O som de ossos estalando foi o primeiro indício do que chegava à sala. Alguns taparam os narizes buscando evitar aquele horrível cheiro de putrefação. No entanto, Perséfone não o fez, estava no centro de tudo e ao lado de Hera, sua tia. A mulher a segurava pelos ombros para que não fugisse, mesmo sabendo que a garota não se moveria.
A criatura entrou cambaleando enquanto seu corpo estalava e rangia. Era feita de carne e osso, mas certamente não estava mais viva, ou se estava, sentia muita dor. Tinha dois braços e duas pernas, que vinham de corpos diferentes e estavam remendados por algum tipo de costura. O rosto, seja por divertimento ou outro fascínio sombrio, fora colocado invertido, e assim a boca estava na testa e os olhos no queixo.
— Vejam! Vejam a minha linda marionete! — Gritou a mulher exaltada.
Sua voz, que assemelhava-se a algum animal esganiçado, como um pato, fez todos rirem e aplaudirem sua criação. Aquele era o passatempo da mulher, que constituía em costurar animais e pessoas, criando novos seres. A maioria deles não durava horas viva, e por isso, sempre eram usados rapidamente.
Aquele que entrava na sala, assim como todos os outros que Per tinha visto em sua vida, não podia mais falar, pois a dor tirou toda a sua capacidade de pensamento. Mas era possível ver em seus olhos o sofrimento. A garota desviou o olhar rapidamente.
— E agora, a marionete irá lutar contra a minha mais nova aquisição!
"Ah, não acredito que vou ter que ver isso de novo..." Apertou seu estômago segurando o enjoo que ali crescia. Olhou para os lado e viu Dion sorrindo diabolicamente em sua direção. Parecia se divertir com seu sofrimento. "Desgraçado."
— UUUHHH! Filhote de praga! — Multidão começou a vaiar algo, e a jovem olhou na direção do tumulto para entender o que acontecia.
Foi então que viu uma figura diferente de tudo o que conhecia. Usava algemas nos pés e mão. Suas roupas estavam rasgadas, mas só de olhar poder-se-ia saber que era uma família nobre. Era jovem, e tinha a pele clara. Seus cabelos loiros tinham o mesmo tom dos quadros de anjos, e seus olhos eram azuis.
Foi empurrado para dentro do salão e caiu no chão de bruços. Hera pisou em suas mãos fazendo-o gemer de dor.
— Vejam o que eu tenho de presente para Perséfone! Hoje mesmo, capturei um dos filhos dos Atenenses para sacrificá-lo sob a espada da minha marionete!
Um brado enlouquecido veio da Família Vermelha. Um herdeiro da Casa Azul, a casa dos Atenense, aquela que era por eles mais odiada está ali estava aos pés de todos, indefeso.
Considerados os mais nobres e justos, a Casa Azul era aquela que agia diretamente na justiça ao lado do Rei, sendo reconhecida e prestigiada onde quer que fosse. A Casa Vermelha acumulou durante anos raiva e rancor, pois trabalhavam nas sombras sob as ordem reais, assassinando aqueles que estavam em seu caminho sem receber nada em troca além de temor e má reputação.
Orfeu, o patriarca, pareceu retomar a consciência e foi para perto ver o show. A família batia palmas e bradava de forma animalesca esperando o combate. O derramamento de sangue seria ali mesmo, sob o tapete caro, pois não havia nada nem ninguém ali que fosse contra manchar com o sangue de uma Atenense o tapete da sala. Na verdade, aquele tapete seria ainda mais caro com o sangue.
Deram-lhe uma espada igual à que ofereceram à marionete, porém não soltaram suas algemas. Perséfone continuou olhando-o sem mover-se. Seus olhos não podiam perder de vista aquela imagem. E quando o sinal foi dado, a criatura avançou para cima do jovem.
O corpo fétido e deformado caiu por cima do outro, e depois foi empurrado para longe. Mesmo de pés e mãos presas, o rapaz empurrou o adversário para longe com os pés saindo ileso. Vários vaias vieram e a criatura avançou novamente, mas dessa vez o Atenense pegou a espada que tinham jogado em sua frente e a empunhou com a boca.
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As Quatro Famílias
Fiction HistoriqueEm uma época em que Reis decidem o futuro de vários, quatro famílias com grande prestígio, executam os trabalhos que uma figura como o Rei não pode fazer. Atenenses, a família azul, conhecida como a família da justiça. Dionísius, família roxa, a cas...