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(Ohana)


Eu falava sério quando disse que precisava de um tempo para pensar.

Foi um choque descobrir sobre a dependência química de Larissa, aquilo me feriu de formas inexplicáveis. Não pelo fato do sofrimento que a minha mãe passou com o meu pai, mas por eu amá-la tanto que foi impossível dar as costas.

Ouvi-la dizer que me amava bem naquele momento obscuro foi tão golpe baixo. Não era justo, no entanto, agora eu não poderia imaginar sua declaração de outra forma.

Eu nunca esperei por um conto de fadas, sabia que não existia. Eu era realista mas, apesar de tudo, também não imaginava encontrar o amor em meio a tantos obstáculos.

Quando fui embora da mansão na noite anterior, eu fui pensando em tirar alguns dias para organizar meus pensamentos e compreender os meus sentimentos. Eu precisava ter certeza do que queria, e se eu era resiliente para suportar tanta angústia.

No fim das contas não importava o que eu quisesse, pois o meu coração tinha vontade própria. Ele regia todas as minhas emoções e ofuscava a razão. Nem cheguei a pisar os pés em casa, não poderia deixar que a minha mãe me visse naquele estado. E eu não queria que ela soubesse, ela não entenderia. Então decidi poupá-la, evitando preocupar a sua cabeça e fugindo de seus julgamentos, passei a madrugada chorando no ombro amigo de Lucy.

Eu confiava nela o bastante para contar toda a verdade, e como esperado, Lucy foi compreensiva. Deixando-me chorar até que meus canais lacrimais não tivessem mais nenhuma gota sequer para derramar. Minha amiga não me julgou, tampouco disse o que eu deveria ou não fazer. Ela só me deu o tempo e espaço necessário para que eu decidisse por conta própria, e aquilo era tudo o que eu precisava no momento.

Ao contrário da minha mãe, que perdeu a fé depois do meu pai, eu acreditava na recuperação e na reabilitação de um usuário de drogas. Eu estudei medicina afinal de contas, tinha noção de como era o processo de desintoxicação e, por isso, estava preparada.

[...]

— Você tem certeza disso, Ohana? — Sam me perguntou longe dos ouvidos de Larissa. Sua preocupação comigo era evidente e não pude conter um sorriso de gratidão em retorno.

— Sim — disse com um leve aceno de cabeça, a acompanhando até o Portão.

A morena parou de andar e se virou para mim, permitindo que um sorriso terno surgisse em seus lábios.

— Obrigada Ohana de coração — Tocou brevemente em meu braço.

— Já cedeu tanto de si e, ainda assim, não pensou duas vezes em ceder novamente.

Comprimi os lábios, sentindo os olhos arderem com as lágrimas persistentes.

— Eu não me importo — retruquei com a voz falha

— Faço por amor.

Esperei ela entrar no carro e sumir, antes de regressar para dentro. Respirei fundo algumas vezes, comandando o meu corpo a relaxar e pedindo que o coração ficasse calmo Então, segui a passos determinados até a mulher que eu amava.

Larissa ainda estava no banho e eu aproveitei para organizar as medicações que eu havia comprado no dia anterior. Como eu havia dito, eu estava preparada. Literalmente. A maioria era calmante para amenizar a ansiedade e analgésicos. Infelizmente eu não consegui os remédios especializados para o tratamento sem uma receita médica. Portanto, teríamos de tentar com o que tínhamos em mãos.

— Bom dia, Ohana— Marta apareceu, dando-me um baita susto e me fazendo deixar cair uma cartela no chão da cozinha

— O que é isso? O que está acontecendo? — perguntou ao notar a minha expressão pálida e tensa.

THE BEAST  -  OHANITTAOnde histórias criam vida. Descubra agora