O plano

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  Saímos da ala do harém que já era imensa para um corredor amplo e depois atravessamos outros cômodos até chegar em um salão ainda mais imenso. No alto o teto era arredondado com vitrais do tipo igreja gótica, porém as imagens eram de batalhas vencidas e um céu escarlate.

Eu e o príncipe íamos atrás do rei com uma certa distância e enquanto eu cedia a minha curiosidade para olhar tudo ao redor, meu companheiro de viagem parecia imerso em pensamentos até que o guerreiro Jiar babaca que nos trouxe até ali veio para ficar ao lado do rei e me dei conta que ele tinha parado em uma espécie de mureta. Demorei alguns segundos para me dar conta que estávamos em algum tipo de varanda dentro do salão redondo e assim que dei mais alguns passos a frente, percebi que havia uma multidão lá embaixo... O salão era em níveis...

— Porque tão imenso...?

Murmurei confusa, a voz do príncipe ao meu lado saiu um pouco seca:

— Khihat é a mais rica dos três reinos e nunca fez questão de fingir que não era, isso daqui é apenas o ápice da demonstração dessa riqueza.

— Ah...

Então fez se silêncio - Havia conversas até o rei subir naquela espécie de palanque que avançava salão acima – e eu entendi que ele faria algum discurso. E acertei quando o vi sorrir para todos lá embaixo:

— Primeiramente gostaria de agradecer a todos que atenderam ao meu chamado e convocação, hoje é um dia de festa, mas também de união e gostaria que todos os presentes nesse evento repassassem minhas palavras por todos os cantos de nosso mundo, pois hoje, eu desejo que tenhamos mais dias de paz do que dias de guerra. Sei que estão se perguntando há meses quais foram os meus intentos a oferecer um baile desse porte e para todas as donzelas do nosso vasto mundo; contudo espero que saiam de minha casa sabendo que meus desejos são parecidos com os seus, de que todos tenhamos mais tranquilidade para viver nossas vidas deste dia em diante, assim não vou me alongar e direi às claras o que desejo, não só uma pessoa para governar ao meu lado, mas alguém capaz de unir o nosso mundo... Ao meu lado... – Nisso ele cruzou as mãos para trás e eu senti uma respiração pesada do príncipe que agora estava um passo a frente de mim. Ele me olhou de canto e parecia um pouco pálido. Eu não entendi, mas antes que perguntasse, o rei continuou – De início meus planos eram mais singelos, porém os ventos me abençoaram com graças as quais não esperava, portanto me sinto benevolente para estender minha oferta não apenas as donzelas, mas também aos seus acompanhantes; nossos ancestrais, antes da guerra, se uniam a homens ou mulheres sem distinção de gênero e eu pretendo honrar meus antepassados seguindo a mesma diretriz, sendo assim todo aquele que desejar se tornar meu consorte, eu analisarei o pedido. Minha única exigência para a pessoa que ocupará o trono de Khihat e do mundo ao meu lado é que sejam compatíveis a mim.

— Desgraçado...

A voz soou baixa e furiosa e aos poucos eu fui entendendo a cólera de sua alteza... Parecia alguma espécie de plano... Além disso, de repente o silêncio foi sendo tomado por sons de assombro, sussurros e ofegos. Além de um burburinho quase ensurdecedor embora ainda fossem sussurros.

Eu olhei do príncipe para o rei que ainda estava de costas para nós, cercado pelo que parecia agora aos meus olhos, ser seu fiel guarda costas, Jiar babaca.

Logo ele prosseguiu em tom ameno:

— Espero que se divirtam neste baile e que ao fim da noite eu seja agraciado por uma beleza e astucia tão única que possa atingir meu coração e meus olhos.

O rei saiu do palanque estranho e veio para nós com um sorriso pacífico.

Sua alteza ao meu lado fechava os punhos como se estivesse fazendo um esforço imenso de se controlar. Ao nosso redor não havia ninguém, apenas nós três e o Jiar.

A bruxa dos reisOnde histórias criam vida. Descubra agora