9. Reencontro

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Jão Romania Balbino.
São Paulo, Brasil.
22, de Agosto, de 2021.

Estou a caminho.

Estou dentro do carro, a caminho de encontrar com Pedro Palhares, após anos.

Não consigo me concentrar direito em nada. No rádio toca algo que eu não sei o que é, a única coisa que estou fazendo é dirigindo no modo automático do meu cérebro.

Olho o relógio, são 18:20hs. Decidi atrasar um pouco propositalmente para tentar dar a sorte de Renan ou Malu já estarem lá. Espero que dê certo.

Paro no sinal e encaro a cor vermelha estridente.

Minha cabeça gira em círculos, enquanto eu tento mais e mais manter a calma.

Eu pergunto ao semáforo se as coisas vão ficar bem e ele responde: "Eu não sei".

A luz muda para verde e eu sigo meu caminho.

Desligo o som, irritado com aquela música irritante que nem ao menos me recordo de qual era.

Viro em mais algumas esquinas, até chegar no lugar marcado.

Era um restaurante conhecido por mim, Pedro sempre gostou da comida daqui, não me surpreende a escolha.

Ele deve querer mostrar o lugar ao seu noivo.

Respiro fundo e vou a porta de entrada. Digo meu nome ao recepcionista e ele me encaminha até uma mesa afastada.

E é quando eu vejo Pedro sentado, com um homem ao seu lado, Renan a sua frente e Malu na ponta.

Meu coração acelera instantâneamente ao momento em que o moreno me encara.

Seus olhos brilham e um sorriso escapa de seus lábios.

Me pergunto se essa expressão tão linda foi reservada somente para mim.

Pedro se levanta e eu me aproximo do mesmo. Sou envolvido por seus braços, o que me assusta, mas devolvo.

- Fico feliz que você veio! - Ele diz, ao separarmos o contato.

Sorrio para ele.

Como eu sentia saudade de tudo nele. Todo esse tempo longe só fez tudo ficar ainda mais forte.

Meu coração arde por ele.

- Vem, vamos sentar. - Ele fala e eu o sigo.

Me sento ao lado de Renan, de frente para Arthur. É desconfortável, pelo menos para mim.

Cumprimento Renan e Malu e me viro para o homem a minha frente.

Seus cabelos cacheados definidos caindo perfeitamente em seu rosto arredondado, a pele negra e os olhos castanhos. Arthur era um moço lindo, não podia negar. Ele deve ter a nossa idade.

- Hum, Thur esse é o Jão. - Pedro chama o noivo pelo apelido e me apresenta.

O homem sorri para mim e eu retribuo o mais gentil possível.

- É um prazer, Jão!

- O prazer é todo meu! - Falo duvidando das minhas palavras.

- Então, podemos comer agora?! - Malu diz e logo em seguida pedimos comida.

A conversa fluio entre nós. Descobrimos coisas novas sobre o Pedro e, consequentemente, sobre Arthur. Palhares estava extremamente interessado em minha carreira, o que me deixa muito feliz.

Assim passamos o tempo, menos terrível do que eu imaginei.

Quando dá 20:40hs, decido ir embora. Renan e Malu estão envolvidos na vida de Arthur, descobrindo cada detalhe dele, provavelmente não irão embora por agora.

Pedro e eu conversamos um pouco, apenas nós dois, em uma conversa isolada. É estranho, é difícil, mas é suportável.

Ele está incrivelmente atento aos detalhes da minha carreira e louco pelo fato de meu próximo álbum está chegando.

Ele continua ouvindo e acompanhando tudo, mesmo de longe.

- Vou indo já. - Digo quando saio do banheiro, encontrando Pedro em um barzinho perto da nossa mesa.

- Ah, não! Por que? - Seu descontentamento é tão descarado que me tira um riso.

- Quero mexer em algumas coisas sobre as minhas músicas ainda e eu não gosto de ficar muito fora de casa, você sabe.

- É, eu sei. - Ele diz. - Hum... olha, eu posso olhar algo que você tem? Das suas músicas?

A pergunta me surpreende, talvez me deixe até um pouco apreensivo, mas decido que não há problemas.

- Claro! Eu posso te mandar. - Ele assente.

Pedro me passa seu novo número e eu o salvo.

- Te mando um oi. - Ele verbaliza um "beleza".

Por um segundo, esqueci que haviam outras pessoas além de nós ali.

Estar com Pedro era como se o mundo inteiro vivesse por nós e estivesse a disposição de apenas assistir nossas cenas.

Mas, quando Arthur se aproxima, toca os braços de Pedro e se posiciona ao seu lado, me lembro da realidade ser completamente diferente.

- Renan tá perguntando de vocês. - A voz suave do homem avisa.

- Já estou indo embora, vou falar com eles. - Notifico calmo.

- Ah, mas já? - Arthur pergunta, percebo estar verdadeiramente desapontado.

Ele havia gostado de mim?

- Pois é, preciso ir. - Ele assente.

- Baby, pergunta pra Malu qual o sabor da bebida dela, eu esqueci. - Pedro pergunta... Pro Arthur.

A palavrinha de quatro letras roda minha mente.

Baby.
Baby.
Baby.
Baby.

Pedro me chamava de Baby. Ele sempre me chamava de Baby.

Ouvir seu ex namorado e grande amor chamar seu atual noivo de baby é igual ver seu padrasto beijar sua mãe pela primeira vez. As coisas não estão certas ou encaixadas, aquilo não é o normal.

E vem a vontade de chorar.

Minha mente gritava repetidamente: "Não chame ele de Baby, não ouse chamar ele do jeito que me chamava".

Engulo os sentimentos ao ver Arthur confirmando com a cabeça e partindo.

Olho para o celular e me apresso a me despedir.

- Diz pros dois que eu tive que ir, por favor? Eu tô com presa. - Pedro estranha.

- Aconteceu algo? - Me odeio por ele me conhecer tão bem.

- Só lembrei que tenho uma ligação pra fazer - invento qualquer coisa. - tenho que ir.

Ele assente, estranhando.

Então Pedro me abraça e eu quase derreto em seus braços. Mas mantenho a compostura.

- Sei que não temos nos falado ultimamente... - Pedro começa. - Mas saiba que eu te adoro, João.

Meu coração acelera e as lágrimas ameaçam suas chegadas.

Me solto de seu abraço e vou embora.

Entro no carro e passo 30 minutos chorando ali.

Me olho pelo retrovisor e vejo meus olhos marejados. De relance, vejo a camisa que visto, Pedro vestia ela.

Pedro amava ela.

Tem muito do Pedro em como eu me visto.

Tem muito do Pedro em como eu me viro.

Tem muito do Pedro em mim.

Eu eu me odeio e o odeio por isso.

INEVITÁVEL, pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora