Três

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Quarta feira passou muito depressa.

Um caminhão branco o ultrapassou. Yoongi nem sequer deu uma olhada. O ponteiro no medidor de combustível correu para esquerda no painel, indicando tanque vazio.

— Basta chegar no Edge. — Ele murmurou. — Isso é tudo que eu peço.

O velho Ford roncou, rangendo.

Ele manteve a velocidade a cinquenta quilômetros por hora para economizar o combustível. Ao longe, o sol começava se pôr. Ele estava muito atrasado.

Precisou fazer horas extras hoje, o pagamento era o de sempre, sete dólares a hora. Tiveram uma emergência na fábrica de camisetas.

Algum funcionário descontente pulverizou o chão com um líquido pegajoso que usavam para manter as camisetas no lugar enquanto os desenhos eram pintados nelas. Quando os proprietários perceberam o que havia acontecido e chamaram a Clean-n-Bright, o chão era uma bagunça horrível de todo tipo de sujeira imaginável. Apenas uma coisa removeu o líquido pegajoso, aguarrás.

Ele e Latoya passaram as últimas duas horas engatinhados sobre as mãos e joelhos, limpando o ladrilho de solvente. Seus dedos cheiravam a solvente. O cheiro estava em toda parte, em sua pele, seus cabelos, seus sapatos... Suas costas doíam.

Precisava chegar em casa e tomar um banho. É verdade que trabalhava como faxineiro, mas isso não significava que tivesse que cheirar como um.

Uma pequena parte dele lamentava não ter aceitado o convite de Namjoon. Ele não parecia ser alguém que daria um bom namorado, mas poderia ter sido um amigo. Alguém que morasse fora do Edge para conversar.

Bem, tarde demais, ele lamentou para sim mesmo.

Disse não para ele e teria que se conformar. À frente, a curva familiar da Rodovia Potter surgiu da vegetação. Finalmente. A caminhonete enguiçou.

— Vamos, garoto. Você consegue.

O Ford enguiçou novamente. Yoongi tirou o pé do acelerador, guiando a velha caminhonete em uma curva e deixou que o carro rolasse a estrada até as árvores. Estava a vinte quilômetros por hora agora.

Um pouco mais. Um pouco mais...

Cruzou a fronteira e a magia explodiu dentro dele, enchendo-o de calor. O motor desligou com um leve barulho e Yoongi deixou a caminhonete deslizar pela estrada até o mato enredado. A vegetação se fechou atrás dele. Ele estacionou, saiu, trancou o Ford e deu um tapinha no capô quente.

— Obrigado.

Era o primeiro dia de aula e ele estava sem gasolina. Pelo menos a avó havia concordado em esperar os meninos no final da estrada e ficar de olho neles até que Yoongi chegasse em casa do trabalho. Geralmente os meninos andavam o caminho de volta sozinhos, mas hoje era um dia especial. Eles estariam loucos para contar a alguém tudo o que aconteceu na escola. Yoongi começou a subir a estrada.

Ao seu redor, o bosque ladeava o caminho de terra, árvores imensas trançavam seus galhos escuros e retorcidos, as raízes cobertas com um solo macio de séculos de outono. Vinhas de cavalinha azuis pálidas enfeitavam os galhos. O crepúsculo se escondia entre as árvores. As trepadeiras kudzu, que engolia árvores inteiras no Broken, aqui foram barradas pela fronteira e substituídas pelos musgos do Edge, que abraçavam os troncos das árvores como uma manta de veludo e seguravam flores minúsculas em seus caules finos, lembrando as videiras indianas de variadas cores, roxo brilhante, verde menta, lavanda, rosa. Os aromas de uma dúzia de ervas e especiarias misturadas com um cheiro ligeiramente amargo, espalhava-se pelo ar.

Série Na Borda - Livro 1 - No LimiteOnde histórias criam vida. Descubra agora