4. Brigas

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Pedro Tófani Palhares.
São Paulo, Brasil.
03, de Julho, de 2018

Vem sendo cada vez mais complicado fingir que está tudo em seus conformes.

Ultimamente, minha vida tem sido bem agitada, o que faz com que eu tenha cada vez menos tempo para os costumes antigos.

Cada vez menos tempo para o João. E ele idem.

Claro, não podemos ser ingratos! Isso é resultado de um trabalho lindo, feito com muito amor, para que a realização do maior sonho de João seja conquistado.

Lobos ainda nem nasceu, mas já é uma conquista linda e repleta de talentos unidos.

Porém, algumas coisas não tem sido tão lindas assim.

Meu namoro tem estado em péssimas condições, em um processo de ruína constante.

Eu odeio ter que admitir isso, mas é necessário.

Estamos em um momento complicado.

Meus pensamentos, quando não estão em algo do trabalho, ou faculdade, estão repassando as brigas e discussões com meu namorado.

Não sei ao certo quando isso aconteceu, mas tenho estado com a cabeça nisso a tempo suficiente para começar a entender.

Eu penso muito, muito. Até demais.

Hoje mais cedo, eu e Vitor tivemos uma discussão sobre nossos gatos, ontem a noite sobre nosso jantar, pela manhã sobre uma música e por aí vai.

Tem sido desgastante não conseguir trocar três palavras com ele sem que briguemos.

Me jogo no sofá da sala, mexendo no celular, a toa. Sem pensar muito no que está aparecendo na tela.

- Pedro, você vai querer jantar? - A voz dele sai quase sem sentimento algum, mas eu o conheço e sei que está chateado.

- Vou, você vai pedir fazer alguma coisa ou pedir?

- Pedir. Amanhã cedo vamos pra UFO, não quero ter que arrumar bagunça. - Assinto.

- Quer que eu peça?

- Pode ser.

- O que vai querer?

- Tanto faz.

Pego o celular e rolo o aplicativo de comida, procurando pelo de sempre.

- Quanto deu? - Ele pergunta, enquanto se senta ao meu lado no sofá.

- Já paguei. - Digo e bloqueio o celular, enquanto o encaro.

- Não gosto quando você faz isso. - Reviro os olhos, sorrindo.

- Tá tudo bem, na próxima você banca nosso encontro.

Ele sorri.

E eu fico feliz e sorrio três vezes mais.

Ficamos em silêncio por longos segundos.

- Desculpa por mais cedo. - Digo.

- Tá tudo bem, a culpa foi minha.

Me aproximo dele e o coloco em meu colo. Ele passa os braços por meu pescoço e eu em sua cintura.

- Não, a culpa foi nossa. - Ele demora um pouco, mas assente.

João me olha e me beija e é como se toda a angústia constante que estava em mim sumisse no mesmo instante.

- Eu te amo. - Ele sussurra na minha boca.

- Eu também te amo, baby.

Não sei ao certo quando nosso relacionamento começou a se abalar tanto, mas acho que nosso distanciamento é uma boa hipótese.

A gente fica tão acostumado com o costume, que acaba parando de prestar atenção ao que está fora dele.

Eu e João sempre fomos prioridade, sempre foi eu e ele. Quando Lobos virou a prioridade - com motivo - acabamos nos deixando de lado - também com motivo.

Não soubemos nos priorizar sem "despriorizar" o nosso trabalho.

E foi aí o erro.

Tendemos a necessidade da rotina agitada, no trabalho e o relance do fim da faculdade.

As reuniões, as aulas, os banhos mal tomados, os cafés apressados, os almoços engolidos, as conversas monossílabicas, o foco apenas em um único objetivo.

Quando menos percebemos, nossa rotina era outra, completamente diferente. E ela não tinha tempo para beijos, conversas bobas, carinhos, transas, elogios, cheiros, banhos, brigunhas bestas e todo o nosso resto.

É aí que entra o grande problema, isso cria o caos desconhecido, pela falta do anterior. Não estávamos preparados para isso.

Sendo muito sincero, apesar de muito doloroso, não sei se estamos preparados pra isso.

E provavelmente, eu esteja sendo o mais otimista possível, desejando com a minha alma que tudo dê certo.

Já que, caso o contrário, isso me mataria.

- O que foi? - João pergunta, ao notar meu constante olhar penetrado em seu rosto.

- Nada.

INEVITÁVEL, pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora