As moças no hotel de seu pai são muito elegantes, especialmente as mulheres. — E bonitas. — O menino olhou para ela. — Seu cabelo é uma beleza,da cor de chocolate e sua pele de café com leite, você é muito linda, meu pai, gosta muito de café, será que foi por isso que ele escolheu você? Kira, lembrou daqueles olhos, que em nenhum momento deixou de fita-la,da forma como escureceram, como se estivesse vendo através de suas roupas,como vissem sua alma.
Ainda lembrava de como se sentiu,seu coração acelerou, desejou ser tocada, acariciada mesmo sabendo que o que estava sentindo era pecado.
Depois do chá, podemos ir ao hotel para ver papai? Ele está lá cuidando das coisas. — É o que ele faz. — Ela sorriu e, sem perceber, levantou a mão até o cabelo macio, que às vezes admirava, com uma sensação de culpa.
A vaidade era firmemente reprimida entre as alunas do convento e havia muito poucos espelhos no Santa Clara, e é claro que nenhum tinha o comprimento do que estava pregado no lado de dentro da porta do armário.
O espelho mostrava uma imagem que a espantava; mostrava, por exemplo, que ela tinha uma silhueta esbelta quase delicada, com um pescoço fino saindo da gola alta da blusa e que seus tornozelos também tinham um aspecto frágil, tinha a aparência de uma fada, delicada,com um brilho indefinido que muita das vezes dava a aparência de anjo, kira ao contrário do que suas colegas do orfanato dizia,era linda,delicada.
Se alguém lhe dissesse que tinha mãos bem-feitas e pele bonita, ela teria ficado espantada e confusa.
O espírito do convento tinha penetrado muito em Kira,e não estava em sua natureza pensar em si própria.
Ela olhou para seu reflexo como se estivesse diante de uma estranha.
Sua saia estava três dedos mais comprida que a das moças que estavam fazendo compras ou passeando com seus cachorros e que ela tinha observado das janelas do carro.
Também usavam penteados elegantes e Kira achou que devia parecer antiquada comparada a elas. — Vamos cuidar de seu rosto e de suas mãos? — ela disse para Aleko. — Posso me lavar sozinho. — Sem precisar mandar? — Kira abriu uma porta meio escondida num canto do quarto e lá havia um banheiro ladrilhado de azul de cima a baixo.
Ficou espantada com o luxo, a banheira enorme, a pia de porcelana decorada e o resto das peças combinando.
O chão estava carpetado e nunca em sua vida kira tinha visto um banheiro com tapete! — Veja, cavalos-marinhos. — Aleko estava mexendo nas torneiras da pia.
Papai disse que esta casa era bonita. Você gosta? — Nem posso acreditar que seja real. — Ela pegou um sabonete transparente e cheirou o perfume delicado. — Você tem muita sorte, Aleko, por ter um pai que pode gastar tanto assim. Você ao menos agradece a ele as coisas que tem? — Você é muito pobre? — Aleko passou sabão numa toalhinha, esfregou-a muito de leve no rosto e depois a jogou na água. — Isto não é jeito de lavar o rosto, rapazinho. — Kira pôs-se a cuidar dele, ela tinha um sentimento estranho,como se esse menino, fosse dela,se ele pertencesse a ela,o que era e é um absurdo.— O dinheiro não é tudo, você sabe.
Há muitas outras coisas na vida, como ajudar as outras pessoas, plantar coisas no jardim, ouvir música. Você não deve confundir pobreza do bolso com pobreza da alma.
Uma pessoa pode ser rica sem ter dinheiro no banco. — Mas dinheiro compra um monte de coisas. — Aleko levantou o rosto para ela enxugar e, quando bateu os cílios molhados, kira achou que ele devia ser muito carinhoso e teve vontade de abraçá-lo.
Estes impulsos não eram encorajados nem bem-vindos no convento, onde se ensinava o controle, por isso ela deu um tapinha no rosto do menino. — Agora as mãos, garoto. — Ele mergulhou as mãos meladas na pia e ficou olhando enquanto ela passava sabão. — Você quer dizer uma porção de balas e brinquedos, para não falar das aulas de equitação? Será que seu pai não o está estragando, Aleko? — Ele gosta muito de mim. — Aleko esticou as mãos limpas para serem enxutas. — Sabe, eu não tenho medo dele, mas muitas pessoas têm.
