Três reis para todos governar

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A viagem até a cidade do tal lorde importante que o homem do broche Voyen servia não era tão distante da Cidade de Ninguém, mas era bem adentro do reino de Voyen. E uma coisa a se dizer sobre o meu 'motorista de cavalo': O homem parecia uma máquina de corrida e seu cavalo não ficava muito atrás.

Por cinco dias e cinco noites nós cavalgamos quase sem parar, as pausas eram curtas para comida – Ele tinha uma bolsa digna de hobbits – Uso de banheiro – A vida ali no mundo do treze era bem medieval e isso significava que matinho era o luxo do momento – E nada mais. Eu cochilava na cela a frente do homem e ele parecia desprovido da necessidade de sono como um humano comum. Porém uma tempestade nos pegou no meio da tarde do sexto dia e tivemos que nos abrigar em uma caverna não muito distante da estrada que seguíamos rumo a um eterno norte que já não me interessava muito de todo modo.

Eu tinha o mapa daquele mundo gravado na minha cabeça a essa altura, porque minha mestra adorava me enfiar a geografia goela abaixo, mas uma coisa era ver mapas e achar legalzinho as anotações dos reinos, áreas, oceanos e floresta além de nomes de cidades importantes, outra bem diferente era estar ao vivo no meio da estrada cavalgando que nem maluca...

E eu resmungava internamente sobre pessoas doidas apressadas quando ele me estendeu a bolsinha de água com um olhar sombrio:

— Vamos ficar aqui por essa noite.

— Finalmente!

Disse sem me conter erguendo as mãos para o alto e me jogando no chão um pouco dramática, confesso. E foi aí que vi a primeira reação facial daquele homem, era um discreto sorriso de canto que verdade fosse dita, o deixou ainda mais bonito:

— Nunca pegou nenhuma estrada além da curta distância da floresta para a Cidade de Ninguém, não é?

— E nem quero mais, que horror! Sinceramente vocês deviam desenvolver outro método de viagem sabe, um avião, sei lá...

— Avião?

— Ah esquece, é bobagem.

— Vocês, bruxas, são muito estranhas.

— Falou o cara que não dorme.

Ficamos nos encarando até ele assentir:

— Realmente, em tempos de guerra o hábito de dormir se torna um problema.

— Cara, você vive em guerra desde que nasceu, uma hora vai ter que dormir direito.

Comentei o óbvio, ele me encarou mais fixo e assentiu:

— Esse é o plano.

— Hein?

Não entendi a colocação dele, mas sinceramente eu estava exausta e só queria dormir mesmo e já que as cobertas que tínhamos estavam ensopadas, o jeito foi fingir que estava na minha caminha e fechar os olhos fazendo do meu braço um travesseiro e imaginar que o chão duro de rocha fosse macio. Eu queria um banho e cerveja, mas sabia que não ia ter nenhuma das duas coisas nos próximos dias.

— Qual o seu nome?

A pergunta dele veio do nada e eu fiquei um pouco chocada, afinal não falávamos quase nada desde o início lá na feira ao ponto de até me esquecer que ele não sabia meu nome nem eu o dele. Hummmm:

— Morena. E o seu?

— Mujin – Escutei ele se mover até ficar em silêncio e soube que ele foi se deitar na entrada da caverna – Não falta muito agora, mais dois dias se o tempo estiver bom.

— Esse... Homem com a gripe contínua – Usei o termo que eles usavam – Ele é seu senhor, amigo...?

— Ambas as coisas.

A bruxa dos reisOnde histórias criam vida. Descubra agora