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(Larissa)

Já fazia quatro dias desde que eu estava livre das dores e do mal estar.

O período das crises de abstinência finalmente cessou, e eu recuperei o total controle da minha mente e do meu corpo.

Ainda deitada e com as pálpebras fechadas eu busquei por ela, mas só encontrei o colchão frio e os lençóis. Abri lentamente os olhos, tentando me acostumar com a claridade, Por mais que eu estivesse melhor, eu me sentia cansada.

Por isso, ao sentar na cama, precisei me encostar à cabeceira e inspirar fundo algumas vezes.

— Ohana? — A chamei, procurando por ela pelo cômodo.

Eu estava sozinha. No entanto, ao prestar atenção aos pequenos sons da casa, percebi que o chuveiro do banheiro estava ligado. Minutos mais tarde ela apareceu enrolada em uma toalha.

— Está acordada — disse sorrindo ao me ver

— Bom dia, amor. Como está se sentindo? — Se aproximou, colocando os cabelos úmidos para trás.

Quando se abaixou para depositar um beijo leve em meu rosto, eu sorvi o seu aroma fresco e me senti revigorada.

— Surpreendentemente eu me sinto bem — resvalei os dedos em sua face, notando os círculos escuros abaixo dos olhos castanhos.

— Desculpe por te fazer passar por isso, Honey — murmurei com a voz embargada.

Ela aninhou o rosto de encontro ao meu toque, então virou a cabeça e plantou os lábios na palma da minha mão.

— Larissa... — sussurrou, desferindo outro beijo antes de voltar a falar

— Não precisa se desculpar, você está se recuperando. Está tudo bem. Estamos bem.

Suspirei aliviada, sentindo-me mais leve ao ouvir suas palavras.

— Eu te amo — assoprei em seu pescoço, envolvendo seu corpo em um abraço

— Obrigada.

— Também te amo — respondeu com a voz suave, levando as mãos até minha nuca e pressionando os lábios nos meus brevemente

— Mas me promete uma coisa?

— Qualquer coisa, querida — disse de encontro à sua boca, encostando as nossas testas e prendendo o seu olhar no meu.

— Faço qualquer coisa por você.

— Não me afaste mais, por favor...

Fechei os olhos e a abracei com mais força.

— Nunca mais, Ohana — prometi, sentindo um nó se formar na garganta

— Não era eu, meu amor. Era a cocaína falando. me perdoa — minha voz saiu embargada pelo arrependimento.

Deslizei meus lábios em sua face, beijando suas lágrimas enquanto ela assentia, minhas mãos passearam por suas curvas e abri a toalha que cobria o seu corpo.

— Eu estava com tanta saudades... — murmurei, trilhando beijos suaves por sua pele. Desci a cabeça até o vão dos seus seios e deslizei a língua, provocando suspiros e arrepios nela.

— Te amo tanto.

— Eu também, Lari. Por favor... — Ela afundou os dedos em meus cabelos, acolhendo-me com avidez.

— Te amo — repeti contra seu corpo. Envolvi-me em seu calor, soltando um suspiro de deleite.

Deixamo-nos levar por ondas cada vez maiores de prazer, e juntas nós alcançamos o arrebatamento.

Tão logo recuperamos o fôlego a correnteza nos puxou de volta, e nos encontramos novamente imersas ao nosso amor.

[...]

Não adiantava o quanto eu dissesse que estava bem, Ohana e Sam continuavam receosas. Eu podia ver pelo modo como observavam cada movimento meu, como se eu estivesse prestes a surtar a qualquer momento.

— Tem certeza que não prefere esperar mais uma semana? — ohana perguntou apreensiva.

Seus olhos me seguiam pelo closet onde eu terminava de me vestir para o trabalho.

— Eu já estou limpa há quatro semanas, Ohana — exalei as palavras com cuidado para não soar irritada

— Não tenho vontade de usar, estou me sentindo ótima.

Ela fisgou o lábio inferior, parecia estar pensando em algo para falar, então me aproximei dela e, segurando o seu rosto com delicadeza, eu a beijei até que ela se esquecesse de suas preocupações.

— Está fazendo um dia tão lindo lá fora, Honey. Por que não aproveita e relaxa na piscina? Ou então descanse enquanto lê algum livro — Alentei suas faces, resvalando meus lábios em sua boca bem desenhada.

— Hmmm... — murmurou distraída — Pode ser, não é uma má ideia.

— Preciso ir — sussurrei, sorvendo o seu perfume antes de me afastar

— Não devo chegar tarde — desferi outro beijo

— Te amo.

A deixei num misto de euforia e tristeza. Eu ansiava poder sair de casa, mas ao mesmo tempo eu já sentia saudades.

Na empresa ninguém sabia o que tinha acontecido comigo, todos achavam que eu tirei as férias acumuladas. No entanto, eu tinha a estranha sensação de que estava sendo vigiada por todos.

Por isso me mantive dentro do meu escritório, evitando contato com os funcionários, As minhas tentativas eram frustradas, pois Sam e Mike iam atrás de mim a todo instante. Eles estavam sempre arranjando uma desculpa para falar comigo, e a constante preocupação deles me sufocava.

— Você aprova? — perguntou Sam, com uma mão massageando a sua lombar enquanto a outra me entregava os documentos.

Suspirei alto, engolindo a vontade de mandar ela sair logo da minha sala.

— Sim, Sam. — Joguei as folhas em cima da mesa — Mas você não precisava da minha autorização.

— Claro que precisava! Também é do seu interesse — reclamou fingida.

— Sei. — Controlei o revirar dos olhos e apontei para o ponto atrás dela

— Se isso é tudo, por favor, feche a porta ao sair.

Ela não se abalou, virando-se para a saída. Apoiando as mãos nas costas, ela se endireitou e foi embora a passos vagarosos. Parecia que o peso extra em sua barriga já começara a incomodar a coluna.

Voltei minha atenção para a planilha no meu computador, agradecendo o momento de paz para me concentrar nos números. Porém, tão logo suspirei aliviada, a porta se abriu novamente.

— Está de sacanagem comigo?! — eu disse exasperada.

— Larissa — Sam murmurou com o cenho franzido

— Eu...

— Eu preciso trabalhar! Não dá para fazer nada com você e o Mike fungando no meu cangote o tempo inteiro! — a interrompi, sem paciência para ouvir qualquer outra besteira que ela tivesse inventado.

No entanto, ao olhar bem para a sua expressão contraída e os braços fazendo movimentos frenéticos nas costas, percebi que algo estava errado. Levantei-me de supetão, correndo até ela.

— O que está acontecendo? — perguntei no mesmo instante em que ela se contorceu para frente, grunhido em dor.

A segurei pelos ombros antes que caísse e, quando olhei para baixo, eu vi algo que me fez entrar em pânico. Um líquido grosso e rubro deslizava por suas pernas. Sam estava sangrando.

— MIKE! — berrei, embalando a sua esposa em meus braços.

Continuei gritando por ajuda, até que alguém apareceu. Não saberia dizer quem foi, minha vista havia escurecido e eu sentia dificuldade para respirar, Espalmei o peito, sentindo o meu coração sendo esmagado, Caí de joelhos, a dor era insuportável demais.

Eu precisava que aquela dor fosse embora.

Eu precisava...

THE BEAST  -  OHANITTAOnde histórias criam vida. Descubra agora