O som do trote do cavalo, repercutiu no ambiente onde, por meia hora, nada foi dito. Não haviam palavras que podiam preencher aquela incompreensão, um espaço onde a incerteza e indecisão ressoavam. Ali, dentro do espaço da charrete com 4 metros de comprimento e 2 de largura, os três se olhavam medindo forças.
Um integrante da Família Vermelha, Hadesius, outro da Família Azul, Atenienses, e outro da Família Roxa, Dionísius. Tal encontro, sem a supervisão dos representantes de cada casa, nunca havia acontecido, e por isso, era difícil estabelecer o primeiro contato. Hélio, que sentava-se ao lado de Perséfone, olhava de canto de olho Dione, sentada à frente. Já está mantinha o olhar baixo.
Enquanto isso, Perséfone sorria de hora em hora apreciando a visão da jovem cantora. Seus olhos azuis estavam marejados, mas mantinha a compostura esperada pela regra social. Usava um vestido longo verde claro, com inúmeros adereços de fita, e poucas jóias, o que indicava que estava preparada para ir àquele lugar, aquele beco onde a escória se reunia.
Os olhos castanhos quase avermelhados devoravam a outra moça, com curiosidade e sagacidade, enquanto seus dedos dançavam nervosamente em seus cachos rubros.
— Então… o que você estava fazendo lá? — Como era de se esperar de qualquer integrante da Casa Vemelha, Perséfone foi direto ao assunto.
Hélio, confuso com aquele jeito direto, tentou se intrometer e dizer algo, mas antes que pudesse, a mão da garota ruiva já tapava seus lábios. “Hélio, não quero que sobre para você se for uma situação complicada… não quero que fique sujo como eu.”
— Vamos, desembucha. Se quer que eu fique de bico fechado sobre ter visto você lá, terá que me dizer o que estava fazendo.
Dione, que se esquivava com o olhar, encolheu os ombros acuada, mas respondeu.
— Pensei que não quisesse saber porque estava lá… pelo menos foi o que você disse antes, quando me tirou daquele lugar. — A jovem falava devagar, com receio em cada sílaba.
Perséfone revirou os olhos.
— Mas eu mudei de ideia…
O jovem loiro pensou em intervir na situação, agora que a mão já tinha sido retirada de sua boca, mas estranhamente lembrou do que Dois havia lhe dito na manhã daquele dia. “…a senhora às vezes faz coisas que não entendemos para nos proteger” e aquela frase o parou. O olhar sério da garota, deixava claro que haviam muitos pensamentos ali dentro de sua cabeça.
Então, de repente, o cocheiro parou e abriu a pequena janela que dava para a cabine interna. O rosto magro falou prontamente.
— Minha senhora, chegamos. Como foi pedido, parei uma quadra antes da Casa dos Dionísius. — Anunciou e fechou a pequena janela.
Ao ouvir isto, Dione começou a se levantar rapidamente, colocando a mão na porta. Mas antes que pudesse abri-la, um pé apareceu ao seu lado. Perséfone esticou a perna, colocando o sapato de salto ao seu lado no assento. Depois fez o mesmo com a outra perna, prendendo-a pelo tronco.
Hélio deu um pulo no assento onde estava ao ver aquela cena. Dione tentou se libertar empurrando as pernas para longe de si, mas o esforço foi inútil, pois era mais fraca que a outra. O olhar vermelho pousava quieto, esperando a resposta.
A jovem bufou, e jogou-se no assento.
— Tá certo… vou te contar. Mas isso precisa ficar só entre a gente.
Um sorriso diabólico apareceu nos lábios da outra.
— Sim, com certeza.
Ainda um pouco hesitante, olhou para o rapaz loiro, que até o momento estava em silêncio, mas este apenas desviou o olhar. Bom, sua vida estava na mão daquela ruiva inconsequente, então não havia muito o que ele poderia fazer ou dizer.
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As Quatro Famílias
Historical FictionEm uma época em que Reis decidem o futuro de vários, quatro famílias com grande prestígio, executam os trabalhos que uma figura como o Rei não pode fazer. Atenenses, a família azul, conhecida como a família da justiça. Dionísius, família roxa, a cas...