Ouvi Aquiles dizer isto. Ele diz que papai é duro na queda. — Queda? — kira parecia espantada, pois não conhecia gíria. — Eles falam assim nos filmes, srta. Kira.
Aquiles às vezes me leva, ao cinema e nós comemos pipoca e tomamos sorvete. É muito divertido. — Com certeza, se você passa a tarde toda comendo porcarias. Que tipo de filmes você vê? — Sobre assaltos de banco, às vezes um filme de cowboy, e uma vez nós vimos um filme muito bom sobre um incêndio na floresta. Foi ótimo! — Sei. — Kira estudou o menino enquanto penteava o cabelo escuro.
Ele era bonito, com traços do pai, mas com um charme inocente que provavelmente herdara da mãe, que tinha morrido tão tragicamente.
Sim, Zonar Mavrakis devia ter estragado o menino e, como era um homem muito ocupado, não era sempre que ele podia evitar a influência de Aquiles. — Diga-me, Aleko, por que o motorista de seu pai fala daquele jeito? Ele parece inglês, mas é grego, não é verdade? — Ele nasceu em Londres, mas a família dele é grega. Eles moram lá, e o pai dele é dono de um café.
Aquiles é um motorista muito bom e é por isso que ele guia os carros de papai. — Os carros? — Temos quatro — Aleko contou com orgulho. — O Rolls Royce é o melhor, é claro, e você devia ver o carro esporte de papai.
Puxa, como corre! Aquiles gosta de guiá-lo e às vezes sai escondido. — Aquiles faz muita coisa que não deve, se você quer saber. — kira esvaziou a pia e a enxugou.
Ela gostava de tudo limpo e em ordem, uma casa asseada significava um coração limpo, foi o que sempre aprendeu.
Será que Zonar Mavrakis escolheu alguém como ela para cuidar do menino porque estava começando a ficar preocupado? — Aquiles também é duro na queda. — O menino pegou na mão de Íris e a puxou para fora do banheiro. — Vamos logo tomar chá. Estou morrendo de fome! — Você não sabe o que isso quer dizer. — Ela sorriu. Eles saíram do quarto e atravessaram a galeria em direção à escada.
Antes que ela pudesse impedir, Aleko subiu no corrimão e escorregou até o hall. O coração de kira bateu mais forte.
Nem ousava pensar em como olharia para o pai se acontecesse alguma coisa com Aleko enquanto ele estivesse sob seus cuidados, mas, ao mesmo tempo, sabia que não podia prender a criança.
Ele era um menino saudável, ativo e aventureiro, e ela queria que continuasse assim durante todo o tempo que ficasse lá. Agora ele estava pulado com um pé só no hall, no mosaico que representava o sol e a lua.
Quando kira se aproximou, ele perguntou: — Você ficou com medo? — Oh, não sou desmancha-prazeres — ela respondeu. — Mas quero que você se lembre de que se você se machucar seu pai vai pôr a culpa em mim. Isto seria justo? — Aquiles diz que sou resistente como um gato — Aleko contou. — Ele diz que herdei isso de meu pai. Sabe, eles são espartanos. São daquela parte da Grécia. Os olhos de Kira brilharam e seu sorriso, um pouco tímido, tinha muito charme. — Que estranho — ela murmurou. —
Uma irmã do convento estava sempre repetindo que devíamos nos comportar como espartanas, encarando a vida como uma batalha e um desafio.
Eu acho que foi isto que seu pai e os irmãos dele fizeram. — Entretanto, ela continuou pensando, provavelmente eles lutaram por dinheiro, enquanto ela, quando fizesse os votos, seria por razões espirituais.
Foi fácil achar a sala onde o chá ia ser servido, eles só tiveram que seguir a empregada que empurrava o carrinho com as coisas. Outra empregada, Kira percebeu, um pouco mais velha e com uma touca de rendas.
Ela deixou o carrinho de chá perto de um sofá e Aleko correu para examinar o prato de bolinhos e um outro que tinha sanduichinhos em forma de triângulos. — Obrigada. —
kira sorriu para a empregada, tentando não parecer intimidada na sala enorme.
Havia um bule, uma leiteira e um açucareiro, todos de prata, e xícaras de porcelana tão fina que eram quase transparentes. Afundou no sofá, ela que estava acostumada a cadeiras de encosto duro e a se sentar com as costas retas. — A senhorita precisa de mais alguma coisa? — Oh, não! — Aquele monte de bolinhos e de sanduíches alimentariam uma dúzia de garotas no convento. — Isto é mais do que o suficiente! — Está bem, senhorita. A porta enorme fechou-se atrás da empregada e, pela primeira vez na vida, Kira pegou um bule de prata e serviu cha nas xícaras maravilhosas.
Aleko serviu-se de sanduíches e sentou-se num almofadão de veludo. Kira mexeu o chá enquanto olhava a sala, admirada.
Parecia que ela estava sonhando acordada, pois havia um outro sofá de veludo, cortinas amarelas nas janelas, o brilho quente dos móveis de mogno e um tapete maravilhoso.
Tomou o chá enquanto olhava para o sol através das cortinas de seda, levemente agitadas pela brisa que trazia o cheiro do mar.
A madre superiora sabia que ela viria para uma casa assim? — Agora posso comer bolinhos com creme? — Aleko perguntou. — Você já comeu os sanduíches? — Sim, vamos logo. Quero ver meu pai. — Ele se aproximou dela, mordendo o bolinho. — Você não vai comer nada? Você só ficou olhando para a sala. — É uma sala tão linda, Aleko.
Não temos nada assim no convento. Ele sacudiu os ombros. Era um menino bastante mimado, cujo pai era rico. — Quero ir agora para o hotel. Posso ir sozinho. — Ficaria muito bonito, no meu primeiro dia como sua governanta! — ela interrompeu. — Eu ainda vou tomar outra xícara de chá.
Olhe, coma uma torta de maçã e seja paciente.
A paciência é uma virtude. O menino olhou para ela, parecendo gostar da idéia, depois pegou uma tortinha e começou a comê-la. — Você não tem fome? — ele perguntou. — As freiras não comem muita comida? —
Elas não fazem tudo o que querem, Aleko, e eu ainda não sou freira. Você quer mais um pouco de chá, ou talvez um pouco de leite? — Leite — ele preferiu. — Posso beber na jarra? — É claro que não! Dê sua xícara. — Você é uma megera? — ele perguntou, passando a xícara. — Onde foi que você ouviu essa palavra? — ela perguntou, enquanto servia o chá. — É o que Aquiles diz da irmã, que ela é uma megera e que precisa levar umas palmadas. — Os olhos de Aleko brilhavam por cima da xícara. — É o que vai acabar acontecendo com você, se continuar me amolando — Kira avisou — Estou aqui para que você não faça nenhuma travessura enquanto seu pai toma conta do hotel. — Você acha que vai se apaixonar por ele? — Oooo que foi que você disse? — Ela arregalou os olhos, espantada, sem acreditar no que tinha ouvido. — As moças estão sempre dando em cima de papai — Aleko contou. — Com você vai ser a mesma coisa, ou você não pode se apaixonar porque vai virar freira? — É claro que não tenho a mínima intenção de. que idéia! — A imagem do grego atraente passou pela cabeça dela, com o cabelo muito preto de cada lado do maxilar forte e firme ,os olhos dominadores em cima do nariz bem talhado.
Deus do céu, porque o pai de Aleko não era um homenzinho dócil em vez daquele magnata amedrontador, que tratava as moças como brinquedos? — Nunca mais você deve repetir isto, Aleko — ela censurou. — E um desrespeito para seu pai e para mim.
Sou empregada dele e não uma moça bobinha que não tem nada melhor para fazer do que correr atrás de seu pai por causa de dinheiro! — A moça de Paris era muito bonita, mais não se preocupe você é muito mais linda do que ela,— ele se lembrou. — Ela estava em cima da Torre Eiffel quando fomos lá e começou a conversar com papai; ela tinha cabelo comprido, que ficava voando com o vento.
Vi que ela gostava de papai. E ele? — kira não pôde impedir sua curiosidade. — Gostava dela? Ele inclinou a cabeça, confirmando, depois acrescentou, pensativo: — Mas eu acho que não gostou muito , ela queria namorar o papai, mais ele não quis.
Ele nunca quer.

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Pecado E Amor :A Noviça E O Grego
RomansaEm sua inocência de noviça,kira nunca imaginou que seu corpo respondesse tão avidamente ao contato de Zonar, aquele demônio. "Um dia você terá de enfrentar o demônio". A madre superiora tinha avisado "E precisará de todas as suas forças para ex...