012. - Resplandecer.

2.7K 310 81
                                    



Depois que Valentina foi embora, o dia de Luiza se arrastou, tudo pareceu vazio sem vida, devagar mesmo. E ela sabia muito bem o porque disso, e se colocou à pensar em como iria começar a colocar em prática a sua decisão de divorciar-se de Matheus, primeiro por conta de seus sentimentos e segundo porque ela, Luiza, não acreditava em relacionamentos a distância, e a primeira coisa que seu marido disse quando ela avisou da promoção e mudança para a capital paulista, foi que não iria conseguir ir com ela. Segundo Matheus, ele não ia conseguir abdicar da sua empresa para viver atrás dela e de certa maneira, Luiza agradeceu, fez parecer que tudo poderia ser mais fácil e menos doloroso.

Matheus sempre voltava em casa para almoçar, era praticamente um ritual que eles mantinham pelo menos nos dias que Luiza também conseguia estar em casa em seus dias de folga de plantão, então ela pensou que aquela era uma ótima oportunidade para arrancar de uma vez o curativo de seu marido, ela precisava se desfazer daquela história para conseguir começar a outra sem amarras e mais mentiras. Luiza envolvida por seus pensamentos organizou um almoço simples e até pediu a sobremesa favorita de Matheus pelo delivery, não tinha a necessidade de ser grosseira com ele, eram adultos e saberiam conversar numa boa, assim ela esperava. Então não custava nada deixar o ambiente confortável e porque não com a ajuda de uma comida confortável? Arrumou tudo o que precisava e como conhecia os horários dele, correu para se banhar e aguardá-lo. Assim o fez, e às 13h30 ele atravessou a porta de casa sorridente e cortês como sempre.

— Lu? Tô em casa! — Anunciou atravessando a ampla sala de sua casa. — Como você está? Como passou a manhã?

Quis saber depois de cumprimenta-la com um abraço ela estava na varanda, no mesmo sofá que antes ocupou com Valentina.

— Passei bem! E você? — Fez uma pausa para travar a saliva e criar coragem. — A gente pode almoçar? Depois eu preciso conversar com você!

— Claro! — Afirmou — Deixa eu só me lavar e a gente almoça. Está tudo bem mesmo, Lu?

— Tudo sim! Eu só preciso falar algumas coisas com você! — Sorriu — Mas vai lá, enquanto isso eu esquento a comida.

Matheus assentiu e foi na direção do corredor dos outros cômodos e Luiza foi mesmo arrumar a comida e colocá-la na mesa da varanda, não batia sol naquele horário, era ótimo. Assim que terminou sentou para esperar por ele, seu corpo já dava sinais de ansiedade, pernas balançando, mãos suando, estava nervosa tinha ciência de que não seria uma conversa fácil, mas essa mesma ansiedade gritava para que ela pusesse logo um fim nessa situação. Seu marido voltou e os dois começaram a comer com calma, conversando amenidades como era o costume entre eles, e Luiza começou a pensar que apesar de tudo, eles não eram estranhos um com o outro, tinham uma boa relação, mas que infelizmente para Matheus, já não era mais amor por parte dela, ou talvez nunca tenha sido só amor. Terminaram de comer e Luiza aclarou a garganta por cerca de três vezes, precisava começar.

— O que foi, Luiza? — Matheus se antecipou — Você não está bem, está nervosa?

— Matheus... — Mais um suspiro e um gole longo d'água. — Eu preciso mesmo te contar umas coisas, você por favor espera eu terminar de falar e depois decide o que vai fazer, pode ser?

— É... Sim, tudo bem! — Respondeu meio ressabiado.

Luiza tomou fôlego, se não quisesse estar bem o suficiente teria contato com a ajuda de coragem líquida que uma bebida alcoólica dá, mas preferiu não escolher essa opção.

— Então, você sabe, eu fui lá trabalhar na operação de Campo Grande, e eu conheci uma pessoa lá, muito legal, gente boa, parceira e que foi minha dupla durante esses três meses. — Matheus acompanhava em silêncio e ela falava devagar e em pausas. Coragem. — E no meio desse trabalho, eu acabei me aproximando bastante dessa pessoa, como eu falei, somos dupla, e quase sempre estávamos juntas... — Ele fez um gesto e Luiza respirou fundo — e Matheus por favor, me escuta, me deixa falar. Eu acabei me envolvendo, — fechou os olhos sua garganta queimava, estava receosa pela reação dele. — e eu me apaixonei por ela. — Luiza encarou o homem à sua frente e viu seu rosto assumir uma coloração vermelha forte, ele passou a mão direita pelo rosto três vezes e resfolegou. — Me desculpa! — Pediu sincera. — Nunca foi a minha intenção, mas aconteceu. Desculpa!

Enigma.Onde histórias criam vida. Descubra agora