Haviam 10 homens. 5 de cada lado, acompanhando os passos adornados com o som dos saltos de madeira. De longe, a cena se parecia com a caminhada para o corredor da morte, onde os guardas escoltavam um prisioneiro perigoso, e temiam que este desse um último ataque final, uma tentativa de fuga ou algo do tipo. Mas não era isso que acontecia.
O cabelo ruivo no centro deles, flutuava em ondas atraindo atenção onde quer que passasse, e todos os nobres, com roupas mais decoradas que pavões de festa, dedicavam longos minutos de seu tempo para olhá-la. Era uma visão rara, e muitos, que ainda não conheciam seu rosto, se apaixonaram à primeira vista. Busto médio, cintura fina, longos cílios, olhos de gato e boca de lábios cheios. Sua aparência era inconfundível.
Passaram pelo belos corredores naquele ritmo de marcha sem pararem um segundo sequer. Perséfone sabia que sempre que vinha ao palácio real seria tratada como uma prisioneira, ou uma fera perigosa que tinha que ser enjaulada para ser apreciada. Mas aquele tipo de tratamento não a incomodava, pois ela apenas pensava em ir para casa para poder ver Um e Dois.
Assim, quando finalmente chegaram aos jardins, os guardas se despediram e se retiraram rapidamente. A jovem ficou imóvel perto de uma escultura de flamingo de grama, pensando no quê o jardineiro teria fumado para colocar um flamingo que mais parecia um tucano desnutrido.
Sabia que o Rei não gostava de sua presença, e por isso sempre era deixada horas no sol esperando por ele. Então, sentou em um banco, e esperou. “Vamos ver quantas horas essa toupeira petulante vai me fazer esperar hoje… da última vez foram 3.”
Suspirou e sentiu alguns olhares em suas costas. Alguns nobres se preparavam para cortejá-la, e ela se esforçou ao máximo para não percebê-los. Fez sua feição mais carrancuda desejando que fossem embora.
Contudo, contrariando suas expectativas de ficar plantada no sol e acabar torrada como um churrasco barato, uma empregada veio até ela e cochichou em seu ouvido:
— Sua Majestade a espera na cúpula do jardim. Siga-me.
Confusa com o ato, segurou firme o cabo da pistola que havia pego com Hélio, sentindo seu frio contra a pele. Havia posto na anágua, mas certamente conseguiria pegá-la rápido se fosse preciso. Tinha que estar preparada para tudo.
Andaram alguns minutos, e logo chegaram à cúpula. O espaço era inteiramente de vidro, contendo diversas flores que ela nunca tinha visto antes. “Isso é bom, pelo menos não tem nada venenoso.” Pensou tomando consciência de seu largo conhecimento em plantas venenosas.
Havia algumas fontes e estátuas para decoração, e uma mesa adornada em ouro colocada bem no centro. A empregada parou, e a jovem seguiu sozinha.
Se aproximou logo notando a enorme figura sentada na ponta da mesa. Usava uma roupa escura, de um azul do mar, com inúmeros colares em seu pescoço. Nas mãos, anéis em cada dedo disponível, e brincos nas orelhas. O cabelo grisalho e os olhos verdes pareciam mais cansados do que ela se lembrava, mas não comentou nada. Apenas fez uma longa reverência curvando-se até o chão.
— Eu, Perséfone Hadesius, filha da Casa Vermelha, Saúdo o Grande Sol do nosso Reino. — Ergueu-se lentamente mantendo os olhos no chão.
O Rei falava com um criado, e somente depois de dispensá-lo, lhe dirigiu a palavra.
— Pode levantar a cabeça.
E assim ela o fez. Porém, manteve-se de pé.
Os dois ficaram em silêncio observando um ao outro. Profunda raiva se ascendia na jovem, mas seu rosto era sereno e inabalado. Sabia que não podia começar o discurso, muito menos sentar-se se Vossa Excelência não permitisse, e como era da Casa Vermelha, tinha absoluta certeza que ficaria o tempo todo de pé. Talvez tivesse até que dançar algo para ele, mas resolveu não pensar em tal possibilidade.
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As Quatro Famílias
Fiksi SejarahEm uma época em que Reis decidem o futuro de vários, quatro famílias com grande prestígio, executam os trabalhos que uma figura como o Rei não pode fazer. Atenenses, a família azul, conhecida como a família da justiça. Dionísius, família roxa, a cas...