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(Ohana)

Meu rosto estava afundado em algo macio, inspirei fundo sentindo o leve aroma floral e então meus sentidos inebriados pelo sono foram despertando aos poucos. Ainda com os olhos fechados eu estiquei o corpo manhosamente enquanto espreguiçava, o lençol roçou meus braços quando os levei para acima da cabeça e pela primeira vez notei algo de estranho naquela cama macia.
Primeiramente ela não era a minha! As minhas pálpebras tremularam, lutando contra a sonolência, segurei o lençol de encontro ao corpo e tentei entender o que estava acontecendo e onde eu estava. Olhei ao redor desnorteada por encontrar um quarto espaçoso e totalmente diferente do meu pequeno aposento, meu coração palpitava contra a caixa torácica até eu respirar aliviada ao notar se tratar de uma das suítes da mansão. Eu estava em uma das suítes!

Quando finalmente a minha ficha caiu, eu me sentei de supetão. Como eu fui parar ali, pelo amor dos deuses? Tentei rebobinar a fita do meu cérebro até os últimos acontecimentos lúcidos e meu estômago afundou com o nervosismo ao passo que minha frequência cardíaca aumentou de forma preocupante quando as lembranças vieram à tona.
Eu e Larissa acomodadas no sofá assistindo ao seriado. A sensação das mãos dela me puxando até eu sentir as pontas dos meus pés em contato com sua perna. Ela rindo da minha síncope quando eu percebi estar vendo o maior spoiler da minha série favorita. Eu adormecendo no meio do filme.

Larissa me carregando em seus braços...
Pelos deuses, aquilo não foi um sonho!
Retirei os cabelos bagunçados caindo nos meus olhos e os joguei para trás, livrei-me do agradável agasalho provido pelo fino cobertor tentando não gemer pelo frio repentino e finalmente me levantei. A falta de luz vinda da
fresta da cortina não me dizia nada, a tempestade havia transformado a manhã em noite, portanto conferi o meu relógio de pulso. Balancei a cabeça e sibilei. Eu dormi mais do que devia, perdi toda a tarde deitada e agora já era quase o horário da janta! Dei alguns passos hesitantes até a porta, deslizando as mãos pela camiseta e ajeitando as leggings antes de girar a maçaneta.

— Opa! Você está bem? — Arregalei os olhos e engoli um grito ao dar de cara com a minha chefe. Meu rosto estava praticamente amassado em seu ombro e antes que eu pudesse processar alguma frase de resposta senti mãos macias e surpreendentemente delicadas segurarem meus ombros.

Fui afastada de seu corpo e virei alvo de sua minuciosa atenção. Pigarreei no intuito de me recompor, mas o som vindo de minha garganta fez com que Larissa frisasse seu cenho em preocupação. Deslizando os dedos de meus ombros até o meu rosto ruborizado, ela os repousou em minha testa, medindo minha temperatura. Eu sabia que não estava com febre, mas talvez com o sangue queimando em minhas veias em reação ao seu toque. Larissa seria capaz de sentir o fogo que ela mesma ateou.

— Está quente, Ohana— murmurou antes de fungar. Levantei uma sobrancelha e me afastei.

— Eu estou melhor, já você não parece tão bem... — Inclinei a cabeça para o lado quando a vi esfregar o nariz. Larissa voltou a me fitar com suas íris atipicamente escuras e franziu ainda mais o semblante.

— Por que diz isso? — Cruzou os braços, o movimento elevou mais seus seios o acentuando e roubando meu raciocínio brevemente. Dei um passo para trás e fisguei meu lábio antes de apontar atrapalhada para o seu rosto. Parecia que eu havia perdido minhas coordenações motoras.

— Está fungando e coçando o nariz. Ficou resfriada?
Larissa desviou o olhar e descruzou os braços, levando as mãos até o coque no alto de sua cabeça e soltando as longas mechas Ruivas. Assisti em transe enquanto elas caíam em cascata moldurando seu rosto, um contraste de tirar o fôlego.

— Ah! Esquece isso. Não é nada. — grunhiu e me deu as costas, caminhando em direção à sala.

— Se realmente se sente melhor então venha, já passou da hora do jantar — disse ríspida. Revirei os olhos e a segui direto até a cozinha, dissipando a fantasia de ser uma convidada aos seus cuidados e voltando à realidade. Eu era a empregada afinal.

THE BEAST  -  OHANITTAOnde histórias criam vida. Descubra agora