Capítulo 10: limpando o lixo

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— Bom dia! 

Foi a primeira coisa que Hélio ouviu quando abriu os olhos. Perséfone já estava de pé, e Um a ajudava a se vestir atrás de um largo biombo de madeira. Hélio procurou onde estava a dona daquela voz, e encontrou a mãozinha acenando acima de um painel de trocar roupa. Ele ainda estava sonolento, e por isso apenas se virou para o lado e agarrou um travesseiro tapando a luz do sol que penetrava em seu rosto. 

— Não, não, não. Dois, acorde ele, temos que sair daqui a pouco. 

A garota saiu de trás do biombo enfeitado de tecido bordado com flores, usando um belo vestido bege com gola alta e mangas longas. Sentou-se na mesa de refeição que havia no cômodo e estendeu uma jarra de vidro com água para Dois, que prontamente entendeu a tarefa. Despejou o líquido em Hélio, que se debateu no lençol com um peixe, e levantou em protesto. 

— O que é isso?! — Estava assustado e com o cabelo colado na face. 

Per começou a rir do rapaz deixando um pedaço do croissant que comia cair da boca. Mais irritado ainda, foi até a jovem ficando a sua frente com os músculos tensos. Seus braços se abriram como se esperasse uma resposta. 

— Que foi? Acordou de mau humor foi? Não gostou da forma como fizemos ontem? 

A frase o desarmou, deixando-o confuso. Perśefone o olhou de cima a baixo mordendo a massa do croissant lentamente. Seu sorriso indecente fez Hélio olhar para si mesmo e notar que estava quase nu, e com o corpo coberto de marcas de mordidas.

Um baixou os olhos e corou assim como sua irmã, que tentava segurar o riso. 

— O que é isso?! — Perguntou agora se enrolando no lençol da cama. 

— Que foi meu bem? Não me diga que foi a sua primeira vez?! HAHAHAHAHA! — O rapaz tentou dizer algo mas sua boca se movia sem som algum. Ficou vermelho com a ideia do que poderia ter acontecido.

— Você parecia ter gostado na hora. — Completou ela parecendo preocupada.   

Todos no cômodo ficaram em silêncio por alguns instantes, enquanto o Atenense digeria o que lhe era dito. Não sabia mais como agir, pois tirar a honra de alguém, era algo que ele nunca pensou em fazer. Ia contra os preceitos de sua família.

Ela passou um grossa camada de geleia na metade restante da massa que comia e observou como esta escorria lentamente da mesma, molhando os seus dedos. 

— Minha senhora, sei que gosta de se divertir, mas creio que o Atenense está ficando preocupado. — Falou Um colocando mais chá na xícara de Per. 

Os olhos castanhos faiscaram e ela riu baixinho. 

— Você está certa, e temos que nos apressar. Dois, leve Hélio para se vestir atrás do biombo com a roupa que te dei. 

— Sim senhora. — A mesma já empurrava o rapaz para o local, mas este protestou atordoado. 

— Perséfone! Me desculpe se te fiz algo! — Parou e a olhou seriamente. 

Havia temor nele. 

— Hahahahahah! Hélio, você é muito engraçado! — Continuou rindo enquanto falava. — Não aconteceu nada seu bobo…  

— Mas e meu corpo, porque está assim? — Tirou o lençol revelando novamente a pele marcada. 

— Sua pele parecia deliciosa demais. Desculpe. — Falou com indiferença.

— O QUE?! — Comprovando que era ainda possível, a face de Hélio tornou-se ainda mais vermelha, e ele correu para se esconder onde as roupas estavam, ficando apenas sua silhueta vista atrás das flores bordadas do biombo. 

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