Flashback - O Peso da Sobrevivência

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É difícil explicar o que passamos naqueles campos de batalha. Lembro-me dos gritos ecoando, da escuridão que parecia engolir tudo. Era o médico que todos buscavam quando as coisas ficavam feias. E eu sempre tentava manter a calma, ser o ponto de estabilidade para os feridos. Mas por dentro, estava em pedaços.

Todas aquelas vidas que não consegui salvar, todos os rostos desfigurados e olhares vazios que assombram meus sonhos. Os gritos de dor continuam a ecoar em meus ouvidos mesmo quando o silêncio deveria reinar. Às vezes, sinto que perdi minha humanidade naquele lugar.

Os pesadelos são ininterruptos. Não posso escapar das imagens que invadem minha mente, dos momentos em que minhas mãos não foram suficientes para deter a morte. Acho que é o medo constante de não ser bom o suficiente, de não ter salvado aqueles que confiaram em mim. A angústia é como um fardo que carrego todos os dias.

Mas, mesmo com todas essas cicatrizes, há uma centelha de esperança em mim. Sei que posso fazer a diferença aqui fora, mesmo que não possa apagar o passado. Tenho que encontrar uma maneira de lidar com esses demônios internos, para que eu possa seguir em frente e honrar aqueles que perdemos.

É como se carregasse o peso da sobrevivência, e não espero que um dia consiga encontrar a redenção e a paz que tanto almejo.

Anos depois e os traumas ainda são fantasmas:

Em meio às sombras da noite, James se encontrava em seu pequeno apartamento, em uma cidade que parecia um mundo distante da zona de combate que havia deixado para trás. Os sons da cidade ecoavam como tiros distantes, fazendo sua mente relembrar o caos das batalhas. Os traumas da guerra haviam deixado cicatrizes invisíveis que o atormentavam.

No entanto, o que mais o perturbava era a distorção entre o que era real e o que não era. As memórias de amigos perdidos, momentos de pânico e explosões destrutivas continuavam a assombrá-lo, mas ele não conseguia discernir se os gritos que ouvia à noite eram da cidade ou resquícios de pesadelos.

James se encontrava em um estado de constante alerta, seus sentidos aguçados pela guerra agora distorciam o ambiente cotidiano. Às vezes, a sombra de uma árvore se transformava em um insurgente à espreita, e um caminhão barulhento na rua se assemelhava a um veículo carregado de explosivos.

Sua terapeuta tentava ajudá-lo a distinguir o que era real da ilusão, mas as linhas entre passado e presente, guerra e paz, estavam borradas. James precisava encontrar uma maneira de lidar com essas distorções e reconciliar as realidades que o assombravam, para finalmente encontrar a paz que tanto almejava.

O álcool estava se tornando seu fiel escudeiro, não tem como sentir algo se tiver inconsciente, sua irmã era sua melhor amiga, mas não ter ela próxima estava o deixando mais assombrado com tudo, James via sua irmã mais nova como seu porto, mas a rotina no trabalho estava a deixando afastada, parte dele se orgulhava e muito, mas uma pequena parte estava fazendo pensar que ele nunca foi importante pra ela, o problema era que essa pequena parte misturada com TEPT (transtorno de estresse pós-traumático) e álcool que estava tornando a situação cada vez pior.

As vezes uma palavra mal dita e tudo está em ruínas:

Bucky estava perdido em um turbilhão de emoções, seu transtorno de estresse pós-traumático tornando tudo ainda mais confuso. Ele acreditava que a discussão distorcida havia começado quando sua irmã mais nova, o abandonou para focar no trabalho, deixando-o sozinho para lidar com seus demônios internos.

A discussão que se seguiu foi caótica, Bucky, afligido por seu transtorno, distorcia a realidade. Ele via S/n como a culpada por tê-lo abandonado, não percebendo o erro de seu próprio comportamento.

Para Bucky, aquele momento foi o clímax de sua traição percebida. Ele sentiu como se S/n o tivesse traído primeiro, ao escolher sua carreira em vez da família. A dor era esmagadora, e seu transtorno o deixava incapaz de processar os eventos de maneira objetiva.

