- O Anjo Negro. -

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Eu não conseguia me recordar do que poderia ter acontecido. Eu havia morrido, de fato? Se sim, então por qual motivo eu podia escutar uma conversação?
Eu não estava enlouquecendo, era mesmo uma conversação. Vozes. Sobre o que estavam falando?

Forcei a abertura de meus olhos, embora minha visão ainda estivesse embaçada. Havia uma certa claridade acima de minha cabeça. Uma luz?

De repente, acima da minha cabeça, grandes olhos azuis surgiram de forma tão repentina, que eu sequer tive tempo para pensar em quem poderia ser.

- Olha só, mana! Os olhos do homem-morto estão abertos!

Uma voz de criança..."Homem-morto"? A criança se referia à mim? Mas eu não estava morto.

Demoraram alguns segundos até que eu me desse conta de que aqueles grandes olhos azuis estavam ainda mais próximos de mim, como se buscasse uma forma de conectar sua alma à minha através do olhar. Os olhos estavam frente à frente dos meus, a ponto de me fazerem soltar um grito nada másculo.
Me sentei rapidamente, algo que não foi muito inteligente da minha parte. Minha barriga ainda estava dolorida, a única diferença perceptível, eram as ataduras presentes alí.

Pude ouvir uma risada, imediatamente direcionei meu olhar àquela direção, me deparando com a criança. Um garoto que rolava no chão de tanto rir da minha reação vergonhosa. Seus cabelos grisalhos estavam bagunçados e o menino possuía orelhas pontudas. Um elfo?

Respirei fundo, cerrando os punhos levemente e franzindo o cenho.

- Ei, garoto! Não tem graça, você me assustou pra valer! - Disse com seriedade, embora eu estivesse mais envergonhado do que sério.

- Ah, e como teve! Você gritou como uma menininha assustada, homem-morto! - Respondeu o garoto, se recompondo após sua crise de riso. - Você está bravo? Não deveria estar bravo, você deveria me agradecer, eu salvei sua vida! - O garoto aproximou-se da cama, apoiando seus cotovelos no colchão, ao meu lado.

Arqueei as sobrancelhas. Um garoto tão pequeno como aquele jamais teria salvo a minha vida. Suspirei.

- Não conte mentiras, garoto. Onde eu estou e onde estão seus pais? - Perguntei

- Você foi sequestrado e trazido para cá, eu estou de vigia para que você não fuja antes que o meu chefe volte e use você como cobaia para seus experimentos. - O garoto continuou - os experimentos dele são tão terríveis...Ninguém passa por eles normalmente. Até agora, todas as cobaias acabaram sendo transformadas em goblins feiosos e nojentos! - Ele finalizou sua fala, movendo seus dedos das mãos levemente, como se lançasse um feitiço imaginário em mim.

O garoto falava com tanta convicção, que por um momento eu quase acreditei em um homem que transformava suas cobaias humanas em goblins, e que um garotinho mentiroso trabalhava como uma espécie de "vigia" para este homem.

Suspirei mais uma vez, afim de manter a calma. Ele era só uma criança, é normal que conte mentiras por ser algo considerado como diversão. Eu jamais iria me estressar com uma criança, certo? Errado!

Respirei fundo, estando prestes a dar um sermão no menino para que o mesmo me contasse a verdade. Entretanto, eu fui interrompido no momento em que mirei à porta. Damian estava parado na porta, me encarando como se não pudesse acreditar que eu realmente estava vivo. Levou alguns segundos até que ele viesse correndo em minha direção, como se finalmente tivesse me reconhecido.

O rapaz se jogou em minha direção e eu consegui não gritar de dor. Damian me abraçou com força. Estava chorando, de certo modo, vê-lo chorar me fazia sentir culpado.

- Castel! Eu estava tão preocupado, todos aqueles lobos...todos eles! Você...Você está mesmo...- Damian dizia em meio a soluços. Eu podia sentir suas lágrimas caindo sobre meu ombro. - Está mesmo...

Não, eu não sou um vilão.Onde histórias criam vida. Descubra agora