38 - to love oneself

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(Larissa)

Os dias se mesclavam uns aos outros. Eu só via o teto rodopiar e a escuridão me engolir e quando o mundo entrava em foco novamente assim como a sensação do buraco sangrando em meu peito, inalava o esquecimento. Obliterava-me cada vez mais. Fragmentando o que restava de mim, eu queria poder me abandonar com tanta facilidade com a qual as pessoas que eu amei na vida me abandonaram. A droga me ajudava com isso, aos poucos me sentia cada vez mais longe de mim.

— O que é isso? — Perguntei para ninguém em particular. Nem lembrava mais o motivo da minha própria pergunta.

Até que eu ouvi novamente o barulho. Tinha alguém tentando entrar na minha casa. Levantei-me com dificuldade do chão, e saí cambaleante do escritório enquanto apoiava as mãos pelas paredes.

— Quem é o idiota que está invadindo minha casa? — Berrei, arranhando a garganta seca.

Eu havia trancado as entradas e ninguém, nem mesmo Marta ou Sam, conseguiriam entrar na casa. Queria permanecer sozinha na minha maldita escuridão, sem interrupções e perturbação. Eu não aguentava mais ouvir da boca de alguém que eu tinha de ser forte, que eu não podia desistir.

Entendo que falam com as melhores intenções e, por mais que tentassem de todas as maneiras me fazer mudar de ideia, eu estava cansada. Já tinha aprendido minha lição, e é claro que eu sabia sobre as consequências. No entanto, eu tinha perdido as esperanças. Tinha perdido a vontade de persistir.

Eu só queria que me deixassem ir para o abismo. Não queria mais ouvir o quanto aquilo me fazia mal, ou o quanto eu estava me destruindo, eu não tinha mais motivos para ficar bem.

Fui arrastando as pernas até chegar à porta de correr. Era dia, mas o ambiente permanecia obscurecido pelas cortinas fechadas. Levei uma mão para frente e agarrei o tecido que acobertava o vidro, levando-a ligeiramente para o lado, o suficiente para eu ver quem estava atrás da porta.

— O que você quer? — resmunguei

— Já disse que não estou bem para trabalhar, faça o que quiser com a empresa e me deixe em paz!

— Não vim aqui para isso — Mike retrucou cansado, coçando os olhos como se não dormisse há dias.

— Para que veio então? Vai gastar sua saliva se foi para me fazer parar. EU NÃO VOU PARAR! — gritei, sentindo-me subitamente possessa.

— Nós viemos conversar sobre algo urgente, Larissa. Abra a porta. Ele disse "viemos"? No plural?

Varri os olhos ao seu redor, porém, só quando abri mais a cortina que finalmente a encontrei.

— Mam? — a chamei com a voz embargada. Toda a raiva de antes fora transformada em profunda tristeza e vergonha.

— Mãe, é mesmo você? Não estou delirando?

— Filha, venha cá. Deixa eu te abraçar — pediu emocionada, e pela primeira vez notei o quanto o seu nariz e os seus olhos estavam vermelhos. Ela esteve chorando por minha causa.

Meus joelhos se dobraram no instante em que eu destranquei a porta. Mike conseguiu me segurar antes que eu caísse, levando-me até a cadeira mais próxima ali na varanda.

— Mam, não queria que você me visse assim — chorei, pendendo a cabeça para baixo e escondendo o rosto com as mãos.

Eu a sentir se aproximar até que seus braços envolveram meu corpo, puxando-me para um abraço. Mergulhei o rosto em seu colo, voltando a ser uma criança. A sensação acolhedora intensificou as minhas lágrimas e, quando dei por mim, estava soluçando e tremendo de tanto chorar.

THE BEAST  -  OHANITTAOnde histórias criam vida. Descubra agora