Capítulo 4: fim da festa

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Olhou em todas as direções segurando o coração que batia como louco. Como de costume, mordeu o interior de sua bochecha tentando fazer com que a dor tirasse de sua mente o medo, pois sabia que caso sentisse medo, ficaria imóvel. Continuou procurando. Levantou-se, pegou uma adaga de dentro de seu espartilho, e a empunhou.

Foi direto na direção do som.

Como se fosse obra de uma força maligna, ou puro azar, a lua se escondeu entre as nuvens tirando-lhe a visão. E na escuridão algo se escondia. Um leve movimento de sombra vinha da copa de uma roseira.

Segurou firme a adaga, e com a outra mão apoiou seu estômago ainda com náusea.

— Quem está aí??!

Não houve resposta. Mas um leve movimento causou mais som na árvore.

— Quem está aí?! Esse é o meu jardim! Saia ou cortarei sua cabeça!

Só então algo desceu da copa. Seu tamanho era menor do que o esperado, pois não podia nem ser uma criança. A forma negra vem caminhando lentamente, ainda indeciso sobre o que fazer.

— Hades? Hades é você? — Perguntou ela para a figura.

E nisso, ela se aproximou mais rápido. A lua saiu de seu esconderijo revelando quem era.

— Hades! Porque não me falou que era você?

Per perguntou agachando-se para encontrar a criatura, que era um grande corvo de penas lustrosas.

— Per estava triste. Hades não sabia o que dizer. — Falou o animal com sua voz grave.

— Entendo... — Pegou-o colocando no ombro. — Mas nunca mais faça isso, porque eu pensei que você fosse outra pessoa.

— Entendido Per.

A jovem olhou mais uma vez para a árvore onde ficava a lápide, despedindo-se. Não podia visitá-la sempre, e por isso, em datas especiais conversava um tempo com seu falecido irmão.

Depois, os dois saíram dali indo para os aposentos dela.

No caminho começou a reparar em como todo seu corpo estava doendo. Seus pés que estavam esfolados, eram o de menos, pois suas costas e ombros estavam petrificados pela tensão, e por isso, até respirar doía. Assim que viu sua porta, entrou e começou a se despir com a ajuda de Hades.

Um, que estava sempre de prontidão, também veio rápido ajudá-la.

— Vejo que encontrou Hades. — Falou Um terminando de soltar os botões.

— Sim, só não sei ainda porque ele sumiu por tanto tempo.

O animal pulou de seu ombro e empoleirou-se no espelho.

— Estava caçando. — Respondeu o animal se esquivando da pergunta.

As duas o olharam e pensaram que aquele era o animal mais esperto que já tinham visto, tanto que às vezes ele parecia muito humano em suas atitudes, como agora, que sentia culpa por ter sumido da vista de sua dona.

— Tudo bem Hades, você pode ir caçar, só não quero que suma por meses inteiros.

— Sim Per.

— Agora tire o espartilho e me leve para a banheira Um. O dia de hoje foi horrível! Pensei que fosse vomitar o tempo todo. — Exclamou já tentando afrouxar o instrumento de tortura que afinava sua cintura.

— Certo... — Estava receosa. Per olhou-a tentando entender o que havia acontecido. — Mas senhora, e o rapaz? O que devo fazer?

A criada apontou para algo no chão, e só então Perséfone lembrou-se da existência dele, o Atenense. Estava deitado no chão inconsciente, com as roupas rasgadas. Seu tórax e costas tinham cicatrizes que indicavam que Hera tinha brincado um pouco com ele antes de apresentá-lo aos demais.

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