Capítulo 15: promessas

36 8 55
                                    

Suas mãos tremiam ao lerem aquelas palavras escritas com tinta. A mensagem era curta, objetiva, sem enfeites como as que os nobres costumam trocar entre si, quando querem algo em troca, porém tem vergonha de pedir. Seus olhos verdes marejaram enquanto ela mordia a ponta de seu dedo anelar. Depois largou a carta sob a mesa e olhou pela janela respirando fundo.

Não podia fugir daquelas palavras, muito menos daquele remetente que havia mandado tal mensagem, e por isso, colocou-se de pé, mesmo não sabendo o que esperar. Rapidamente, parecendo acordar de um transe, trocou seu vestido de seda por um de tecido de algodão rústico e sem espartilho. Pegou sua bolsa de couro, e amarrou o cabelo loiro em um coque baixo. Olhou-se uma única vez no espelho, reunindo a coragem que precisava para fazer aquilo.

— Minha senhora, onde vai? Precisa de companhia? — Uma criada, de pele morena e sardas no rosto, perguntou ao ver sua mestra aflita.

— Não... não preciso. Gostaria que viesse comigo, mas não posso. Se alguém perguntar por mim, diga que fui à cidade à procura de cordas novas para minha lira.

— Sim senhora.

E nisso, ela se foi. Sem escolta ou companhia, a jovem saiu pela porta de criados, indo ao destino escrito naquela folha. Enquanto isso, a criada, com olhos ávidos por conteúdo para suas fofocas com as outras serventes da mansão, foi "arrumando" o quarto de sua ama, lentamente, chegando perto da carta. "Tirou" pó ali, varreu aqui, e logo chegou na mesa de ler do quarto.

Pegando a chave que ficava em cima do armário, abriu a gaveta da mesa, e retirou a carta. Estava com o coração batendo rápido só de tê-la nas mãos, pois sabia que sua ama havia tido um caso com um escravo, e isso foi o tópico das conversas da criadagem por muitos meses. Agora ela precisava de um novo assunto.

E vendo o nervosismo da garota, pensou que aquele papel continha o que ela precisava.

Abriu-o e devorou rapidamente seu conteúdo.

Olá, queria Dione.

Lembra-se do que te falei da última vez que nos vimos?

Quer que eu mantenha o bico fechado?

Então venha para a praça central hoje, às 17hrs.

Com roupas simples e não traga ninguém.

De sua estimada,

Perséfone Hadesius.

A carta, que parecia ser um tópico de divertimento, era uma ameaça. Ao ler o nome no fim da página, a jovem de sardas abriu novamente a gaveta guardando o papel. Trancou a gaveta, e saiu do quarto. No mesmo dia, pediu com insistência para deixar de servir à sua ama, e foi transferida para o estábulo. Lá o serviço era mais braçal, mas pelo menos ela não teria envolvimento nenhum com a família vermelha.

Ao mesmo tempo, já na praça central, Dione tinha chegado ao lugar combinado.

Ela tremia da cabeça aos pés, pensando nas inúmeras possibilidades do que podia acontecer. E como não via Per em lugar algum, ficou repassando várias vezes sua conversa com aquela mulher, tentando ver se em algum momento tinha ofendido ela, ou a sua família.

O dia ensolarado, a fez suar enquanto esperava. As ruas estavam movimentadas, e por isso, ela não percebeu quando alguém chegou por suas costas, e encostou em seu ombro. Deu pulo de susto, virando-se. Só então viu, aqueles olhos felinos, e o sorriso maroto.

As Quatro FamíliasOnde histórias criam vida. Descubra agora