Capítulo 8: a ceia

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⊙︿⊙ Aviso: esse capítulo contém cenas de violência sexual, por favor não leia se isso for te fazer mal, opte por outra obra.


O som do gramofone tinha um som arranhado quando tocava aquela música. As pessoas rodam, rodam, e rodam umas nos braços das outras. Sorriso nos rosto, lágrimas engolidas, e preces não ditas. O salão estava repleto daquela névoa, um misto de tabaco caro e suor, que entrava nas narizes misturando-se com a colônia dos homens.

Sentia um embrulho na barriga. Havia comida nas mesas, tudo enfeitado com frutas tropicais que são difíceis de se conseguir no continente, como abacaxi e bananas. Além disso, doces, pães, assados e até mesmo um porco inteiro estava na mesa. Mas nada conseguia entrar em seu estômago, pois este se virava de um lado para o outro em uma estranha dança que doía.

Ela se forçava a sorrir enquanto sentia a pesada mão de seu pai em sua cintura. Queria fugir dali o mais rápido possível, mas ainda assim, ficava. Tinha que ficar. Se saísse, todos iriam suspeitar, e ela ainda não era forte o bastante, ainda não era. Orfeu, o pai olhava-a com olhos sedutores que estavam longe de ser paternos, e faziam o embrulho na barriga aumentar.

Ele se abaixou roçando o bigode em seu pescoço para lhe dizer:

— Per querida, fiquei feliz que tenha trazido Calisto, mas sabe que agora me tirou um dos corpos que eu mais gostava.

Nojo. Um lampejo percorreu sua espinha, mas não demonstrou emoção alguma. "Sempre soube que ele era pedófilo... mas Calisto tinha só 10 anos... monstro."

Continuou sorrindo e dançando.

— O que quer dizer com isso, papa? — Respondeu ela, ajeitando a postura.

Orfeu gostava de como ela se fazia de desentendida, como uma cobra ladina, e muitas vezes, o homem pensava se realmente conseguia entender o que se passava na cabeça de Perséfone. Seus olhos castanhos eram portas sempre fechadas para o homem.. Ele olhou para a mesa, onde ao lado das comidas estavam dispostas as cabeças daqueles que perderam suas vidas no tempo livre, e ao ver a de Calisto, suspirou.

Não estava realmente triste, apenas desapontado por ter perdido um dos seus que ele tinha algum apreço, algum sentimento estranho que ele nutria por aquela garota. Se aproximou novamente da filha e sussurrou.

— Você sabe do que falamos Per. Sei que você não tem intimidades com ninguém, mas não poderá se manter assim por muito tempo. — Deu uma pausa em sua fala. — Sou seu pai... tenho direitos.

Novamente seu corpo quase recuou como uma resposta voluntária. Se esforçou por permanecer onde estava e relaxou os músculos que se contraiam. "Velho podre... você nunca vai encostar em mim..." Ela sorriu para ele e beijou sua face.

— Exato papa. Não posso me manter assim por muito tempo. — Sorriu de novo e soltou Orfeu.

A resposta não era uma resposta, nem uma pergunta, e sim apenas a repetição de palavras. Perséfone sabia que ali estava sendo testada, e de acordo com sua resposta, teria uma reação. Nesses momentos, ela sempre dava uma resposta que a nada levava e se afastava.

Por isso, saiu dos braços de Orfeu, indo em direção à porta fugindo. Seu pai, que com outros era explosivo e grosso, permitia que ela tivesse essas atitudes, que saísse sem dar indícios de nada, e ela não sabia o motivo disso. Talvez fosse porque ela era uma cópia de sua mãe, uma das mulheres mais bonitas da Casa Vermelha, ou talvez fosse outro motivo.

Mas naquele dia, ele não deixou. Puxou-a pelo braço segurando-a com força. Seu braço ficou vermelho.

— Papa? — Perguntou calma, mas tinha medo.

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