Dois

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Nenhum deles disse nada pelo par de pequenos sapatos pretos e azuis nos pés de Yeojun. Eles não eram um Sketches, mas pareciam bastante semelhantes. Para comprar os autênticos Sketches, Yoongi teria que ir ao shopping em Savannah e ele precisava economizar cada gota de gasolina ou não conseguiria vir trabalhar. Ele agachou-se e apertou o bico do tênis com o dedo, procurando os dedos dos pés de Yeojun. Amplo espaço. Yeojun crescia como uma erva daninha e sempre tentava comprar sapatos um pouco maior do que ele precisava.

— Estão muito grandes? Estão desconfortáveis?

Yeojun sacudiu a cabeça.

— Você gostou deles?

Yeojun assentiu.

É uma empresa de calçados casuais, esportivos e infantis.

— Certo. —Disse ele olhando para a etiqueta de preço.

Vinte e sete e noventa e nove. Ele os teria comprado, mesmo se fossem cinquenta.

Os garotos o observavam muito silenciosamente, parados no corredor como um par de gatinhos assustados. Yoongi suspirou.

— Vocês gostariam de olhar os brinquedos?

'Olhar' era a palavra de ordem. Os meninos olhavam fascinados para os bonequinhos de ação em suas armaduras e músculos de plástico colorido. Yoongi os observava no final da prateleira. Não parava de pensar no desconhecido da estrada. Ele não era morador local, tinha certeza disso.

O Edge era uma faixa estreita de terra, cerca de trinta quilômetros de um lado ao outro. Nem sequer tinham uma cidade de verdade, apenas um punhado de casas espalhadas aleatoriamente nos arredores da Floresta, que grandiosamente era chamada de Laporte do Leste. Ele conhecia pessoalmente todos os Edges locais e nunca havia se deparado com ninguém parecido com o 'rei da estrada' antes.

Aqueles olhos não eram algo que ele esqueceria. Se ele não era de Laporte do Leste, provavelmente era do Weird. Com toda certeza não era do Broken. Pessoas do Broken preferiam usar armas no lugar de espadas.

Yoongi mordeu o lábio.

Os Edges, nascidos no Edge como ele, passavam livremente e facilmente entre as fronteiras dos mundos, mas para aqueles que nasciam no Broken, ou aqueles que nasciam no Weird, passar pelas fronteiras do Edge era uma questão bem mais problemática.

Primeiro problema, a maioria das pessoas do Weird e do Broken não conseguiam enxergar além das fronteiras. Se alguém do Broken tentasse segui-lo até a fronteira do Edge, ele sumiria de vista quando cruzasse o limite. Para o perseguidor, em um momento ele estaria lá e então, de repente, desapareceria, e o perseguidor continuaria dirigindo a estrada em seu próprio mundo. Os nascidos no Broken não podiam sentir o limite da fronteira, para eles o Edge simplesmente não existia. Era como um quarto atrás de uma porta que permanecia eternamente fechada. No outro lado, a maioria das pessoas do Weird também não conseguiam sentir a fronteira do Edge e viviam suas vidas normalmente sem nunca saber do estranho lugar ao lado que levava a um mundo ainda mais estranho.

Claro, sempre havia exceções à regra. Algumas pessoas no Broken nasciam com dons da magia. Seus dons ficavam dormentes até que, um dia qualquer, podiam tropeçar em uma estrada desconhecida e decidirem segui-la para ver onde iria dar. Algumas pessoas do Weird também descobriam por acaso a outra dimensão e isso trazia o segundo problema, cruzar a fronteira doía.

Não havia nada que pudessem fazer sobre isso. Pessoas como ele viviam no Edge porque era o único lugar onde podiam manter sua magia. Trabalhavam e estudavam no Broken porque era onde ganhavam a vida, mas enquanto os Edges experimentavam incômodos, desconforto e uma breve pontada de dor durante a travessia, um habitante do Broken ou do Weird agonizariam de dor.

Série Na Borda - Livro 1 - No LimiteOnde histórias criam vida. Descubra agora