Extra - Valentina.

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Esse extra retrata um pouco sobre a relação da Valen, com as suas questões familiares e como ela emprega a saudade e o luto.
Espero que gostem.

Quando meus pais morreram, eu tive que tentar ser o mais prática e objetiva possível. No entanto eu não vivi o meu luto como deveria e precisava, isso é algo que me consome até os dias atuais. No entanto alguma coisa dentro de mim despertou para o fato de que eu tinha duas escolhas, viver sob esse luto e me deixar imergir por ele presa em Teresópolis, sem mais nenhum norte ou andar com a minha vida e ser útil para mim, no caso de não morrer junto, e para os outros que assim como eu perderam os pais ou nunca tiveram eles. Foi por isso que eu decidi investir todo dinheiro da loja em ONGs e abrigos infantis. Com aquilo eu acreditei, que eu pude ajudar outras crianças e adolescentes, a terem um mínimo de conforto possível dentro das possibilidades.

Também foi uma maneira de dar sentido ao dinheiro que sai das lojas, no entanto precisa fechar uma por conta de falta de pessoal, e eu definitivamente não queria lidar com isso. Então deixei sua principal aberto, e todo dinheiro arrecadado parte vão para essas ONGs e abrigos e os outros obviamente para pagar os funcionários. Foi dessa maneira que eu vi dar sentido a tudo aquilo que os meus pais fizeram durante toda a vida deles. Sem precisar viver com esse dinheiro que me faz mal depois de tudo ter acontecido. A escolha foi feita com muito cuidado, muito carinho e pesquisa, escolhi lugares importantes do Rio e de Teresópolis para focar essa ajuda, e não é sempre, mas quando dá gosto de estar perto visitar e me fazer presente, além da ajuda financeira.

Entre uma conversa e outra, Luiza pediu para que eu falasse mais sobre essas ações e depois de explicar em detalhes, prometi que iríamos juntas na Casa Santa Ignez, que fica na Gávea e numa oportunidade que tivemos fomos às duas até lá depois de agendar uma visita com a coordenadora. Funciona desse da seguinte maneira: atende diariamente 250 crianças do Parque da Cidade e da Rocinha entre creche e jardim de infância e reforço escolar, além de oficinas e outras atividades, de 2 a 5 e de 6 a 11 anos. Depois da casa de Teresópolis, essa foi a minha prioridade na escolha, por poder somar com tanta gente boa.

— Nossa! Até é enorme. — Minha namorada comentou enquanto observava os cantos arborizados da área externa. — Muito bonito, eu moro perto e não conhecia.

— É muito lindo, bem cuidado! — Respondi com entusiasmo. — Oi, Ana! — Sorri recebendo o abraço carinhoso da coordenadora da Casa.

— Valentina! Ótimo te ver, fiquei muito feliz com a sua ligação. Bem-vinda!

— Imagina, eu que estou radiante de estar aqui. Trouxe a minha namorada, Luiza. Ela estava querendo conhecer a Casa faz tempo.

— bem-vinda, Luiza! — Ana cumprimentou ela com um abraço caloroso — Bom Valentina, você já conhece todo espaço então fique a vontade, qualquer coisa você sabe que pode me encontrar na minha sala.

A senhora nos deixou no meio do pátio e voltou caminhando para dentro do prédio principal, eu aproveitei pra mostrar pra Luiza as salas próximas da entrada e a capela que as crianças podem assistir à missa, e podem caso queiram, fazer catequese. Ainda no andar de baixo eu mostrei as varandas, onde geralmente são feitas as refeições da creche, e a garagem com árvores frutíferas, mangueiras e goiabeiras espalhadas por todo lugar.

— Essa hora os pequenos da creche devem estar em horário de sono, mas a gente sobe e vê pé ante pé eles e os maiores nas oficinas, tá?

— Está bem... Amor, você conhece bem das funcionalidades daqui não é? — Acenei concordando — É longe de Teresópolis, mas você vinha aqui sempre?

— Sim! Eu praticamente trabalhei aqui por alguns meses. — Percebi o olhar de Luiza confuso, e dei uma risadinha. — É amor, por um tempo eu fiquei aqui trabalhando como voluntária, porque eu sabia da existência do projeto e achei que seria interessante conhecer de perto e fiquei.

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