Na escuridão de suas memórias e conflitos internos, Bucky se sentia como um homem à deriva, incapaz de encontrar uma saída para o labirinto de sua própria mente. Seu transtorno de estresse pós-traumático havia distorcido sua percepção, tornando-o incapaz de aceitar sua parcela de culpa na situação. E assim, ele continuava, preso em um ciclo de dor e confusão.

— A culpa é sua, sabe disso né? É a porra da culpa sua! – James gritava olhando pra sua irmã mais nova. — Eu precisava de você e você me abandonou.

— Cala a boca, James! CALA A PORRA DA SUA BOCA! – S/n gritava era nítido a mistura de ódio e magoa vindo dela. — Eu te odeio Bucky, eu te odeio como jamais pensei odiar alguém, eu queria não ser sua irmã, eu queria nunca ter conhecido você, eu preferiria que tivesse sido você no lugar do Pietro, ele sim era um irmão de verdade, um homem de verdade e não você, seu falso projeto de homem.

— Irmãzinha, por favor ...

— Eu não sou sua irmã, você é apenas um lixo de ser humano, eu te odeio tanto, sinceramente? Eu sinto NOJO de você. — S/n rebate o pedido do irmão mais velho.

Nesse momento sua mãe entra querendo entender a gritaria, percebendo a alteração dos filhos tenta afastá-los e é quando a última frase foi dita.

— DEVERIA TER SIDO VOCÊ, NÃO ELE, EU TENHO NOJO DE VOCÊ! EU TE ODEIO. – S/n diz ainda irritada e parcialmente magoada com seu irmão.

Mais tarde, o acidente:

Meu mundo desabou naquele momento. A briga com minha irmã, S/n, a pessoa que significava tudo para mim, atingiu dimensões inimagináveis. O transtorno pós-traumático que me assombrava há anos havia distorcido minha capacidade de lidar com conflitos e situações estressantes, e agora eu estava prestes a fazer algo irreparável.

As palavras cruéis que S/n havia proferido cortaram fundo, como lâminas afiadas em minha alma. Ela me disse que me odiava, e essas palavras reverberavam incessantemente em minha mente, enchendo-me de dor e desespero. Eu não conseguia aceitar que a pessoa que sempre esteve ao meu lado, que era meu porto seguro, agora sentisse tal aversão por mim.

Em um acesso de raiva e desespero, saí de casa e peguei o carro. Minha visão estava turva, as lágrimas se misturando com a chuva que caía do lado de fora. Eu não estava em condições de dirigir, mas o transtorno havia me empurrado para um abismo emocional do qual eu não conseguia escapar.

O som da chuva martelando o teto do carro ecoava ensurdecedoramente em meus ouvidos enquanto eu pressionava o acelerador, minhas mãos tremendo no volante. As lágrimas misturavam-se com as gotas de chuva que escorriam pelo para-brisa, distorcendo minha visão do mundo lá fora.

O asfalto escorregadio parecia uma armadilha mortal, e o carro começou a derrapar descontroladamente. Cada guinada do veículo era uma onda de pânico que tomava conta de mim, meu coração batendo descompassado no peito.

O carro, como uma fera indomável, parecia ter vida própria. Ele rodopiava, deslizando de um lado para o outro, em uma dança mortal com o destino. O som metálico dos pneus raspando no asfalto e o som agudo das sirenes se misturavam, criando um turbilhão de caos e desespero.

Em um instante que pareceu uma eternidade, o veículo se inclinou e capotou. O mundo lá fora girava descontroladamente, e eu estava preso em uma montanha-russa de terror. As coisas dentro do carro voavam como projéteis, o interior transformando-se em um turbilhão de destroços.

A sensação de impotência era avassaladora. Cada choque, cada giro, era uma punição por minhas ações impensadas. O medo e a dor se fundiram em uma avalanche de sentimentos, enquanto eu tentava, em vão, encontrar uma saída daquela situação infernal.

E então, tudo ficou escuro. O som, a dor, o medo, tudo se dissipou. O acidente havia silenciado o caos que me consumia, deixando-me em um estado de dormência eterna.

Segredos Revelados - Natasha Romanoff/YouWhere stories live. Discover now