Série Na Borda - Livro 1 - No Limite

Oito

Quando acalmaram as crianças e conseguiram tirar Elsie de sua cadeira de balanço e forçá-la a tomar um banho, já passava das sete.

Yoongi percebeu que não conseguiria chegar ao trabalho tão cedo. Seu uniforme fedia a carne gordurosa e queimada, e acabara perdendo a sua carona com Latoya. Ele pegou emprestado o celular de Amy e ligou.

— É melhor você trazer seu traseiro aqui. — A voz de Latoya ganhou um tom estridente. — Emerson está sendo um idiota hoje. Ele disse que ou você aparece agora ou ele rasgará o seu cheque.

— O que ele quis dizer com rasgar o meu cheque?

— Isso significa que ele não vai te pagar por esta semana.

Yoongi endureceu. Não tinha dinheiro para o combustível. Sem a caminhonete, não poderia trocar a moeda de ouro de Jungkook por dólar.

Eles tinham mantimentos suficientes para durar três dias, quatro se ele fosse econômico. Daqui a cinco dias teria que pagar a conta de energia elétrica. Precisava chegar no trabalho de qualquer jeito.

— Estou sem combustível ainda, e levarei cerca de meia hora para me limpar.

— Merda. Eu não posso sair, não me atrevo a irritá-lo ainda mais.

Ele tinha uma ideia do porquê Emerson estava irritado, o contrato do Broemmer. O Broemmer Hotel havia demitido a Clean-n-Bright há duas semanas, porque pegaram Emerson cobrando mais do que devia. Perder esse contrato tinha diminuído os negócios de Emerson em quase um quarto, e ele estava atirando para todos os lados para compensar a frustração de ter perdido dinheiro. Yoongi era um alvo perfeito para isso hoje.

— Certo, espere, tive uma ideia — disse Latoya. — Vamos almoçar cedo. Você pode chegar ao Burger King?

Dez quilômetros. Ele podia andar.

— Sim.

— Comece a andar. Nos encontraremos lá para o almoço e você volta com a gente. Emerson nem vai perceber quando você entrar.

Uma enorme onda de alívio rolou sobre ele.

— Obrigada.

— É para isso que servem os amigos. — Latoya desligou.

— Eu sinto muito por tudo isso — disse Amy.

Yoongi forçou um sorriso.

— Estou feliz de poder ajudar. Sinto muito pela sua casa.

Amy empalideceu um pouco, olhou para a parede que faltava e para o telhado, e forçou um sorriso também, claramente tentando não chorar.

— Não havia outro jeito. Pelo menos estamos todos vivos. Até mesmo vovó.

Yoongi procurou por Elsie Moore e a encontrou no quintal, em uma mesa de piquenique. Elsie usava um vestido novo. Ela havia trançado seu cabelo ralo e estava flertando descaradamente com Jungkook.

— Como isso começou? — Yoongi perguntou.

— Vovó estava fazendo uma daquelas festinhas do chá e algo mastigou um ursinho de pelúcia. Uma dessas criaturas, eu acho. Então ela se trancou no quarto e se amarrou na cadeira. — Amy hesitou. — O que são essas coisas?

Yoongi sacudiu a cabeça. — Nada que eu já vi antes. Talvez ela saiba.

Amy suspirou.

— Se ela sabe, fique à vontade para tentar tirar alguma informação dela. Vovó me acha uma idiota, ela não vai me dizer nada.