10. Pensamentos

397 41 69
                                    

Pedro Tófani Palhares.
São Paulo, Brasil.
23, de Agosto, de 2021.

Assim que eu e Arthur chegamos em minha casa ontem, as 00:35hs, decidi tomar um banho e dormir.

Graças ao cansaço do dia e toda a confusão desgastante em mim, foi só colocar a cabeça no travesseiro que eu apaguei.

Acordei as 10:00hs, sem meu noivo na cama. Puxo o celular da mesinha de cabeceira e percebo algumas mensagem.

Arthur havia saído para visitar sua prima que mora aqui em São Paulo, como tinha me dito que faria.

Levanto com um certo pesar e tomo um banho quente; como alguma coisa qualquer e me sento no sofá.

Estou parado. Desde ontem.

E eu sei o motivo.

Eu só não imaginava que tal motivo me causaria tal efeito.

Eu tinha em minha mente que reencontrar com Jão seria natural, como reencontrar com a Malu e o Renan.

Talvez, esse pensamento tivesse surgido a partir do tempo que se passou.

3 anos.

Fazem quese 3 anos desde que fui embora para BH, com a intenção de passar apenas um ano.

Com a intenção de apenas relaxar e respirar, para consegui me reerguer e voltar a minha atual cidade.

Mas os planos foram brutalmente interrompidos, quando uma pandemia mundial aconteceu. Isso me deixou extremamente desestabilizado por um tempo.

Em um certo momento encontrei Arthur e, em nove meses de relacionamento, ele me pediu em casamento.

E eu aceitei.

Decidimos que iríamos morar em São Paulo, para que eu pudesse voltar.

E assim, parei aqui novamente.

Me reencontrei com meus amigos e, com Jão.

E foi aonde a estranheza aconteceu.

Eu não esperava que meu coração disparasse no exato momento que eu o visse.

Não esperava que sentisse a vontade extrema de lhe tocar.

Não esperava que sua vida tornasse-se tão importante, ao ponto de por vezes eu esquecesse que estávamos em cinco pessoas e não apenas duas.

Não esperava que fosse tão difícil vê-lo sair daquele restaurante, pra longe de mim.

Não esperava pensar em como ele está lindo.

Não esperava pensar se ele havia achado alguém, ou ao menos ficado com alguém.

Não esperava nenhuma reação fora do comum.

Mas todas elas vieram em um turbilhão de perguntas e uma angústia que eu não conseguia entender.

João me lembrava que meu corpo poderia clamar por alguém, sem nem ao menos tocar essa pessoa.

João me lembrava que eu poderia facilmente cometer loucuras inimagináveis por alguém.

João me lembrava coisas que eu não esperava lembrar.

E isso me deixa aterrorizado, porquê eu vou me casar em 3 meses.

Quando são 14:00hs, Maria Luísa me liga. Atendo de imediato.

- Oi, amor! - Ela diz. - Tá ocupado?

- Oi! Não, não tô fazendo nada.

- Hum, então... Tava pensando em passar aí, sabe? Queria falar com você. - Ela explica, com um tom meio esquisito.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não! É só que eu queria conversar com você pessoalmente.

Apesar de achar estranho, não vejo problemas.

- Tudo bem, tô te passando o endereço.

- Chego em minutos! - Ela diz e finaliza a chamada.

Organizo a casa, apesar de ela não estar em desordem; preparo algo para comermos e fico no aguardo de minha amiga.

Que não tarda a chegar.

- Oi! - Ela diz e me abraça.

- Eai? Fica a vontade! - Digo. Ela entra e senta-se no sofá.

Eu sento ao seu lado.

- Então, cadê o Arthur?

- Foi visitar uma tia dele que mora aqui.

- Entendi. - Ela diz e se cala.

Passamos alguns segundos em silêncio.

- Maria Luísa, o que foi?

Ela suspira.

- Como você se sente? - Franzo as sobrancelhas, confuso.

- Hum... normal?!

Ela ri e olha bem nos meus olhos.

- Não, Pedro... Tipo: como você se sente depois de ontem.

- O que aconteceu ontem? - Faço-me de desentendido.

- Dá pra você parar de fingir que eu não te conheço a anos e me responder de vez!

É a minha vez de suspirar.

- Estou bem, Malu.

A garota entorta a cabeça para o lado e me analisa.

- Sabe... - Ela começa com a voz baixa. - Não esperava que ele fosse, mas também não me surpreendi. E assim, dá pra quem quiser ver que ele ainda gosta de você. - Prendo a respiração. - Pedro, eu só tô aqui porquê te conheço e conheço o Jão, porquê sei quando as coisas saem do "jeito vocês". - Ela finaliza com aspas.

- Como assim "jeito vocês"? - Ela sorri.

- O mundo ao redor não existe, só existe vocês. O charme de tudo é vocês. A alma.

Fico em silêncio por longos segundos.

Isso não podia estar certo.

Desprezo minha mente ao pensar que não deveria ter voltando.

Sinto-me nojento ao desejar que nunca mais visse João.

Minha mente podre o venera.

Ele é a obra-prima pintada pelos maiores pintores; a visão desejada por qualquer que seja o apreciador.

- Eu também ainda gosto muito dele.

Ela me abraça quando uma lágrima cai.

INEVITÁVEL, pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora