Naquela noite, a lua iluminava a terra com o brilho emprestado do sol, e irradiava sua serenidade. As estrelas acompanhavam em um coro de luzes silencioso, cálido e morno, que fazia quem as olhasse ficar admirado. As nuvens lhes davam licença, e assim, toda aquela beleza podia ser vista daqueles que andavam sob a Terra. No entanto, não havia ninguém para olhar aquela cena.
A solidão e o medo devoravam vagarosamente a sombra de qualquer esperança, deixando os olhos opacos e o coração vazio. O silêncio se unia aos dois, e assim como ele faz quando mais precisamos de coragem, ele nos esmaga e nos torna diminutos. Ainda assim, há aqueles que mesmo no desespero conseguem se mover, talvez por já estarem acostumados com o escuro, ou talvez por que nunca tiveram tanta luz em suas vidas.
Para eles o silêncio não é o desamparo, mas a hora perfeita para agir. Por isso, quando a lua estava em seu ápice no céu, ela começou a se mover. No breu da sala, nada podia ver, mas isso não fazia diferença alguma para ela, que sempre viveu no escuro. Com agilidade, mordeu a ponta e seu dedo indicador quebrando a unha, e retirando uma parte da mesma. O espaço desprotegido começou a sangrar, mas ela não tinha tempo para sentir dor.
Colocou rapidamente pedaço de unha no cadeado que a prendia em uma pequena cela, e começou a girá-lo, prestando atenção ao som que o interior do mesmo fazia. Já tinha escapado de prisões muitas vezes, pois ser vendida como escrava era algo que sempre fez parte de sua vida, desde os 5 anos.
Por isso, não demorou para que o cadeado fizesse um leve "TIC" e soltasse se abrindo.
— Anesha? Foi você que fez esse barulho?
Perguntou uma voz na escuridão.
— Sim... destranquei a minha cela... eu vou sair daqui. — Respondeu já abrindo a grade de metal que a prendia.
— Espera! E a gente!?
Anesha lançou-se da jaula que ficava presa no teto da sala, caindo no chão com um ruído seco. Alguns arranhados começaram a arder em sua pele, e seu tornozelo gritava de dor, pois estava torcido. Contudo, ela logo se levantou colocando as mãos na sua frente para medir o espaço em que estava.
— Anesha! Me desculpa por ter duvidado de você antes! Por favor, tira a gente daqui! — Suplicou a mesma voz novamente.
— Um quieta! Eu não posso tirar vocês duas daqui... não tem como eu subir até a jaula de vocês! — Respondeu a garota em um sussurro gritado.
— Vai nos abandonar aqui?! — Disse um tanto irritada, e aumentando o tom de voz.
— Shhss! Quieta! Claro que não, a Senhora Perséfone não me aceitaria novamente se eu as abandonasse. Eu vou descobrir uma saída, e depois volto.
Um e Dois, que podiam ver um pouco da silhueta de Anesha andando na sala, se entreolharam com a dúvida de se a veriam novamente. Tinham pouca fé e esperança na jovem ainda desconhecida, e ela sabia disso, mas não se importava. Rapidamente, como se tivesse decorado os móveis do ambiente, foi até onde Hélio estava amarrado, e checou seu estado.
O rapaz estava febril e delirante, mas ainda vivia. Pegou um pouco de água de um vaso de flores que a empregada de Hera havia trazido durante o dia, e o fez beber. "Pelo menos ele não vai morrer... não até amanhã..." Pensou ela tentando se tranquilizar.
Depois secou um pouco do suor, e foi até a porta de saída do cômodo. Sem fazer barulho, girou a maçaneta e empurrou a superfície metálica com toda a sua força. Mas esta não se abriu.
— Está trancada! — Sussurrou para si mesma indignada.
— O que disse? — Perguntou Dois.
— Está trancada! E agora? O que faço?
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As Quatro Famílias
Historical FictionEm uma época em que Reis decidem o futuro de vários, quatro famílias com grande prestígio, executam os trabalhos que uma figura como o Rei não pode fazer. Atenenses, a família azul, conhecida como a família da justiça. Dionísius, família roxa, a cas...