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— Ele sabe o quanto eu odeio esperar — Eu reclamei, sentada naquela mesa, balançando as pernas como uma garotinha.

— E você sabe que ele nunca te escuta — Hattie cantarolou, suas mãozinhas curiosas tocando nas coisas daquele galpão.

— Ele deveria, estou sempre certa — Resmunguei. Levantei a sobrancelha quando ouvi Hattie gargalhar.

Quando ela viu que eu tinha ouvido, logo fingiu uma tosse.

— Problema de garganta — Deu a desculpa, fazendo uma careta de dor enquanto passava a mão no pescoço. Eu apenas mostrei o dedo do meio pra ela.

Quando ouvi a porta do galpão se abrindo, nós duas ficamos em pé uma do lado da outra, vendo Deckard e Hobbs entrando com o único homem capaz de tirar isso de mim.

— Vamos, mostre pra ele — Deckard disse, vindo ficar ao meu lado, a mão em minhas costas. — Conte tudo o que sabe sobre isso — Ele mandou, olhando ameaçador para o cientista enquanto eu levantava minha mão para mostrar minha marca recente.

— Meu deus — Disse o cientista, com um forte sotaque russo, sua expressão assustada não me tranquilizava. — Quando foi exposta?

Fiz as contas mentalmente.

— Cerca de 30 horas atrás — Arredondei. O medo nos olhos daquele carinha baixinho e rechonchudo fez eu me encolher para perto de Deckard que passou o braço ao redor da minha cintura ao perceber.

Não tinha tantas esperanças, afinal.

— Então as cápsulas com o vírus ainda estão intactas — O cientista respondeu, mas aquilo não me trouxe alívio.

Senti a mão de Hattie em meu ombro e coloquei minha mão por cima, aceitando seu conforto.

— Precisamos neutralizar — Hobbs disse, do outro lado, enquanto andava pra lá e pra cá, como uma barata tonta.

— Não é tão fácil. — O cientista disse olhando diretamente para o Shaw mais velho, o qual ainda estava com os braços ao redor de mim. — Não foi programada para ninguém, é fatal para todo mundo. Em 42 horas, as cápsulas dissolverão e a infectará. E o vírus vai se espalhar pelo ar. Contaminação global em uma semana. — O sotaque russo ficou ainda mais forte conforme o desespero dele aumentava.

42 horas de vida.

— Por que criaria algo assim? — Hobbs perguntou.

— Pensava que era um deles.

— Etheon — Decks murmurou baixo.

— Queriam salvar o mundo pela ciência — O cientista voltou a falar. — Acreditei na causa deles. Desenvolvi o Floco de Neve para portar vacinas. Panaceia para o mundo todo. Eles desenvolveram para um apocalipse programável. Para atacar os mais fracos, os que não merecem a visão futura da Etheon.

— Para um cientista, você é incrivelmente estúpido — Deckard disse, os olhos focados no quadro de cálculos.

— Ganhei dois Nobels, mas quem quer saber? — O cientista murmurou pra si mesmo e eu vi Hattie dar um sorrisinho.

— Disse que o vírus é programável. Então, reprograme-o — Hobbs deu a ideia.

— Não posso reprogramar em um hospedeiro — Ele respondeu e eu revirei os olhos.

Tava começando a achar que viver minhas 42 horas de vida em uma praia era melhor do que estar aqui.

— Apenas diz como tirar isso de mim — Eu pedi, a voz denunciando minha exaustão. Fazia exatas 30 horas que eu não dormia, fora as noites mal dormidas de todos esses meses.

— Há duas opções e a primeira é fácil — Ele disse, olhando pra mim.

— Diga

— Finalmente

Eu olhei para Hobbs e o Shaw careca, revirei os olhos e voltei a olhar para o cientista.

— Precisamos matá-la — O cientista disse com simplicidade, como quem fala que vai fritar um ovo.

Realmente é fácil.

— Como é? — Deckard perguntou, dando um passo em direção ao cientista. Só não chegou mais perto, pois meu corpo contra o seu o impediu de se aproximar mais. Mas ele tentou.

— E queimamos o corpo, é claro.

— Claro... — Hattie e Hobbs disseram juntos, deboche pingando em suas vozes.

— Queimar mesmo.

— Queimar mesmo? — Hattie repetiu, usando seu deboche Shaw. O cientista não pareceu perceber.

— Até virar cinzas.

— Cinzas? — Deckard disse ao mesmo tempo que eu dizia:

— Não é uma má ideia

Os três me olharam e depois voltaram a encarar o cientista como se eu não tivesse dito nada.

A palavra de uma mulher nunca vale nada.

— Até ficar irreconhecível — O cientista voltou a dizer.

— Vamos assumir que não é opção, pode ser, gênio? — Deckard disse, olhando do cientista para mim. Eu levantei meus ombros como quem dizia "tanto faz".

Hattie fazia um sinal de corta com as mãos e eu senti vontade de rir. O sono estava mexendo com a minha cabeça.

— É, não funciona, opção 2. — Hobbs disse. Fazia alguns segundos que ele tinha parado de ser uma barata tonta.

— Há uma máquina que pode extrair sem matá-la.

— Devia ter sido a opção 1. — Hobbs disse em tom óbvio.

— É impossível chegar até ela! — Olhei bem para o cientista e as peças encaixaram na minha cabeça.

Está na Etheon.

Me soltei de Deckard e voltei a sentar na mesa, balançando as pernas como uma garotinha.

— Nós decidimos se é impossível — Deckard disse, totalmente sem paciência. — Onde ela está?

— Está no laboratório da Etheon onde o Floco de Neve foi desenvolvido. — O cientista falou e eu olhei convencida para o meu próprio reflexo em um espelho do outro lado do galpão. — Um complexo tecnológico secreto protegido por um exército no canto mais isolado do planeta. Se forem lá, os três morrem.

— O que é melhor? Morrer igual uma sopa de letrinhas ou cheia de furinhos? — Perguntei alto para ninguém em especial, mas foi Hattie que me respondeu.

— Furinhos. Eles são legais — Ela levantou a mão, o indicador pra cima, como quem responde a pergunta de um professor.

Deckard e Hobbs olharam para nós duas, ambos irritados. Não se deram o trabalho de responder, apenas voltaram a falar com o cientista.

— Então, o que quer dizer é que ela morre de qualquer maneira — Hobbs disse.

— Eu voto em irmos para a praia. — Eu levantei a mão, igual Hattie a segundos atrás. — Se bem que eu já vou estar queimada então nem precisa — Abaixei minha mão, fazendo um bico emburrado.

Todos me ignoraram.

— Bem, quem precisa de uma bebida? — Hattie perguntou e eu levantei a mão.

— Eu tenho o lugar perfeito — Decks disse, já saindo do galpão.

Laços - Deckard Shaw (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora