Jão Romania Balbino.
São Paulo, Brasil.
15, de julho, de 2018.☆
Escuto exatas cinco batidas na porta do meu quarto.
Era ele.
- João? - Escuto sua voz fraca e rouca, ele havia chorado a não muito tempo. - Posso entrar?
Engulo seco. Não sei se quero que ele entre.
- Por favor... - Sua súplica fez meu coração apertar.
Isso era tão ruim, tão ruim!
Tudo isso é tão horrível, difícil e desgastante.
- Não nos falamos a uma semana, Pedro... não sei se quero falar com você agora. - Arranjo forças de algum lugar.
Não escuto mais nada.
Me pergunto se ele teria ido embora, mas quando passam-se mais ou menos 10 minutos, ouço a sua voz.
- Precisamos conversar, João. - Sua voz sai mansa, mas mais alta que antes.
Fecho os olhos quando eu os sinto arder. A angústia aperta em meu peito, mas eu engulo tudo.
Levanto e abro a porta.
Vejo a figura tão conhecida ali, com os cabelos bagunçados, roupas comuns e um rubor avermelhado no rosto.
Seus olhos estão profundos e cheios, como o mais denso dos oceanos.
Entro no quarto e volto a me sentar na cama, ele me segue e senta-se na minha frente.
Abaixo a cabeça, mas os dedos de Pedro tocam meu queixo e me faz encará-lo.
- Quando chegamos aqui? - Sua pergunta vem baixa e, eu desconfio que ele saiba.
Mas eu não sei.
Meus olhos ardem e meu queixo treme. Abaixo o olhar novamente e sinto seus braços me rodearem.
Meus soluços ficam óbvios e eu sei que ele está chorando também.
- Amor... Isso tá machucando. - Ele diz, tão baixo que mal posso ouvir. - Não dá pra continuar se machuca.
O que?
O que ele queria dizer?
Ele quer...?
Não.
Me solto em um impulso.
- O que você tá falando?! - Talvez eu soe um pouco raivoso, mas é culpa do desespero.
Desespero. É a exata palavra.
- João... Você sabe.
- Não! - Me levanto da cama, tentando parecer mais confiante ou certo do que digo.
- João, isso aqui não tá mais funcionando, você sabe. - Ele tem a voz firme e rígida.
É como uma faca atirada no peito, crava perfeitamente no órgão pulsante entre minhas costelas.
- Para de falar todas essas merdas! Tá funcionando, tá funcionando! Estamos funcionando, sempre vamos funcionar! - Me embolo entre as palavras, as lágrimas, os soluços e todos os pensamentos.
Pedro se levanta e anda em minha direção.
Me afasto no impulso.
Ele volta a caminhar até mim, tocando meus braços e olhando em meus olhos.
Seus olhos... Eles são tão lindos.
Não gosto quando eles estão assim: cheios e sem vida.
- Amor... Eu não queria ter que chegar aqui. Não queria ter que chegar a esse ponto, mas... - Sua garganta embola, ele precisa de tempo para não desabar aqui mesmo. - Mas eu não aguento mais nos ver assim, não desse jeito.
Balanço a cabeça freneticamente.
Nego.
Nego.
Nego.Pedro me agarra em si, um abraço tão forte que mal consigo respirar.
Sinto seu cheiro, o abraço da mesma forma, tentando o prender em mim para sempre.
- Meu amor, por favor... - Eu clamo, em meio a soluços.
Encaro seus olhos. Ele estava morto. Assim como eu.
Porque se ele for feito de chamas, eu serei as suas cinzas.
- Me desculpa... - Ele diz. - Me desculpa, mas eu não posso. Não posso por você, não posso por mim, não posso por nós dois.
Ele derrama lágrimas dolorosas, assim como eu.
Me perco em seu rosto, tentando memorizar ele de pertinho, por uma última vez.
- Me beija, Pedro. Uma última vez, por favor. - Em um suspiro, eu desabo nele.
Seus olhos penetram os meus.
E então, ele me beija.
É forte, é intenso. E mais uma vez, eu mergulhava de cabeça no mar forte que era Pedro.
O ar faltou, mas isso não nos desgrudou, pois nossas bocas passaram a brincar com outras partes dos nossos corpos.
Antes que eu percebesse, estávamos jogados na cama, em um beijo afoito.
Eu podia sentir suas lágrimas quentes em mim. Seguro seu rosto.
- Quero que me prometa uma coisa. - Ele me escuta atento. - Lembre de mim. Independente de tudo, lembre do que eu fui pra você e do que nós fomos. Pode fazer isso, baby?
Ele assente desesperadamente, enquanto chora.
Beijo sua boca, seu pescoço, seus ombros, seu peito, sua barriga... ele faz o mesmo comigo.
Pedro me toma pra si, leve e afoito ao mesmo tempo, de um jeito unicamente dele.
Muitas coisas são unicamentes dele.
Passamos um tempo incontável fazendo de tudo que pudesse provar que, apesar do péssimo momento, nos amamos.
☆
Quando são 02:35hs, Pedro e eu estamos deitados na nossa cama. Eu me aconchego em seu peito e ele me acolhe.
- Não sei se tô preparado pra não ter, Pedro. - Declaro, após minutos em silêncio.
- A gente dá o nosso jeito, sempre conseguimos, não é? - Ele se vira, nos deixando frente a frente. - E de qualquer forma, eu sempre vou ser seu, baby.
Sua mão anda em meu rosto e eu, novamente, sinto as lágrimas chegando.
- Quer ir lá em cima? No terraço? - Ele pergunta. - No nosso lugar.
Assinto.
Assim, nós dois vestimos qualquer coisa e subimos no alto do prédio.
Pedro senta-se no chão e eu ao seu lado. Ele me abraça.
E é a última coisa que eu me lembro.
A última vez que fomos nós dois.
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INEVITÁVEL, pejão
Fanfiction~》 Onde o destino faz duas pessoas se encontrem em todas as vidas que elas vivem.