Capítulo 1 - Estacionamento

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No sonho

 Na terra do sol nascente, Aurora despertou com a suave luminosidade da manhã. Ela olhou para o lado e viu Antonio dormindo serenamente. Aurora apreciou a beleza única dele por alguns segundos. O sentimento entre eles era profundo, transcendendo o efêmero, mas o medo a atormentava.
Decidiu ser hora de partir, deixá-lo para sempre, enquanto o sol nascia no horizonte. Com passos suaves, se afastou, deixando para trás o refúgio que compartilharam. Mesmo partindo, ela nunca o esqueceria, e suas memórias seriam eternas.
Meses depois, sentindo o desejo crescer, Aurora decidiu escrever uma carta de amor para a sua alma gêmea. No final, a história deles era uma daquelas que a vida reserva, onde sentimentos profundos deixam marcas indeléveis, e o sol continuava a nascer, assim como as histórias de amor, mesmo quando separadas pelo destino. 


Realidade


 Mais do que atrasada, assim estava Camila para seu primeiro dia como assistente em uma galeria de arte. O seu sonho havia retornado, seus pesadelos constantes tiravam seu sono.
— VAMOS, CAMILA! — gritou Luiza, sua irmã mais nova.
— Respira, Luiza. No meu emprego, estar bem apresentável é fundamental.
Camila vestiu um vestido azul deslumbrante, cuja saia esvoaçante e decote delicado eram adornados com pequenas pérolas cintilantes, lembrando estrelas no firmamento. Combinava perfeitamente com sua pele parda, seus cabelos pretos cacheados que estava preso em um rabo de cavalo elegante.
— Certo, cê já está pronta? — Perguntou Luiza, avaliando a irmã.
Diferente de Camila, Luiza penteava seus cabelos loiros, além de seus olhos azuis esverdeados, expressaram surpresa ao ver quão bonita estava sua irmã.
— Minha nossa! Desse jeito, você atrai um genro gatão e rico para mamãe... E me deixa cheia de inveja.
Disse ela, empolgada por ver sua irmã usando um dos seus vestidos artesanais.
— Volta para seus desenhos, Lu, esse não é meu foco agora, muito menos homens "gatões e ricos"

 
☂ (é claro, caros leitores, vocês já podem prever o clichê que isso pode se tornar.) ☂


Camila sabia que a sua mãe, Maria Salles, havia trabalhado naquela mesma galeria. A família Luxemburgo era amplamente reconhecida por seus empreendimentos culturais, sendo uma das famílias mais proeminentes do estado de Pernambuco.
Eles não eram tão famosos quanto os Roux, os ruivos da moda, que também vendiam cosméticos e eram populares com suas roupas de luxo. Ambas as famílias eram estrangeiras, investindo profundamente na cultura brasileira. A mera menção dos Roux e Luxemburgo fazia Camila estremecer.


A ideia de confrontá-los parecia insensata, quase suicida, ainda mais quando se tratava de uma estudante de direito do primeiro período de classe baixa. Camila lembrava de quando era criança a Maria havia sido demitida grávida, as duas passavam necessidade.
Desde aquela época, quase todas as noites, tinha sonhos de lembranças distorcidas, de quando ela tinha apenas 4 anos. 

Mesmo após 18 anos, aquelas lembranças ainda atormentavam ela. Ainda restava a angústia. A busca por um modesto emprego, qualquer vaga em uma das galerias da família Luxemburgo. Tinha um propósito maior: desvendar seus sonhos, que eram sinônimos de medo.
Camila abraçava o desafio. Enfrentar uma dinastia tão poderosa não era nada que a intimidasse; ao contrário, alimentava sua determinação.
A determinação de Camila estava firmemente fixada em encontrar a verdade, mesmo que isso significasse desafiar o poder inabalável do império Luxemburgo. E não deixar que sua mãe descobrisse.


Camila passou pelo quarto da mãe Maria que ainda dormia para o turno da noite, ela era camareira de hotel. Camila sentia um arrepio em imaginar enganar sua mãe daquele jeito, mesmo depois de tudo que ela fez por ela.
Sua mãe deixava seus cabelos loiros cacheados soltos pelos lençóis da cama, pele branca, exposta por rugas e orelhas devido ao intenso trabalho que desde de muito jovem a forçava a vivenciar.

No nascer do solOnde histórias criam vida. Descubra agora