36 - It's not goodbye

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(Ohana)

Eu não saí da mansão uma única vez durante um mês. Não gostava de mentir, mas precisei inventar um motivo para não retornar em casa nesse período.

Minha mãe e minha irmã achavam que eu estava viajando a trabalho, cuidando da suposta casa alugada em metrópolis enquanto Larissa cuidava dos negócios por lá. Era um absurdo, mas foi tudo o que consegui pensar em cima da hora.

Não me arrependi uma única vez, no entanto a crise de abstinência era pura agonia, e ela não só afligia a Larissa como a mim também. Mas se pudesse, eu iria pessoalmente ao inferno para salvar a pessoa que amo, e nossa, como eu a amava.

Larissa parecia saudável nos últimos dias, entretanto eu não conseguia simplesmente parar de me preocupar. Não era fácil, mas eu precisava ter confiança na sua recuperação.

E hoje, quando ela decidiu voltar a trabalhar e sair de casa pela primeira vez, guardei os receios dentro de mim.

Era necessário demonstrar a minha fé nela, para então ela ter mais fé em si mesma.

Depois de passar quase três semanas no desespero, sem poder fazer muita coisa além de assistir a sua aflição, era um alívio vê-la bem.

A partir da terceira semana o processo de desintoxicação deixou de ser tão doloroso.

Porém, Larissa entrou em uma melancolia profunda e estava sempre cansada nesse período, a ponto de não querer sair da cama.

Por muitas vezes eu a flagrava chorando ou sem vontade de fazer nada, nem se alimentar direito ela queria. E eu, por consequência, sofria da mesma exaustão.

Às vezes eu derramava tantas lágrimas que me sentia desidratada, com a garganta tão seca que mal conseguia engolir. Eu sabia que a ausência da droga no organismo seria devastadora para ela, mas era um mal necessário e com o passar do tempo, ela deixava de sofrer tanto. Estava se libertando. Voltando a viver.

Quando os episódios de alucinação deixaram de ocorrer, não pude mais me manter longe dela. Voltei a dormir ao seu lado em todas as noites, velando seu sono quando os pesadelos chegavam eu a aninhava em seus braços nas madrugadas.

A quarta semana veio como um sopro de ar fresco e, enfim, senti que podia respirar novamente. Sua fissura pela droga parou, ela não sentia a necessidade de usar.

Foi um alívio rever o ânimo reluzindo naqueles olhos castanhos, ela havia recobrado as forças.

Larissa finalmente era a mulher que eu conhecia, por isso, quando ela me pediu para aproveitar o dia e descansar, rendi-me à sua vontade. Eu realmente precisava recuperar as energias.

Acomodei-me na espreguiçadeira, deixando a brisa lamber minha pele e o sol aquecer meu corpo ainda molhado da piscina. Fechando os olhos eu suspirei, sentindo os lábios se abrirem em um sorriso preguiçoso.

Minha consciência foi flutuando para longe como uma pluma ao vento, mas fui arrancada do torpor por um barulho ensurdecedor de um helicóptero pousando.

- Quê? - murmurei desorientada. Abri os olhos e elevei a cabeça, olhando de onde aquele som vinha.

Coloquei os pés descalços no chão quente e me levantei, aproximando-me do heliponto com o coração subitamente acelerado.

Ainda era cedo demais para o seu retorno, Algo de ruim devia ter acontecido.

Aquele breve momento de alegria há pouco experimentado foi tomado por um medo, e então me preparei para o pior.

- O que aconteceu? - tentei perguntar assim que a vi descendo do helicóptero, mas minhas palavras foram engolidas pelo barulho das hélices.

Lágrimas não paravam de escorrer por seus olhos, e reparei o quanto eles estavam vermelhos e vidrados, consegui alcançá-la, segurando em seus braços que pediam inertes a cada lado de seu corpo encolhido, ali ela parecia tão pequena em sua dor.

THE BEAST  -  OHANITTAOnde histórias criam vida. Descubra agora