006. - Sem filtro.

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Luiza foi para casa naquela noite bastante mexida, se culpando por ter reparado e pior, verbalizado aquelas coisas sobre Valentina na presença dela. Era péssimo, nunca tinha acontecido isso e não ia se deixar vacilar mais uma vez. O foco era um só, o trabalho, a conclusão dele e a sua tão almejada promoção. Contudo, a cabeça gritava uma coisa e o corpo outra completamente diferente, era uma grande batalha interna que ela venceria, nem que precisasse se apagar para parar de pensar nos olhos, no corpo e na boca, principalmente na boca de Valentina. Deixando-se relaxar em sua cama, ela abriu a imagem que a policial tinha mandado de lingerie dias atrás e sua mente voou para não um dia qualquer, mas sim o dia que a dona dos olhos verdes mais bonitos que já viu, estava doente e queimando de febre ao seu lado. Luiza lembrou de como foi acordar no meio da madrugada para chamá-la para tomar o remédio e riu, ela não fazia aquilo nem por si mesma e nem por Matheus, mas na ocasião não se importou em acordar às 3h00 da manhã para oferecer o comprimido para a outra mulher, que já estava bem melhor da febre. Balançou a cabeça em negação ao lembrar da sensação de voltar a dormir ao lado dela após perder um tempo observando seus traços delicados.

Acordar aquele dia ao lado de sua parceira de trabalho, foi minimamente estranho. Valentina pouco disse de um modo claro que gostaria que ela fosse embora, no entanto estamos falando de Luiza aqui, que sendo esperta e zero adepta de meias palavras, entendeu o recado e foi embora assim que acabaram de decidir as coisas mais pontuais do trabalho. Depois disso não houve comentários do ocorrido, a não ser por Valentina ter lhe agradecido pelo cuidado dias depois.

E não se trata de fingir esquecimento, aquela situação também tinha desconcertado a agente, mais do que deveria. No primeiro momento que Luiza saiu porta afora, ela respirou fundo e aliviada, estava se sentindo sufocada pelos olhares dela e por tanto cuidado, não estava acostumada com isso. Sempre se virou muito bem sozinha, mesmo com uma febre ou com a porcaria de uma gripe. Luiza tinha estado presente demais, próxima demais, perigoso demais. Saiu de seus pensamentos assim que seu celular tocou, era Igor, seu único e melhor amigo, sentia falta dele.

— Ai que saudades! — Foi a primeira coisa que falou ao ouvir seu cumprimento do outro lado da linha.

Sabia que minha ligação seria útil. — Respondeu — Pode falar o que houve?

— Você não imagina...

Igor melhor do que ninguém ia saber ajudá-la a pôr as ideias no lugar, com certeza. Ele tinha que saber, dever de melhor amigo.

...

Eram 23h00 quando a agente Valentina adentrou na boate lotada de gente, cheirando a luxúria e que hoje para ela também tinha outro cheiro, o de ódio se assim podemos dizer. Ao contrário do que fazia sempre, dessa vez ela não foi ao bar conversar com seus muitos amigos garçons e barmans, e sim na direção onde estava Luiza com um cliente velho e nojento, mas que não tocava nela, inclusive tinha até uma distância entre eles. Nos últimos dias depois do acontecido com Jéssica, ela estava em mais alta conta ali, afinal ninguém nunca tinha conseguido estar com a mulher do chefe sem que ele soubesse obviamente, e ela tinha conseguido essa proeza, então todos queriam saber como ela era, e principalmente os de maior poder aquisitivo. No entanto ela como sempre inventou uma mentira que não a fizesse perder os clientes, mas também que não deixasse de ganhar dinheiro. Inventou uma história com doença contagiosa, mas que ainda assim precisava trabalhar para mandar dinheiro para casa, e os homens caiam, mediante a choramingos e beijos rápidos. Valentina pigarreou e Luiza logo sinalizou ao outro que ela era a sua "dona", e então o homem as deixou, indo procurar diversão com outra.

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