capítulo 4

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    Enquanto o carro atravessava Londres, a luz da manhã se espalhava sobre Westminster e se refletia nas águas do Tâmisa. Aleko observava tudo ansiosamente, com medo de perder alguma coisa.
     Ele falava muito e parecia não possuir a timidez inicial das crianças inglesas. 
    O Tâmisa não era como o Sena, ele contou para ela, e não era engraçado que os rios fossem tão diferentes, uma vez que todos eram feitos de água? — Provavelmente são os prédios ao lado deles que os tornam diferentes — disse ela e, como o menino, ficou maravilhada com o aspecto de Londres naquele instante. A cidade tinha uma espécie de magia que mais tarde seria perturbada pelo tráfego e pela fumaça dos veículos, uma belíssima mistura do antigo e do moderno na luz da manhã. Era um quadro que kira ia pendurar em sua mente, como uma lembrança daquela viagem inesperada para a Costa Oeste, para trabalhar como governanta do menino grego enquanto o pai começava a tomar conta do Monarch Hotel, que a Companhia Mavrakis tinha acrescentado à sua cadeia.
   Aleko já tinha contado que os Mavrakis possuíam hotéis nas cidades mais importantes e que também eram donos da Companhia Aérea e Marítima Sunline, uma empresa que estava aumentando seus negócios.
    Isto a deixava ainda mais nervosa, pois Zonar Mavrakis, com certeza, queria seu filho por perto para que ele aprendesse desde cedo a gostar das finanças.
    Os irmãos Mavrakis tinham percorrido um longo caminho desde a época em que consideravam um luxo melancias machucadas ou um pedaço de polvo. 
     Por volta de meio-dia, Aquiles, o motorista, parou num restaurante na beira da estrada e eles entraram para descansar e almoçar.
     Para alívio de kira, Aquiles se encarregou de tudo. Ela imaginou que provavelmente os homens gregos costumavam tomar conta de qualquer situação. Ele pediu bife, batata frita e salada para os três. — Aleko vai tomar limonada. A senhorita não gostaria de tomar um copo de cerveja? — ele perguntou. — Gostaria sim. — Ela sorriu. — Nunca tomei cerveja em minha vida. É bom? — E bom como muitas outras coisas que uma moça não experimenta enquanto um homem não lhe oferece. — Seus olhos eram tão escuros quanto o bigode e as costeletas que acompanhavam suas feições estrangeiras. 
   Kira, que sempre tinha vivido entre as freiras, ficou atrapalhada.
    Ela queria fazer amizade com os outros empregados de Zonar Mavrakis, mas não pensava em namorar nenhum deles. — No convento — disse ela — só tomamos água nas refeições, por isso não vale a pena que eu fique gostando de cerveja. — Agora você está a quilômetros do convento — Aquiles acrescentou significativamente. — Mas vou voltar no fim do verão para fazer meus votos. — Você vai voltar mesmo? — ele perguntou. Seus olhos brilharam. — E um passo difícil para uma moça dar. E se você ficar gostando de outras coisas, além de cerveja, enquanto estiver aqui fora? — Que coisas? — As coisas que naturalmente atraem as moças. Vestidos, maquiagem, dançar ou ir ao cinema com um homem. — Ele a examinou desde os sapatos de salto baixo até a boina. — Sabe, não é um crime.
    A vida tem que ser vivida. — Sei o que quero fazer com minha vida — ela acrescentou. — Mesmo sendo tão jovem? — Ele alisou o bigode, enquanto olhava para ela. Aleko estava prestando muita atenção na conversa. — A vida dá muitas voltas e nós, os gregos, temos um ditado que diz que mulher nenhuma deve viver como uma figueira estéril. — Sou inglesa, obrigada, e vou viver da maneira que quiser. — Você sempre morou no convento? — Sim. — Então vai ser bem diferente agora, hein, ficar longe daquelas rezas todas? — Você está sendo desagradável e, se não se incomodar, prefiro mudar de assunto. — Você vai contar ao patrão que eu a amolei? — Ele deu um sorriso e depois olhou para Aleko. — Você não quer uma garota emproada para governanta, não é mesmo?



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