Os talheres adornados com ouro e pedras preciosas em nada mudavam o gosto da refeição, que em sua boca, não parecia ter gosto algum. Duas semanas haviam passado, e os pratos das refeições não se repetiram uma vez sequer. Ainda assim, estava farta daquele ambiente.
As paredes luxuosas repletas de quadros, as janelas adornadas com belas cortinas de veludo, o chão de mármore, os móveis italianos, as louças de porcelana oriental, tudo sem exceção a sufocava. Ainda assim, um falso sorriso adornava seus lábios. Era assim que tinha que ser, sua armadura social não poderia simplesmente cair.
Mas em seu peito, uma agonia a devorava.
— Vossa Alteza, fico feliz que possamos jantar juntos, mas não quero em hipótese alguma tomar seu tempo de forma demasiada.
O jovem sentado na outra ponta da extensa mesa repleta de diversos pratos, parou com o garfo próximo aos lábios, e a olhou curioso.
— Cara Perséfone, se pudesse lhe daria todo meu tempo.
"Baboseira, mentiroso fanfarrão!" Ela praguejou mentalmente.
— Ora, mas assim você me encabula...
— Bom, tudo que digo é verdade, e espero que algum dia seu coração possa entender meus sentimentos. — O príncipe sorriu para ela se deliciando com o vinho em sua taça.
— Vossa Alteza, sabe muito bem que sou apenas uma Hadesius, minha casa não tem tanto prestígio como a Atenense. E sei que lá, talvez você possa encontrar alguém no seu nível, uma companhia adequada, como é a tradição da família real.
— Per, entendo suas palavras mais do que você pensa, e este assunto não mais me engana.
— O que quer dizer? — Perséfone fingiu surpresa.
— Sabe que não importa o que você diga, quero que seja minha rainha, que esteja ao meu lado.
— Mas ainda sou muito nova para isso.
— Não importa, te manterei aqui ao meu lado até que alcance a idade adulta. Assim posso desfrutar de sua companhia desde já.
— Mas Vossa Alteza! Sinto saudades da minha família! E já fazem duas semanas que você me mantém aqui, sem saber nada deles! — A voz da jovem ficou embargada, como se estivesse carregada de emoção.
Seus olhos castanhos avermelhados brilharam, cheios de lágrimas contidas.
— Ora minha cara, creio que entenda o peso da posição que estou para colocar você. Eu quero que se torne minha companheira, e para isso, preciso que esteja ao meu lado, e aprenda como ser uma mãe para este reino. Precisa aprender a ser uma rainha, para isso, é melhor que esteja aqui.
"Ele quer que eu comece a educação de rainha agora mesmo? Sem nem me perguntar o que quero? Ah, mas não vou deixar isso barato."
A jovem levantou-se subitamente da mesa, soltando um último olhar longo ao príncipe do outro lado da mesa. Depois saiu apressada correndo para seus aposentos onde entrou como um furacão e trancou a porta. Era claro que o príncipe possuía a chave dali, e poderia incomodá-la a qualquer momento. Por isso, tinha que ser ágil.
Sentou-se na mesa de escrever, pegou tinta e uma pena para escrever uma carta, fazendo um último apelo àquele que poderia tirá-la dali.
Aquele que ela odiava.
Querido papa,
Creio que minha ausência na mansão Hadesius, já se estendeu por muito tempo. Não consigo mais passar um dia sequer sem me preocupar com você e nossa querida família. No entanto, o príncipe insistiu que eu permaneça aqui por mais tempo. Parece que o carinho dele por mim, é tão grande que começa a me sufocar.
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As Quatro Famílias
Historical FictionEm uma época em que Reis decidem o futuro de vários, quatro famílias com grande prestígio, executam os trabalhos que uma figura como o Rei não pode fazer. Atenenses, a família azul, conhecida como a família da justiça. Dionísius, família roxa, a cas...