Epílogo

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Alguns, muitos anos depois.

I swear, I lived.

Harry

Eu encaro minhas mãos e me questiono quando as rugas haviam começado a surgir. Eu não sei dizer. A muito talvez. Um microfone se encontra a minha frente e uma multidão aguarda o que eu tenho a dizer.

O papel a minha frente está em branco, bem como estivera na noite anterior. Não há o que ser escrito afinal. Com ela tudo sempre funcionou com espontaneidade. Limpo minha garganta e bato no microfone apenas para ter certeza que está ligado.

Guardo o papel em branco no bolso da calça e respiro fundo.

— Eu sei que todos vocês conhecem a minha história e de Summer e por isso não vou contar como nos conhecemos, como terminamos e nos encontramos depois e todas essas coisas. Não. - respiro fundo mais uma vez - Eu quero contar sobre as coisas que ela gostava. - por um momento me viro, olhando a minha esquerda onde fotos e flores repousam, pouco mais abaixo uma caixa grande de madeira polida e envernizada, com flores de todas as cores e tipos dentro se encontra, com o corpo dela ali usando um vestido amarelo. Ela sempre ficou linda de amarelo e naquele momento não é diferente - Summer adorava café. Recém coado no método tradicional, sem vir de uma cápsula. Ela adorava o cheiro daquilo pela casa de manhã. - sorrio de canto quase conseguindo sentir o cheiro do café ali - A fotografia eu não preciso nem dizer. Ela era apaixonada por sua profissão. Sempre foi. Os olhos dela sempre brilharam enquanto ela trabalhava. Acho que por isso eu sempre adorei tê-la trabalhando comigo. Apenas para ver aquele brilho nos olhos dela. - encaro seus olhos que agora jazem fechados e sinto o peso do mundo em meus ombros. Me apoio na peça de acrílico a minha frente apenas para ter apoio - Ela adorava cores. Não importava onde ela estivesse, ou o que fosse, ela daria jeito de colocar cor no lugar de algum modo. Isso esteve claro para mim desde o início quando ela me disse querer portas amarelas em nossa casa. - sorrio de canto - "Se a casa não tiver portas amarelas eu peço o divórcio". - uso uma tentativa frustrada de imitar sua voz, mas que arranca risadas pelo lugar - Summer adorava os amigos e ter todos reunidos em casa a maior quantidade de vezes possíveis. Ela inventava coisas para colocar todos em casa, fosse onde fosse. Ao redor da mesa no quintal, na sala de estar, comendo alguma coisa que ela preparou ou apenas comendo pizza e bebendo o que fosse que Louis e Letícia inventassem. - encaro os dois que sorriem para mim, enquanto Lett seca o canto dos olhos - Summer considerava os amigos uma família que ela havia escolhido para si e deixava isso claro para quem quisesse saber. Eu só tenho uma irmã, Summer era filha única, mas meus filhos têm mais tios do que eu sou capaz de contar em uma mão. - encaro todos de um modo geral e vejo sorrisos soltos e misturados a lágrimas - Summer adorava ter nossos filhos e netos por perto. A felicidade dela era saber que estavam todos vindo para o Natal aos fins de ano. - encaro Davi e Alice que sorriem para mim enquanto Davi abraça a irmã que começará a chorar novamente - Summer gostava de carinho no cabelo. Gostava de acordar de manhã comigo do lado quando brigávamos na noite anterior, apenas pela segurança de saber que apesar da briga, nós estaríamos ali e por isso eu ficava na cama até ela acordar. Ela gostava de usar minhas camisetas. Gostava que eu cantasse para ela as músicas que escrevi e nunca lancei para o mundo. Gostava de enroscar sua perna na minha para dormir. Gostava de cantarolar pela casa a todo o momento. Gostava de ficar abraçada no sofá enquanto chovia e de ir a praia em dias quentes. Ela gostava de acordar em certos dias e me sacudir até que eu acordasse apenas para pedir que fossemos para alguma cidade vizinha passear. - solto uma risada anasalada me lembrando de sua cara de pidona - "Vamos Harry, eles devem ter um sorvete ótimo. Ou talvez tenham um bolo que nunca comemos." Era isso que ela dizia para me convencer e sempre dava certo. - tomo.um bocado de ar e torno a encarar as pessoas a minha frente - Parece que estou contando coisas sem sentido, mas não é isso. Muitos que estão aqui hoje são jovens, têm a vida toda pela frente, outros, assim como eu, tem menos tempo, mas algo que nós temos é tempo. Tempo de aproveitar a vida nas pequenas coisas que ela tem a oferecer. Tempo de aproveitar o cheiro de café pela casa, de reunir os amigos na sala de estar, de fazer carinho no cabelo de quem amamos, de acordar em um dia e apenas sairmos de casa sem destino a lugar nenhum, apenas em busca de um bom sorvete ou um bolo exótico. Ainda temos tempo de viver essa vida fazendo das pequenas às grandes coisas. Summer se foi, mas eu não lamento por ela não ter tempo para fazer mais, por que Sun fez tudo que quis fazer. Summer viveu tudo que quis viver. Summer foi quem ela quis ser. - torno e encarar o caixão sentindo meus olhos arderem pelas lágrimas - E eu fui um sortudo de merda por viver uma vida inteira com ela. Por ter filhos com ela e por ter visto nossos netos crescerem. Fui um sortudo por ela sempre segurar minha mão e me arrastar para viver uma vida linda com ela. - uma lágrima escapa de meus olhos e eu apenas a deixo cair, eu não preciso esconder aquilo e sei disso - Acho que se ela estivesse aqui o que ela diria para vocês é que independente do tempo que vocês tem, vivam uma vida gloriosa. Dêem risadas, reúnam os amigos e a família, abracem as pessoas, enrolem na cama com aqueles que te amam, depois levantem e vão desbravar o mundo juntos. Tenham seus momentos de solitude também. Bebam uma xícara de café enquanto observam os carros passarem na rua. Leiam uma história. Abracem a si mesmos. Hidratem o cabelo. Façam coisas que os fazem sentir mais vivos, por que quanto mais vivos vocês estiverem em vida, mais vida vão deixar por aqui, mesmo depois de partirem. - respiro fundo tomando alguns segundos no silêncio daquela igreja enquanto vejo a luz do sol entrar pelas vidraças coloridas inundando o local - Summer me contou uma vez que o avô a chamou de sol e acho que nunca um apelido fez tanto sentido. Ela foi o sol, foi o verão, foi o calor. Ela brilhou, sempre trazendo alegria e uma sensação de lar consigo. Então sejam como o sol, assim como ela foi. Tragam luz e brilho para esse mundo, e mesmo se em alguns dias sua luz se for por conta das chuvas e tempos nublados, saibam que ela vai voltar. Ela sempre volta. - encaro as pessoas a minha frente mais uma vez - Sun se foi e ela não vai voltar, mas a luz que ela espalhou por aqui. Essa sim vai estar pra sempre com a gente. - me afasto do microfone e sigo até o caixão tocando as mãos frias de Summer e me inclinando devagar até que meus lábios toquem sua testa - Obrigado por tudo amor. Um dia nos vemos de novo. - sussurro para ela voltando a minha postura normal. Deixo um carinho breve em suas mãos e sorrio - Ainda posso ser o único? - sussurro e a voz dela me vem ao fundo da mente como uma lembrança recente.

