Capítulo 17: sangue, família e legado

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Era um dia calmo, o sol brilhava, não quente o suficiente para que reclamassem dele, e nem fraco demais para não ser percebido. Algumas nuvens apareciam lá em cima, em diversas formas, branquinhas e prontas para que alguém tentasse dizer o que elas pareciam. Mas ninguém estava olhando-as.

Lá embaixo, na superfície da Terra, onde as pessoas viviam seus dias sem quase notar o clima, devido a tensão dos problemas de cada dia, uma jovem andava a cavalo. Seu rosto miúdo de feições sérias, olhava para frente com um ar de nobreza que combinava com sua postura. O cavalo castanho em que estava, era guiado por um servo de pele morena e cabelos claros. Seu porte grande contrastava com o corpo pequeno em cima do animal.

- Você guia cavalos muito bem. - A garota disse cortando o silêncio. Seus olhos o julgaram de cima a baixo.

Seu cabelo amarrado em um rabo único, deixava-a com uma aparência mais nova. E sem maquiagem alguma, ela não parecia com a figura política que o jovem servente ouvia falar. Mas daquele modo, era mais fácil manter um assunto.

- Sim, costumava trabalhar com cavalos.

Ela se virou para ele, e ordenou o cavalo parar com uma batida no torso.

- Não tente nem me enganar, Príncipe de Golddor. Não perca seu tempo e saliva com isso.

O jovem homem a olhou assustado com as palavras. Mas depois lembrou-se que era com uma hadesius que estava falando.

- Sim...como você sabia sobre mim? Me reconheceu lá na casa de escravos?

- Te reconheci assim que te vi. Sua aparência é bem incomum por aqui... você chama muita atenção.

Verificou ao redor, se não havia ninguém mais que pudesse escutá-los.

- Não há mais ninguém aqui, Vossa Alteza. - Disse e ergue a mão para ele, pedindo ajuda para descer.

Ele pegou-a pela cintura e a desmontou do cavalo. Eles tinham andado bastante, quase passando os limites das terras vermelhas. Andavam por uma floresta próxima.

- Certo. Então tudo bem falarmos um pouco. Senhoria Perséfone, sou todo ouvidos.

- Vamos esquecer as formalidades por hora, elas são inúteis quando falamos assuntos sérios.

- Tá bom.

Os dois continuaram andando lado a lado. Ela usava uma roupa de montaria, calças e uma blusa branca larga. Enquanto ele um longo sobretudo, e calças grossas. Para escutá-la melhor, o Príncipe teve que se curvar um pouco.

- Já deve saber então porque o tirei da casa de escravos. - Per disse em tom sereno.

- Não... penso que deva ter algo que queira de mim, já que está me ajudando.

- Estou te ajudando? É isso que você acha? Bom, não tenho tanta empatia assim.- Ela falou firme.

- Não vi nenhum outro lugar que oferecesse um quarto tão bem mobiliado e limpo para um simples estaleiro. Então, mesmo que tente não transparecer, reconheço sua gentileza.

O príncipe do reino de Golddor sorriu, e fez a jovem corar contra sua vontade.

- Isso é o mínimo para todo trabalhador! Não estou te ajudando de graça! - Per se virou desviando o olhar.

- Sim, sim... creio que deva ter algo que queira em troca de sua bondade.

- Claro, mas primeiro, quero que me conte porque saiu do Reino de Golddor.

Ele parou, e suspirou lentamente. As memórias sobre seus últimos dias em seu reino, eram pesadas. A garota esperou em silêncio que ele se acalmasse e contasse sua história.

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