Lar

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  A tal casa de campo me lembrava e muito aqueles assentamentos orientais que eu via em alguns filmes asiáticos quando criança, mas a colina em que estava o lugar era verdejante e havia um longo rio cortando um dos lados do lugar e formando um lago mais ao longe.

Eram tendas e havia algumas delas cercando a maior, ao centro e que ostentava no seu mais alto ponto a bandeira do reino de Khihat. Também dava para ver ao longe, naquele final de tarde, já que cavalgamos durante certo tempo em direção ao sul, um rebanho de ovelha e outro que parecia ser cavalos pequenos.

Sem dúvida não dava para argumentar que era mesmo alguma espécie de casa de campo ali...

Estávamos em quatro cavalos: Eu com o rei, Daniel com Xukun, Mujin com Apsara e um outro que trazia três baús em uma carroça com um dos Jiar.

Jiar Jahan ficou para trás, fazendo a tal faxina e eu tinha era pena dos que estavam envolvidos, a cara dele parecia quase tão sanguinária quanto a do rei antes de pegar a estrada, mas pelo visto ele gostava daquilo e o humor já estava bom quando chegamos no lugar.

Quando atravessamos uma espécie de arco e nos aproximamos do assentamento, eu notei que havia soldados ali, mas eles se vestiam com menos armaduras do que vi no palácio e todos os que nos viam se curvaram para o rei com inclusive pequenos sorrisos.

Uns até cumprimentavam Apsara pelo nome. Era como... Sei lá, vizinhos. A aura do lugar era parecida com lar, algo que eu não tinha visto até ali.

Paramos na frente da Tenda maior e logo um rapaz, na verdade devia ser adolescente pela cara, saiu da imensa tenda vindo até o garanhão negro do rei e dando tapinhas amistosos no animal enquanto olhava para o rei como se fosse sua pessoa preferida no mundo:

— Seja bem-vindo de volta, meu amo. Eu já preparei tudo para seus consortes.

— Art, estes são Daniel, Xukun e Morena, eles são seus novos amos agora, sirva-os como me serve, entendeu?

— Com certeza, meu amo.

Ele disse sorridente e eu juro que não senti que era como se ele desse uma ordem como dava no palácio, era mais como uma dica mesmo. Evitei encarar o rei muito chocada enquanto ele desmontava e logo me ajudava a fazer o mesmo porque sinceramente aquele cavalo era imenso e eu jamais ia subir e descer nele sozinha, óbvio.

Então todo mundo desmontou e Apsara disse ao Mujin que ia levar ele até os aposentos dele e saiu para o lado, sendo seguido pelo moço da carroça e ficamos apenas nós ali enquanto o sol se deitava próximo do horizonte:

— Vamos, vamos, espero que gostem do que jeito que eu arrumei a tenda, meus amos, mas se quiserem algo diferente basta pedir, sei que foram interrompidos na Balayi e que os espíritos tenham pena no culpado e todo o azar sobre ele, mas tenho certeza de que ficarão melhor aqui e não querendo achar que em casa é melhor do que lá naquele monte de pedras, mas sinceramente, uma Balayi merece o ar puro e tudo isso, o amo...

— Chega, Art, eles entenderam.

Até o corte do rei para o jovenzinho animado e falante foi de forma suave e eu realmente quase mordi a língua para não soltar um 'foi abduzido, só pode'. Entramos na tenda e logo minha atenção foi toda para o lugar que era não só bonito, elegante, obviamente masculino, mas acima de tudo tinha mesmo a aura de lar. Havia velas em candelabros no alto e um fogo baixo no meio, em uma espécie de lareira redonda no chão que tinha uma saída de fumaça bem tecnológica, sinceramente. Ali havia uma cama grande a um canto, tapetes felpudos próximo dela, uma mesa de madeira elegante e cheia de papéis e tinteiro, com cadeira de espaldar do outro lado, baús, um mapa do mundo todo na outra parede circular e uma maquete sobre uma outra mesa do outro canto, cadeiras, divãs e até mesmo uma mesinha de cabeceira de cama com uma mini ovelha em cima como enfeite.

A bruxa dos reisOnde histórias criam vida. Descubra agora