11. Desvaneios

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Jão Romania Balbino.
São Paulo, Brasil.
15, de Setembro, de 2021.

Minha vida era muito mais calma antes de tudo o que vem acontecendo.

Eu estava indo bem. Seguindo bem.

Mas, desde Agosto, minha vida tem sido uma eterna confusão.

A correria para lançamento de Pirata, meu mais novo filho, mistura-se com a recorrente notícia de que tenho um casamento para comparecer no dia 13 de Novembro.

Pedro Tófani havia me convidado para a cerimônia de casamento dele com Arthur.

Renan está uma pilha de nervos, já que eu não consigo me concentrar em nada desde a volta do moreno.

Talvez ele já tenha xingado Pedro até a última das suas gerações.

- Jão... - O moreno diz, passando a mão em seu rosto. Com semblante cansado e prestes a desistir, Renan me olha. - Isso é importante pra caralho, sabia?

Fecho os olhos e respiro fundo.

Eu estava sendo um péssimo profissional.

- Me desculpa... O que você dizia?

O moreno estava prestes a me responder e voltar a dizer algo, porém, ele apenas nega com a cabeça e fecha o pequeno caderno que estava em suas mãos.

- Resolvo isso depois. - Ele diz, claramente cansado e um pouco decepcionado.

É como uma faca no meu peito.

- Não, podemos fazer agora! Eu vou prestar atenção, eu juro! - Exclamo, como uma criancinha desesperada ao despontar alguém que esperava mais de você.

- Tá tudo bem, Jão. Não é fácil pra você e eu posso fazer isso com a Gi depois.

Renan se levanta do sofá da minha casa, organizando suas coisas para ir. Me sinto horrível. Quando ele vai, me sinto pior ainda.

Quando são 17:15hs, recebo uma ligação da minha irmã. Converso com Bela sobre Pedro e ela me aconselha, não sei se vou escutá-la, mas vou pensar.

Tomo um banho e me deito, ainda chateado comigo pela negligência ao meu trabalho. Ligo para Gi.

Ela atente.

- Alô?

- Oi, Gi! - Digo. - Hum... Renan falou com você?

- Falou sim. - Ela diz com uma certa potência.

- O que ele queria resolver? - Minha voz soa baixa, envergonhada.

- Acho que antes de resolver isso, precisamos resolver outra coisa! - Minha prima exclama e eu suspiro. - Posso passar aí?

- Agora?!

- É. Agora!

- Pode.

- Chego em 30 minutos.

Ela encerra a ligação e eu me jogo em meu sofá.

- Entende o que eu quero dizer? - Giovana finaliza todo o seu monólogo com uma pergunta.

Minha mente entrou em diversos devaneios durante cada uma de suas palavras, mas consegui me manter adentro de tudo, já que, aquilo era uma tentativa de me levantar de onde lá eu estivesse caído.

- Sim, eu entendo. - Digo. - Concordo com tudo, só não sei como me fazer parar de pensar e de me importante tanto assim.

Ela me dá um sorriso amarelo, que me conforta o suficiente.

- Sabe, que culpa eu tenho em ainda amar o Pedro?

- Nenhuma. Não tem culpa alguma. Mas ele também não carrega culpa em estar noivo!

- É. Tudo bem ele está feliz e superado, mas eu não! Então, seria ruim se eu não fosse ao casamento?

- Olha, Jão... Você não é obrigado a comparecer. Pode até mesmo inventar uma desculpa, não seria estranho se você não fosse. - Ela diz. - Agora, tenha a consciência de que ele ficará chateado, mas ainda não será culpa sua. Não é culpa sua o que você sente, nem culpa dele.

Aquela conversa não era agradável, ela incomodava muito, mas eu precisava dela.

- É, eu entendi. - Finalizo.

Giovana me abraça e eu correspondo.

- Quer falar sobre o trabalho agora? - Ela pergunta e eu assinto. - Tudo bem, vamos lá!

Sorrio com sua empolgação.

Me concentro ao máximo que posso e resolvo algumas questões.

Minha prima parte para sua casa às 19:45hs e eu me vejo a sós novamente.

Minha mente retorna a Pedro e Arthur e como em um filme, reassisto cada pequena cena deles.

Eles combinam, eu concluo.

Arthur gosta muito de Pedro, isso é notório a qualquer um que veja.

Mas ele não gosta mais do que eu.

Reprimo minha mente imediatamente.

O que eu estava fazendo?!

Eu odeio Arthur. Isso é uma mentira, pois ele é tão doce que seria impossível odiá-lo.

Mas, por vezes, eu gostaria que ele não existisse.

Mas ele faz bem ao Pedro.

Pedro é feliz com ele.

Eu quero que Pedro seja feliz, eu juro que quero, de verdade!

Mas, não quero que ele seja mais feliz com Arthur do que comigo.

Automaticamente, me vejo desejando do fundo dos meus ossos: não ame ele como me amava.

Me condeno por isso.

INEVITÁVEL, pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora