Can I still be the one? [ Harry Styles ]

Always was and always will be my one

Nothing is ever perfect
Nothing is ever what it seems
But we gotta make it work ya
We gotta chase all our dreams
— Lovesick, Raja Kumari.

Outubro, 2023.

Harry

Era manhã de quarta-feira. 25 do décimo mês. 730 dias depois do "aceito" mais importante que já disse e ouvi em recíproca honestidade. 2 anos desde que Summer e eu subimos ao altar e juramos que seríamos nós dois, não importava o que viesse a acontecer. Na alegria e na tristeza.

Olhei o celular, e notei ser sete e vinte e oito. Nenhuma notificação no aparelho que desde a noite anterior eu não havia retirado do modo avião. 

Eu e os caras estávamos tendo reuniões sem parar sobre todo o processo da nova turnê do ano seguinte. Anos separados também queria dizer nos adaptarmos a trabalharmos todos juntos novamente, o que era bem difícil, já que nos acostumamos a ser donos de nossas próprias coisas e ali, teríamos de dividir o bastão. Mas valia a pena, todos concordávamos.

Porém eu quis tirar algum tempo para Summer e eu comemorarmos aquele dia. Fiz uma reserva em um restaurante caro, escolhi um terno bonito e pedi que ela fizesse o mesmo. Abri todas as portas para que ela entrasse e ela agradeceu sorrindo a cada gesto. Pedimos entrada, prato principal e sobremesa assinados por um chef famoso, assim como uma taça ou duas de um vinho absurdamente caro. Retirei do bolso uma caixa com um anel bonito com uma pedra roxa delicada e dentro a inscrição do nosso maior clichê "Can I be the one?". Ela sorriu agradecida. Nós brindamos a nós e depois de duas horas, deixamos o restaurante. 

Deixamos para trás a cena perfeita, de um relacionamento perfeito e cheio de floreios. Cenas bonitas que celulares curiosos capturaram e estariam em um site qualquer em poucos minutos. Era tudo perfeito. O relacionamento ideal.

Mas ninguém sabia que naquela noite, quando fazíamos o caminho de volta para casa, eu e minha esposa sequer trocamos duas palavras. Deixávamos que um música qualquer tocasse no rádio para que o silêncio fosse preenchido e assim seguíamos afundando naquele vazio profundo.

Ninguém sabia que quando chegamos em casa, Summer tentou me beijar e eu não consegui deixar que mais que um selar simples de lábios acontecesse. Ela suspirou pesado e se virou para subir as escadas, mas se virou novamente para me encarar e em um ar cansado dizer:

— Eu entendo, Harry. Realmente entendo a dor e a angústia que é todo esse tempo, tudo isso que temos de escutar de pessoas que acham que estão nos aconselhando quando na verdade estão nos quebrando em pequenos pedaços sempre que nos dizem que talvez não seja tão fácil ter um filho porque temos carreiras complicadas para se criar uma criança, tempos complicados de manejar ou intenções complicadas de entender. - Ninguém sabia como era ouvir a voz de Summer se quebrar daquele jeito. — Eu realmente sei que isso é uma merda, tá? Mas Harry, por Deus, nós não temos como passar por isso sozinhos, sendo estranhos dentro da mesma casa só porque não sabemos mais como dar suporte um ao outro. Só porque estamos sentindo tanto, que não podemos estar juntos. Eu não consigo.

Ninguém sabia que eu não respondi a ela porque tinha tanto que eu queria dizer, tanto que queria chorar, e tanto que eu não queria jogar sobre ela. Ninguém sabia que naquela noite deixei minha esposa subir as escadas acompanhada apenas de Otto — que ultimamente havia escolhido um lado e não era o meu — enquanto eu preenchia um copo com um pouco de whisky e tomava espaço no nosso enorme sofá, na nossa enorme casa.

O que ninguém de fato sabia era que os primeiros meses desde que decidimos adotar foram infernais. Cheios de perguntas, entrevistas, documentos, acompanhamento e isso sem que sequer conhecêssemos nenhuma criança. E eu sabia, assim como Summer também sabia, que era o certo a se fazer, já que deveria haver certa certeza sobre a nossa capacidade para sermos responsáveis por uma vida, mas era… exaustivo.