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(Larissa)




— Ok, tchau — Não esperei mais para encerrar aquela ligação, que eu nunca deveria ter feito, afinal.

— Droga! — Esmurrei a prateleira e proferi um grito catártico.

Ohana era diferente, mas isso não significava que nós duas sairíamos ilesas se eu me entregasse a esse sentimento. Eu acabaria por arruinar algo bom. Nossa felicidade não duraria, logo se transformando em amargura, quando ela finalmente descobrisse a verdade. E eu não tinha certeza se seria forte o suficiente para seguir em frente pela segunda vez, não sobrou muito de mim, sou só fragmentos.

Daquela vez eu sabia, seria o meu recomeço ou o meu fim definitivo.

Esfreguei o rosto em uma tentativa fugaz de afastar os pensamentos. Eu odiava como a minha mente me traía, relembrando o passado e abrindo feridas. As memórias apareciam quando eu menos esperava, elas eram como espinhos perfurando minha pele, deixando meu coração em carne viva, rasgando minha alma as vezes eu tentava, masoquista como era, resgatar boas lembranças em meio ao turbilhão das assombrosas e torturantes. Mas percebia
amargamente o quanto elas eram ainda mais perigosas. Doía-me o fato de ter provado algo tão doce e bonito para logo ele ser arrancado de mim.

Pouco me importava agora, porque eu mantinha minha cabeça entorpecida o bastante para esquecer, ainda que por algumas horas, o quanto eu era uma fodida. Eu poderia ficar trancada o dia inteiro nesse escritório, rodeada de livros (alguns com fundo falso), afundando o rosto no meu pó e me deliciando na ilusória sensação de paz que ele proporcionava. Estava prestes a fazer exatamente isso e, só de ter o saquinho com a cocaína em mãos, sentia a adrenalina se espalhar pelo corpo e a euforia de poder finalmente experimentar o alívio depois de tanto tempo de abstenção.

Com os músculos em espasmos e os dedos trêmulos montei uma carreira em cima da mesa e, utilizando uma página arrancada de um velho livro, enrolei o papel e inalei fundo.

Fechando os olhos eu joguei a cabeça para trás e soltei um gemido alto ao sentir uma corrente quente se alastrando nas veias e o coração bombeando frenético contra as costelas

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Fechando os olhos eu joguei a cabeça para trás e soltei um gemido alto ao sentir uma corrente quente se alastrando nas veias e o coração bombeando frenético contra as costelas. Naquele instante eu estava no topo do mundo.
Todos os meus medos foram varridos para fora e pude, enfim, respirar tranquila sem o peso esmagador no peito. Sem angústia ou desespero. Nossa, como era bom! Tão bom quanto sexo. Havia alcançado as portas do paraíso. O problema, porém, era a certeza de que aquele caminho logo me levaria ao inferno. No entanto, não pensaria naquilo. O propósito da droga era me fazer esquecer afinal. Então, por um breve momento, deixei a razão de lado e acolhi a inebriante liberdade. Mas a cocaína era mentirosa. Ela não libertava, ela só me aprisionava cada vez mais no vício.

Naquela noite eu não percebi que havia caído no sono, só notei quando as imagens daquele dia, há exatos sete anos, voltaram para me torturar e arrancar gritos de dor e sofrimento. Aquele foi o dia quando descobri que o amor era uma ilusão e que a felicidade era temporária. Por isso, hoje em dia, eu não amava mais ninguém.

THE BEAST  -  OHANITTAOnde histórias criam vida. Descubra agora