14. O grande dia

403 40 108
                                    

Jão Romania Balbino.
São Paulo, Brasil.
13, de Novembro, de 2021.

Hoje.

Hoje é o grande dia.

Hoje eu verei o amor da minha vida casar-se com outra pessoa.

Repasso isso em minha mente, enquanto me arrumo.

São 11:20hs. O casamento está marcado para 12:00hs.

Estou praticamente pronto, com minha prima na sala, a minha espera.

É mais torturante do que deixo transparecer.

Minha mente não se desvia das nossas cenas; todas colocadas em uma estante.

Me sinto tenso, triste.

Isso: triste.

Não há desespero, não há raiva, não há necessidade, não.

Só há tristeza. Pura e febril.

Me agarro a ela.

Saio daquele quarto e vejo Giovana sentada no sofá. Ela usava um vestido turquesa até as canelas e seu cabelo se prendia em uma trança raiz, com um tênis que haveria um salto escondido. Linda.

- A mulher mais linda do Brasil! - Descontraio e ela ri, vindo até mim.

- Você está lindíssimo também! - Sorrio para a menor.

Eu usava um all-black, juntamente de um blazer também preto e um sapato social.

- Vamos? - Pergunto. Ela assente.

Seguimos para o carro.

Ao chegarmos no lugar, o relógio marcava 11:45hs. Descemos juntos, com os presentes e convites.

Giovana e eu andávamos de mãos dadas. Ela sabe que não estou nos meus melhores dias.

Quando nossas entradas são autorizadas, sinto um beijinho em meu ombro. Sorrio para minha prima e entramos.

O lugar estava devidamente decorado, em tons de verde e branco. Estava lindo.

Era bem diferente de Pedro, provavelmente Arthur cuidou mais dessa parte. Era tudo chique.

Ambos os noivos ainda não haviam chego, mas parte de suas famílias e amigos já.

Nos juntamos no grupo da faculdade, que após anos, estavam todos juntos novamente.

- Quem diria que ele seria o primeiro! - Bruno diz e rimos.

Me sentia desconfortável, extremamente desconfortável.

Calma, Jão, respira.

Saio do grande salão para tomar um ar.

Me esgueirando pelos corredores, subi ao segundo andar do lugar, me posicionando a uma grande sacada.

Batia um vento forte, apesar do sol escaldante. Era gostoso.

Respiro fundo, tentando melhor tudo que está em mim. Quase choro.

- Jão? - Viro-me com tudo ao ouvir sua voz.

Ele usa um terno branco, ainda sem gravata e blazer. Seus fios longos e arrumados estão lindos.

Ele está tão maravilhoso.

Ele é tão maravilhoso.

- Oi.

Pedro se aproxima de mim. Estranhamente, o sinto para baixo.

Ele deveria estar feliz, não é?

- O que faz aqui?

- Apenas tomando um ar. - Respondo normalmente. Ele assente.

Pedro me encara, depois olha para o chão e depois para os lados, até voltar-se rapidamente para mim.

Ele está muito estranho.

- Aconteceu algo? - Antes de filtrar, me arrisco a dizer.

Ele não reage.

Nem confirma, nem nega.

Passa alguns segundos estático.

Até que ele assente com a cabeça.

- O que aconteceu? - A preocupação me atinge em segundos.

Dou um passo para frente sem nem ao menos perceber.

- É tudo tão complicado. - Ele sussura, mas eu posso ouvir.

- O que é complicado?

- Eu.

Um vinco se forma entre minhas sobrancelhas.

- Como assim, Pedro? - Suas meias palavras me faziam surtar.

Estava preocupado e ele não abria o jogo!

- Uma hora tenho certeza, outra hora não. Uma hora sigo incrivelmente bem, em outra hora não. As vezes, penso em desistir de decidir as coisas, pois sei que em algum momento meu cérebro trabalhará a racionalização das situações mais sentimentais possíveis e, assim, as coisas vão acabar terríveis. Não só as coisas. Eu. E não só eu. - Seu monólogo estranho e confuso termina, enquanto tento racionalizar alguma de suas palavras.

Estou ficando estressado com tudo isso.

- O que quer dizer?!

Ele responde de imediato.

- Você! - Ele grita. Não com raiva, nem rancor. Cansado. - Nós dois! Eu e você, João!

Minha confusão é enorme, mas já não por não entender, mas para saber até que ponto ele quer chegar.

- Pedro... - Antes que eu conseguisse dizer uma só palavra, ele avança em sua fala.

- Eu ainda te amo pra caralho, Jão... - Ele assume, seu tom é quase culposo.

Não me mexo, ou reajo.

Não sei o que dizer ou fazer.

"Eu também te amo pra caralho?"

O que estaria fazendo se dissesse isso.

Interrompendo minha mente, ele continua:

- E, nos últimos meses, a única coisa que consigo pensar é em você. Não sei como seguir, não sei o que fazer. - Ele dá um suspiro. - Não sei como subir naquele altar e dizer todas as palavras bonitas que ainda nem tenho finalizadas, sabendo que quem ocupa minha mente, coração e alma é você. Apenas você.

Meu coração está acelerado. Mal posso respirar.

Olho no fundo de seus olhos e só vejo a mais pura verdade. A paixão, o amor, a luxúria.

As pupilas dilatadas em um olhar doce, carinhoso.

Ele não olhava assim para Arthur.

Nunca havia visto ele olhá-lo dessa forma. Nunca.

Era apenas eu.

Não sei o que me aconteceu, quais as forças, a cara de pau e qualquer outra coisa que me surgiu, mas, sem querer, me vejo proferindo as seguintes palavras:

- Não suba naquele altar. Não se case com ele.

Pedro me olha atento. Espero por seu protesto.

Mas ele não vem.

Um pequeno sorriso brota em seus lábios avermelhados, como se fosse exatamente aquilo que ele quisesse ouvir.

Não preciso de palavras, não preciso. Entendo apenas com o olhar a sua resposta.

Tomo sua mão na minha e corro dali.

Corro com o amor da minha vida.

INEVITÁVEL, pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora