33

354 44 0
                                    












(Ohana)


Eu achei que soubesse como agir, mas aquele pensamento foi uma ilusão.

Era impossível não me afetar por seu sofrimento. Foi preciso de muito controle para não chorar toda vez que ela se contorcia de dor.
E principalmente, precisei de muita força para não me abalar a cada vez que ela gritava para eu me afastar dela.

Nas duas primeiras semanas Larissa passou muito mal, seu organismo estava entrando em colapso. A cada convulsão e grito de dor, o meu coração parecia que ia parar de bater por ela.

Pressionei o pano úmido e frio em seu rosto febril, limpando os vestígios do vômito que ela acabara de expelir.

— Sai daqui — murmurou fraca, para logo tossir e se convulsionar com outra onda de ânsia.

— Shiu... — reprimi as lágrimas e arrastei o balde para mais perto dela na beirada da cama

— Não vou a lugar algum.

Fazia quase dois dias que Larissa não tomava banho, e eu não tinha a força necessária para carregá-la até o chuveiro se ela não me ajudasse.

Ela estava muito debilitada e mal conseguia se manter de pé, sem mais alternativas eu precisei ligar para Sam, e estava esperando que ela chegasse para me dar uma folga. Eu também precisava de ajuda, não só a Larissa. Eu mal podia sair de perto dela. Tinha medo de deixá-la sozinha e algo de ruim acontecer com ela.

Eu velava o seu sono conturbado, onde ela gritava, chorava e se contorcia. Tirava sua temperatura e a ajudava a se banhar quando estava lúcida o suficiente para se levantar. Controlava sua pressão e a medicava sempre que necessário, Eu a alimentava e a hidratava. Enfim, eu cuidava dela como podia, Mas nada daquilo parecia o bastante e eu me sentia uma inútil.

Observei Larissa agarrar a borda do colchão com força enquanto colocava bile e ar para fora do estômago. Não existia mais nada para expelir, mas a sua ânsia não parava. Seus grunhidos e ruídos altos ecoavam em meus ouvidos, e então, o puxar sôfrego de ar como se ela estivesse sufocando.

Tentei tocá-la novamente, mas ela me afastou. Quando os espasmos cessaram, dando uma trégua para o seu corpo exausto, ela me encarou com lágrimas nos olhos.

— Vai embora, Ohana— suplicou em um sussurro

— Por favor, eu não aguento mais. Eu não vou conseguir. Só vá e me deixa! — Empurrou-me para longe e então caiu de lado na cama, chorando.

— Não vou embora. E você aguenta sim, Larissa — a minha voz saiu embargada, então limpei a garganta e falei com mais determinação

— Você aguenta!

— Tá doendo demais, amor! — berrou, afundando os dedos nos cabelos e cerrando as pálpebras

— E-eu preciso da Droga. Só um pouco, por favor. Não vou voltar a cheirar como antes, é só um pouquinho para parar de doer.

Num impulso ela voltou a se sentar, soluçando e chorando. Ela tremia muito e estava ensopada de suor. A sua vulnerabilidade era de cortar o meu coração.

Desisti de conter as minhas próprias lágrimas e a consolei com uma voz suave.

— Você não precisa da droga, amor. A dor vai passar, calma. Vai passar.— a deitei com cuidado, e acariciei seus cabelos molhados.

No criado mudo havia uma jarra de água e alguns remédios. Peguei o analgésico e ofereci para ela, desesperada em amenizar a sua dor.

Ela empurrou a minha mão com um tapa, jogando os comprimidos para longe.

— Eu não quero essa merda! Preciso é da cocaína!

Arfei assustada, pulando para fora da cama.

Larissa me olhou com os olhos arregalados, percebendo o que fizera.

— M-me perdoa! Eu não quis te machucar, me perdoa! — chorou arrependida

— Eu te amo, tanto. Desculpa! Não me abandone honey, eu te amo. — Levou os braços para frente, chamando-me de volta.

Larissa havia se transformado em um ser tão frágil, era angustiante vê-la daquela forma. Já não reconhecia a mulher forte de antes.

Ela estava tão fragilizada e abatida que era possível ver o quanto lutava. E eu esperava muito que ela vencesse essa batalha contra a droga.

Larissa segurou firme a minha mão, gemendo e se contorcendo a cada onda de dor. Afundando o rosto no travesseiro ela escondia o choro e, quando falou,sua voz soou abafada.

— Ohana, por favor... — Apertou minha mão com mais força e estremeceu

— Só um pouco do pó, eu juro. Por favor, eu faço o que você quiser. Por favor!

— Shiu... — Voltei a fazer carinho em sua cabeça, meus olhos estavam tão inchados pelo choro que eu mal conseguia enxergá-la. E meu peito arfava tanto que eu me sentia sufocar em lágrimas.

Às vezes, ao ver a intensidade de sua dor, eu me perguntava se não era melhor dar a droga para ela.

Era muito desesperador, mas eu voltava à razão e parava de pensar em bobagens, O sofrimento dela era tão intenso e palpável que eu também sentia fundo em meu coração. Mas eu precisava ser forte. Eu prometi a mim mesma que aguentaria.

— Você vai ficar bem. Vai ficar bem — sussurrei como um mantra.

Ela se aninhou em meu colo e eu a embalei como uma criança. Não sabia por quanto tempo aquilo duraria, seus gemidos e lágrimas pareciam não cessar nunca.

Por fim, o cansaço a venceu e ela dormiu. E então era a vez dos pesadelos, e os gemidos voltaram a reverberar pelo quarto, Aquela aflição durou quinze dias, alternando entre crises de vômitos, convulsões de dor, alucinações, súplicas para ter a droga de volta, agressividade e depois o arrependimento, muito choro e pedido de perdão.

Quando Larissa alucinava, Sam intervinha e ficava com ela, Nesses momentos eu só sabia chorar, esperando que ela voltasse à lucidez. Algumas noites a Sam dormia na mansão. Outras ela ligava a todo instante para saber como a amiga estava.

Nos dias em que eu passava sozinha com Larissa, eu precisava trancá-la no quarto enquanto eu ficava do lado de fora. Deitada em um colchonete eu prestava atenção aos barulhos do outro lado da porta.

Ás vezes eram gritos, outras vezes eram esmurros e coisas se quebrando, outras era somente um silêncio perturbador, Eu nunca dormia. Aquilo era um ciclo vicioso.

Sam chegou e eu finalmente pude me deitar, já não pregava os olhos por dias e daquela vez o meu corpo pedia por um descanso.

A gente se revezava o quanto podia. No entanto, eu sentia pena de Sam, ela estava grávida mas mesmo assim vinha me ajudar quando dava, ao invés de ficar em casa com Mike.

Porém na terceira semana, Graças aos Deuses, as coisas começaram a melhorar.

THE BEAST  -  OHANITTAOnde histórias criam vida. Descubra agora