinha longos cabelos negros trançados e tudo o que pude ver antes que me levassem dali foi a boca dizer sem som: Meia noite.

Eu fiquei sem ar porque sabia que eu era a única que senti e que vi e aquilo era magia...

A mulher pequena era uma bruxa?

"Os olhos são a janela da alma e uma bruxa sempre reconhecerá a outra, sempre."

Antura sempre dizia isso, sempre e dizia também que quando eu encontrasse uma, eu também seria reconhecida.

"Seus olhos são únicos, não há essa cor nesse mundo, então mesmo sem saberem da profecia, bruxas que cruzarem seu caminho saberão que você é alguém a se proteger e ajudar. A linha do seu destino perpassa a magia ancestral."

Essa era outra das frases dela, por isso sempre preferi deixar meus olhos âmbar encobertos por magia de engano simples. Todos que me olhavam viam apenas uma leve cor amarronzada, nunca a cor real. Foi a magia básica que mais dominei em meus dias de estudos e nunca deixava cair o manto do engano.

A bruxa dos reisOnde histórias criam vida. Descubra agora