Sempre foi e sempre vai ser você, Harry.

É o que ela responderia. E eu, mais uma vez na minha vida, noto o quão sou sortudo por sempre ter sido o único.

[...]

Estou sentado em uma cadeira no quintal. Pela casa amigos e família se encontram em todos os cantos em meio a conversas baixas sobre qualquer coisa. Não sei se eles tem clima para conversas que não sejam sobre o recente enterro de Summer.

Sentado naquela cadeira eu me pergunto, como será a vida dali para frente sem ela e a resposta me vem quase que automaticamente. Igual ou o mais próximo disso possível.

Summer não iria querer que minha vida parasse por que ela havia partido, e eu não a pararia. Obviamente não irei arranjar outra pessoa, por que ninguém irá superar o amor de Summer e eu também já estou velho demais para isso e satisfeito com o amor que vivi. Mas de um modo geral, a vida vai seguir.

Vejo uma garota vir em minha direção. Está cada dia maior, e nela há muito de Summer.

— Vovô. - Valerie me chama faltando alguns passos para alcançar o banco ao meu lado. Ela é a mais velha de todos os meus netos. Já está na casa de seus dezesseis anos.

— Sim querida. - toco seu nariz assim que ela se senta ao meu lado a fazendo rir. Ela tem os olhos de Summer, por mais que geneticamente seja impossível, levando em consideração que ela era filha de Davi. Mas de todo modo, ela tem os olhos da avó e eu posso garantir isso.

— Pode continuar me contando aquela história? - ela pede em um tom gentil e eu junto as sobrancelhas em fingida confusão.

— Qual história? - questiono e ela deixa os ombros caírem revirando os olhos.

— A sua e da vovó. - ela responde como se aquilo fosse óbvio e era. Por que aquela é a única história pela qual ela pede sempre que nos visita.

Eu e Summer havíamos começado a contá-la a algum tempo. Quando Summer ficou doente a memória foi ficando mais fraca a cada dia, então eu me mantinha contando a história sozinho. Para Valerie e para ela. E Sun partiu antes que eu pudesse terminar.

— Você se lembra onde paramos da última vez? - questiono e ela pensa por um momento.

— Na parte em que você fez a surpresa para a vovó no show para contar que meu pai ia ser filho de vocês. - os grandes olhos castanhos brilham em empolgação e eu sorrio.

— Ah, agora me lembro. Vou contar para você então, a história de quando a vovó descobriu que estava grávida da tia Alice e como ela me contou. - Valerie sorri e apoia os cotovelos na mesa a sua frente, e seu queixo em suas mãos, preparada pelo que estava por vir - Então, eu estava voltando de uma turnê e cheguei em casa no fim da tarde. Sua avó estava na sala...

E daquele modo eu inicio, outra história que vivi com Summer.

Daquele modo eu inicio outra história de uma vida inteira de histórias com a mulher que amei, ainda amo e vou amar pelo resto dos meus dias.

Daquele modo eu inicio outra história de uma vida inteira de histórias com a mulher que amei, ainda amo e vou amar pelo resto dos meus dias

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Can I still be the one? [ Harry Styles ]Onde histórias criam vida. Descubra agora