capítulo 23

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     Kira jogou água nos braços, imaginando como estariam doendo na manhã seguinte.
     E, embora se esforçasse, não conseguia esquecer da sensação de estar pendurada no abismo, agarrando-se num arbusto.
      Quando Zonar desceu, ela estava se sentindo cada vez mais fraca.
      Quando já não agüentava mais, ele a envolveu com seus braços musculosos, cuidando dela e injetando-lhe energia
      Agora ela estava esgotada, mas estava viva. Apesar das dores e das equimoses em sua pele , estava inteira.
     Seria preciso informar a madre superiora do acontecido? Se fizesse isso, talvez ela a mandasse voltar imediatamente para o Santa Clara.
      Mas quando kira reparou no conforto do banheiro, percebeu que não queria retornar ao convento antes da hora.
        Mordeu os lábios, sentindo-se culpada pois parecia pecado admitir para si mesma que gostava de tomar banho naquela banheira funda sem estar metida na camisola de algodão que as alunas eram obrigadas a usar quando tomavam banho no Santa Clara.
       Não havia espelhos nas paredes, nem canos aquecidos com toalhas felpudas, brancas e envolventes, tapetes no chão, barras grossa de sabonete perfumado e potes cheios de sais de banho.
       Muitas vezes ela teve que usar a água morna depois que uma das alunas que pagavam tinha tomado banho na pequena banheira branca, e a toalha estava úmida porque já tinha sido usada antes.
         Kira tentou não fazer essas comparações, mas elas pareciam invadir sua mente antes que pudesse expulsá-las.
        Mesmo mergulhada na água perfumada, ela podia se ver num dos espelhos da parede: a delicadeza de seus ombros, os anéis de cabelo úmidos no ombros ,o espanto que havia em seus olhos.
      Tinha chegado em Tormont com toda a sua inocência, mas agora se perguntava se voltaria para o convento com o mesmo estado de espírito.
        Já não podia ignorar o fato de que seu patrão tinha uma força e um fascínio que ela jamais imaginaria, fechada atrás dos muros de pedra, entre um grupo de religiosas que tinham rejeitado a companhia dos homens.
        Apenas uma hora atrás, ela tinha ficado presa de encontro ao corpo forte e tinha sentido o movimento dos músculos, quando ele subiu o penhasco carregando-a, tocando nela.   
       Levantou a mão até o peito e seus lábios se abriram num apelo silencioso: ela viu como era vulnerável e o sinal de alarme que havia em seus olhos.
        Quando ele disse que iria se casar com ela ,ela entendeu que ele estava apenas brincando, e suas emoções ficaram em conflito, porque uma parte sua ,quis sim,se casar com ele ,ser mãe daquela criança, ser cuidada por um homem como ele deve ser maravilhoso,mas o medo do desconhecido , a faz querer ficar dentro dos muros do convento.
         Por que ela sabia, que Zonar MAVRAKIS, irá querer tudo dela, sua entrega total, ela terá que ser dele,e ele é muito intenso.
        A porta se abriu de repente e Aleko entrou.
       Desacostumada a trancar portas no convento, onde isso era proibido, kira nunca tinha tido essa idéia naquela casa.
      Ao ver o menino, ela se assustou, apertando a esponja contra o corpo.
     Aleko, você não pode entrar aqui!    
     Por que não?  ele argumentou.
     Eu entro quando papai está tomando banho.
     É diferente. Ele é seu pai. 
     Sua pele é tão bonita,parece chocolate e eu amo chocolate, quando você se casar com o papai,eu vou ter irmãos e irmãs com a cor de chocolate?
       Eu não vou ter seus irmãos Aleko, eu já disse que não vou me casar com o seu pai.
       Não?
        Mais o papai disse que está resolvendo tudo,e que em breve, vocês irão se casar, e que você estará carregando meus irmãos na barriga.
        O que você disse Aleko?
        Não se preocupe eu sou o irmão mais velho, vou cuidar deles e de você, eu e o papai , nós cuidamos do que é nosso.
       Ele andava ao lado da banheira olhando-a com curiosidade. 
        Kira ficou confusa, o que estava acontecendo? Como assim resolvendo tudo?
       Papai  tem pêlos pretos no peito e nos braços.
       Você não tem pêlos nos braços, mas o que são essas manchas escuras? 
       Louise me contou que você caiu do penhasco e papai teve que ir buscá-la.
        É verdade?
        Sim, mas agora tudo acabou.
        Agora, por favor, saia do banheiro, Aleko.
       Tenho que me vestir. 
       Ela tinha se esquecido que seu patrão mandara que ela fosse para a cama assim que saísse do banho.
       Não me incomodo de ficar.
       Ele sentou-se num banquinho e ficou olhando para ela com aqueles olhos escuros que pareciam tanto com os do pai, muito gregos e ligeiramente oblíquos, com cílios espessos que pareciam pesar nas pálpebras.
         Não quero que você fique , ela disse, indignada.
       Todo mundo tem direito a ficar só quando toma banho, por isso levante-se desse banco e saia daqui imediatamente!
        Então eu a deixo envergonhada? ele perguntou.
        Sei que as meninas são diferentes dos meninos, por isso não se preocupe.
        Chega!
        Por um momento ela ficou sem fala, mas depois seu senso de humor dominou seu pudor e ela começou a rir.
        Vá embora, pestinha! Você não devia estar aqui.
        Ela se interrompeu então, porque alguém tinha posto a cabeça na porta.
         E desta vez os olhos não eram infantis.
        Então você estava aqui, homenzinho!
       Você não tem nada que ficar vendo a freirinha tomar banho!
        Kira se afundou na água o mais que pôde.
       Vocês, gregos! Pensei que tivessem um pouco mais de respeito!
      Temos, garota!
      Mas enquanto dizia isto, ele entrou no banheiro para tirar o filho, que estava se divertindo muito, e colocá-lo no ombro.
       Ele estava vestido com um terno preto, a camisa era de seda cinza e a gravata, num tom de cinza mais escuro, estava muito bem colocada.
       Zonar parecia pronto para uma noitada na cidade.
       Você está menos pálida agora.
       Ela sabia que seu rosto estava
vermelho, por causa do sangue que se agitava em suas veias.
       Ele tinha que perceber que aquela era a primeira vez que um homem a via no banho e, como as bolhas estavam começando a evaporar, ele não podia deixar de ver a forma de seu corpo na água.
        A água está esfriando , ela disse, desesperada.
        Quero. quero sair, por isso o senhor não se incomodaria de ir embora e. e de levar seu filho junto?
       Sim, acho que é melhor irmos embora, meu filho, antes que a freirinha se afogue, na água ou na confusão.
       Dando risada, Zonar tirou o filho do banheiro e Kira procurou sair da banheira o mais depressa que pôde, apesar da dor que sentia no corpo.
         Pegou uma das toalhas enormes e se enrolou com o rosto ardendo e as pupilas dilatadas.
        Enxugou-se rapidamente, mas, quando olhou em volta à procura de alguma coisa para vestir, percebeu que a empregada tinha levado suas roupas embora e se esquecido de trazer o roupão do quarto.
        Respirando fundo, kira enrolou-se na toalha e entrou no quarto: um suspiro de alívio saiu de seus lábios ao constatar que estava vazio.
       Seu roupão estava numa das cadeiras do quarto e ela já ia pegá-lo quando Zonar Mavrakis abriu a porta outra vez sem bater.
        Ele estava sozinho e não sorria.
        Fechou a porta com determinação e veio na direção de kira.
      
   

           Eita o que foi isso?
     

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