Vinte e Quatro

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Yoongi corria em uma lenta marcha pela estrada. Seu corpo doía. Havia claramente sensatez em todo aquele treino que Jungkook fazia pela manhã. Se ele quisesse acompanhá-lo, teria que conseguir correr, mesmo que odiasse com paixão. Ele caminhava muito, mas havia uma grande diferença entre caminhar alguns quilômetros pela estrada e correr pela sua vida. E passar dez horas por dia limpando escritórios não melhorava exatamente sua capacidade atlética. Teria que ser capaz de correr lento sem se cansar tanto também. Conseguia manter bem o ritmo, mas ainda assim, exigia muito dele e se precisasse correr mais rápido agora, a possibilidade estava fora de questão.

Yoongi se lembrou da indignação de Jungkook sobre os meninos não serem capazes de andar a cavalo. Como se todos tivessem um maldito cavalo no Edge. A única razão pela qual ele sabia andar era porque o avô tinha insistido em ficar com Formosa, sua velha égua meio cega.

Yoongi se lembrava de montá-la quando criança. Formosa morreu há alguns anos e o avô nunca a substituiu.

Yoongi se perguntou se o avô Hyeok teria aprovado Jungkook. Ele virou a curva, viu a casa e se preparou. Haveria gritos de raiva e lágrimas. Conseguiria arrastá-los para fora de casa, mas seria preciso algumas duras palavras.

Um homem alto de cabelos escuros saiu dos arbustos e entrou na estrada. Ele usava jeans e uma jaqueta de couro preta sobre uma camiseta desbotada. Olhos selvagens olhavam para ele, brilhando como dois pedaços de âmbar.

Namjoon.

Yoongi parou.

Ele não fez nenhum movimento para se aproximar dele. Seu rosto era sombrio, sua boca era uma linha severa.

— As crianças estão seguras — disse ele. — Eu fiquei de olho nelas.

O medo escorreu pela nuca dele, mas se lembrou de que poderia atacá-lo com seu flash a qualquer momento.

— Por que você está aqui, Namjoon?

Ele balançou sua cabeça.

— Eu não sei.

Yoongi observou seu rosto e viu uma incerteza vazia tingida de cautela. Era exatamente assim que Yeojun se parecia quando tropeçava no território desconhecido das emoções humanas e se perdia, sem saber o que dizer ou fazer a seguir. Se Yeojun servia de indicação, Namjoon estava no seu limite. Ele poderia quebrar e atacar a qualquer momento.

— Venha sentar comigo — disse Yoongi, mantendo a voz calma. — Vamos conversar.

Ele o seguiu até a casa. Yoongi removeu as Pedras de Proteção, deixando-o entrar, e apontou para as cadeiras da varanda. Ele se sentou nos degraus e Yoongi se sentou do outro lado, mantendo distância suficiente entre eles. Yoongi olhou para a janela da cozinha e viu dois rostos. Eles se abaixaram, mas não antes que ele os atingisse com uma cara feia de primeiro nível.

Yoongi olhou para Namjoon. Ele estava em um penhasco emocional, e uma palavra ou atitude errada poderia empurrá-lo. Yoongi já havia conversado mais de uma vez com Yeojun quando ele estava nesse mesmo penhasco. Claro, um menino de oito anos e um assassino treinado de trinta anos eram duas coisas diferentes. Yoongi teria que pisar com muito cuidado. A honestidade era primordial. Yeojun instintivamente sentia suas mentiras, e Namjoon provavelmente faria o mesmo. Era melhor ficar longe de assuntos que pudessem agitá-lo.

— Eu vi você com Jungkook — disse ele. — Vocês dois estão...?

E lá se foram os passos cuidadosos.

— Eu o amo — disse Yoongi.

— Hum. —Ele arrastou a mão pelo cabelo. — Ele te ama?

— Eu não sei. Nós não discutimos isso, então ele não sabe como eu me sinto.

Série Na Borda - Livro 1 - No LimiteOnde histórias criam vida. Descubra agora