O ambiente em que entraram era mais glamuroso do que tudo o que poderiam imaginar. Na parede, ouro e veludo vermelho combinavam com o mármore branco, que deixava claro o nível de vida daqueles que ali viviam. Cada canto era adornado por uma peça de arte dos mais conhecidos pintores, o que chamava atenção dos olhos cultos.
No chão, tapetes com intrigantes desenhos. Nos tetos, afrescos de pessoas nuas olhando umas às outras com estranhas fisionomias. A jovem que por aqueles corredores passava, agarrou-se ao braço forte do primo, deixando seu seio roçar ali quando ela procurava aproximar seus lábios aos ouvidos dele, para lhe falar algo indecente sobre o lugar em que entravam. Sua opinião ácida era o divertimento dos dois.
Apesar de seu tédio ser percebido pelo primo, que de hora em hora deixava escapar um estranho sorriso após ouvir seus comentários, em seu rosto havia um sorriso largo. Um sorriso falso.
— Per minha cara, se continuar a me provocar não poderei mais me segurar aqui. — Sussurrou ele aos ouvidos dela.
— E o que fará? Rir alto dessa gente petulante? Pois que faça, melhor do que essa falsa pompa. — Responde ela ríspida.
O que o fez rir novamente. O homem mais velho, que ia à frente do jovem casal, era acompanhado por um oficial real de muita classe, que de hora em hora falava algo desinteressante. Bom, mesmo que dissesse algo interessante, ele não ouviria, pois seus olhos e pensamentos devoravam a jovem que o seguia com uma distância cautelosa.
Era sua filha.
Mas isso nada importava.
O grupo caminhou pelos longos corredores, virando aqui e ali seguindo as instruções do oficial guia. O caminho parecia sempre livre, apesar de ao longe poderem ouvir o som de inúmeras vozes cochichando, algo que era comum e que o grupo estava acostumado a passar devido à atenção que chamavam para si mesmos. Felizmente, não tardaram a chegar ao destino: a sala do banquete.
Pararam frente à uma extensa porta dupla com inúmeros entalhes em ouro que imitavam flores e arabescos. Dois guardas conversaram com o oficial, e logo a passagem foi aberta. Com isso, viram a imensa mesa posta. O jovem casal se direcionou para a direita da mesa, e o homem para a esquerda, sentando-se ao lado das cadeiras que ficavam na ponta.
A maioria dos assentos já estavam preenchidos por pessoas nobres, usando roupas exuberantes de tecido leve ou seda. Muitos estavam tão adornados e maquiados que eram irreconhecíveis, outros, admitindo que não importava o que fizessem não poderiam melhorar sua aparência, apareciam em roupas mais comuns.
O jovem casal cumprimentou um a um em uma caminhada cerimoniática infindável, que a fez sentir seu sorriso tremer de tanto forçá-lo. Quando finalmente se sentaram, seus pés já doíam esfolados pelo sapato que usava. Detestava sapatos novos. Naquele momento, todos os 20 assentos laterais estavam ocupados por condes, duques e duquesas. Todos exceto os 2 que formavam a ponta da mesa.
Aqueles eram os lugares das estrelas da noite.
— Vossa Excelência o Rei se apresenta! — Gritou alto um dos guardas que estava na porta lateral da sala.
Instantes depois, a porta lateral se abriu, e nela um homem de meia idade ao lado de um jovem apareceram. Todos na sala se levantaram de seus acentos e fizeram uma profunda reverência.
O mais velho, tinha o cabelo grisalho longo, que chegava aos ombros, de onde uma longa túnica vermelha e bordada com fios de ouro descia. Seus olhos acinzentados eram vazios e pareciam fitar algo além do lugar em que ele estava. Por baixo de sua túnica, uma roupa completamente branca com calças capri e sapatos de couro.
Já o jovem, ainda muito moço, tinha cabelos castanhos e olhos verdes. Sua pele era clara e repleta de sardas na região do nariz. Seus traços eram elegantes e requintados, muito semelhantes aos do senhor de idade que o acompanhava, No entanto, nele havia um ar humilde, pois suas roupas, apesar de bem feitas, eram mais simples e em tons escuros. Os dois caminharam lado a lado e se sentaram nas cadeiras que estavam vazias.
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As Quatro Famílias
Historical FictionEm uma época em que Reis decidem o futuro de vários, quatro famílias com grande prestígio, executam os trabalhos que uma figura como o Rei não pode fazer. Atenenses, a família azul, conhecida como a família da justiça. Dionísius, família roxa, a cas...