010. - A casa caiu.

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Já que tudo é uma questão de perspectiva, porque a dela estava tão voltada para o escuro e negativo da confusão? Valentina pensou assim que se viu dentro de sua casa, trancada sozinha com seus pensamentos, não é como se tivesse ódio e repulsa por Luiza, pois é justo o contrário, no entanto aquelas palavras da outra policial a tinha assustado aos montes, veja ninguém nunca fez isso por ela, ninguém nunca abriu mão de nada para que ela fosse favorecida de alguma maneira. Nunca. As únicas pessoas que faziam isso quando possível, tinham morrido anos atrás em um acidente horrível. Então é completamente compreensível esse assombro por parte dela, já que há muito tempo ela esteve sozinha fazendo as coisas por si mesma.

— Que saudades mãe, — ela começou a divagar para as paredes — a falta que faz seu colo agora me dói. A senhora com certeza ia saber me dizer o que fazer, eu não posso simplesmente aceitar que ela mude sua vida por mim e me entregar a isso, porque se um dia a Luiza cansar, eu vou voltar para o meu limbo e definitivamente eu não desejo mais viver isso, já doeu uma vez, não acho que eu mereça passar por isso de novo.

Ela se permitiu viver aquele medo naquele momento, pouco se importando com o fato de estar deitada no sofá com a roupa da rua de um dia inteiro ou de que precisava estar bem para o que iriam enfrentar dali dois dias. E isso a fez se assombrar um tanto mais, Luiza ia voltar para o Rio de Janeiro, e ia mesmo terminar o casamento ou foi só um blefe para fazer com que ela se deixasse levar por todas as palavras ditas? Que inferno! Em hipótese alguma ela tinha que se preocupar com isso agora, seus sentimentos não eram prioridade no momento. Luiza não era. Seu trabalho sério na polícia, era, pronto.

No cidade jardim, Luiza tinha seus pensamentos todos focado na operação, depois que Valentina saiu e ela entendeu a necessidade de respeitar o tempo e o espaço dela e de colocar as próprias ideias no lugar, ela decidiu que iria estudar um pouco, ler tudo o que tinham até agora sobre a investigação e se certificar de que nada tenha sido deixado para trás. No entanto as voltas da leitura sua mente voou até Valentina, não a quem ela estava apaixonada, mas naquele momento, na policial federal que foi parceira dela durante esses meses, e no quanto ela era boa, fiel e honesta à polícia, exceto claro, o fato de ter uma arma de numeração raspada, riu ao se lembrar disso, a de olhos verdes era escorregadia como ela, e por isso se deram tão bem, bem além da conta.

E por um instante pensou em como seu pai iria gostar de conhecê-la, Augusto era um homem bom e reto, nunca soube de nada que pudesse ir contra a excelente imagem que seu pai tinha, então certeza que ele ia gostar de conhecer Valentina, imaginou os dois trocando figurinhas sobre os casos em um café qualquer em sua casa, gostou muito do que sua mente projetou, uma pena que foi sabotada pela realidade que a trouxe de volta depois de ouvir um barulho qualquer vindo da rua. Assustou-se por um momento e depois sorriu.

— É Luiza Campos, parece que você foi pega! — Divagou com um sorriso tímido no rosto — Pior que foi como a moça da música de Alceu, bonita e de olhar agateado. Só espero que ela não despedace ainda mais o meu coração...

Com essas palavras em mente, a carioca entendeu que já era hora de dormir, o famoso dormir para não pensar, porque o que mais estava fazendo era deixar seus pensamentos o mais longe possível, se questionando sobre o que tinha feito de errado para ter recebido aquela reação de Valentina, qual seria o medo dela? O que poderia fazer para lhe causar menos dano? E descobriu que não ia conseguir dar conta de saber aquilo sozinha, então o melhor mesmo era dormir.

Era, mas não foi exatamente o que aconteceu, Luiza revirou na cama diversas vezes e desistiu de dormir, antes precisava ser insistente ou sua cabeça ia explodir. E que sua mãe a perdoasse, ela ia insistir mesmo. A pensar que todo aquele trabalho de meses estava prestes a acabar, e com o risco de perder o contato com Valentina, que ela sabia que era bem capaz de sumir e ela não queria isso de forma alguma. Estava difícil para ela mesma se entender dentro daquele monte de sentimentos, e sendo adulta como sua mãe falou e ao mesmo tempo sendo imatura como sua consciência ela insistiu:

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