Cor de cereja 🍒

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Meses se passaram, finalmente consegui me adaptar a escola, ao tempo quente naquela cidade no subúrbio de LA, sem contar os gritos da minha abuelita e a sua braveza por conta da idade. Eu tinha feitos alguns conhecidos pelo bairro, amigos mais novos que eu. Minhas notas estavam altas, mas vale lembrar, por conta de brigas e bebedeiras na minha antiga escola, eu tinha perdido alguns anos escolares então eu estava praticamente terminando o último ano do ensino médio aos dezoito anos. Por outro lado, consegui me tornar tutora de aulas para os alunos do primeiro ano, foi onde conheci o meu aluno e melhor amigo, César Diaz.

Eu e ele passávamos horas no intervalo das aulas, corrigindo alguns cálculos de álgebra e dividindo o fone de ouvido. Ele era um pé no saco quando se tratava de ouvir uma boa música, fora isso, era bom escutar os problemas que ele me contava sobre a sua "não" namorada, Monse, que também se tornou praticamente minha melhor amiga, sem falar do Ruby, Jamal e Jasmine, as horas que passávamos juntos era como se a gente tivesse se conhecido a vida toda.

Mas nada se comparava minha amizade com a Monse, duas garotas negras sobrevivendo no subúrbio de Los Angeles, eu podia conversar sobre tudo com ela, desde feminismo, roupas, problemas familiares, maquiagens e garotos. Até o momento não estava interessada nisso, ver César e Monse praticamente brigando o tempo todo e depois se beijando como se nada tivesse acontecido, isso me fazia se questionar: "Eu não vou gastar meu tempo com essa baboseira romântica, já tenho problemas demais."

(...)

Era uma terça-feira, feriado de julho naquela porcaria de cidade, finalmente um dia livre para comer as tortilhas da minha abuelita, descansar no sofá, ouvir ela falar sobre a cultura de mulheres negras e mexicanas. Mas o que realmente aconteceu foi algo diferente. Naquela tarde, César me mandou uma mensagem com urgência:

"Liv, poderia passar aqui em casa , você ficou com meu livro de matemática e tenho prova na quarta-feira, por favor!"


Não tive muito escolha como tutora, as notas do César estavam baixas. Me arrumei apressadamente, colocando meu vans e o primeiro um body preto rendado com uma calça larga que encontrei no meu guarda-roupa. Arrumei meus cachos com o pente garfo, deixando eles com frizz e bastante volume, alguns cachinhos caídos sobre meus olhos. Logo em seguida, indo até a minha avó, a vendo sentada em sua poltrona velha enquanto costurava alguns gorro de lã, assistindo o noticiário de TV,  reclamando como esse lance de gangue estava piorando o bairro.

Abuelita, me voy a casa, César, ¿está bien?"

Minha avó me olhou com seus óculos caindo quase de seu rosto, ficando vermelha na cor de uma tomate e exclamando alto ao falar comigo:
—"Ten cuidado con este niño, él y su hermano están en pandillas, no quiero que te involucres en esto."

(Cuidado com esse garoto, ele e o irmão são de gangues, não quero você envolvida nisso.)

—"Eu prometo que não vou, abuelita."
Falei me aproximando de seu rosto, dando-lhe um beijo em sua testa, pois não queria que ela ficasse se preocupando comigo.

...

Ao sair, me deparando com aquele tempo quente, com o livro de matemática em minhas mãos, estufei o peito e resolvi caminhar rapidamente até a casa de César, era dois quarteirões praticamente da minha casa.

_

Chegando perto da calçada, notando um carro na cor cereja, era um impala e conservado, até gostei dos pneus mas era uma pena que não entendia praticamente nada sobre automóveis.

Desviando os olhos do carro, me aproximado da entrada da casa, vi vários caras bebendo e fumando maconha, eles pareciam todos selvagens e arrogantes, eram "Los Santos" a gangue famosa do meu bairro. Eu estava com receio de ir até o César por conta daqueles caras, então a única saída era assobiar, logo que fiz o gesto, ele ouviu e veio correndo em minha direção: —"Obrigado Olívia, por me trazer o livro, ei não tenha medo deles, você é minha amiga, então eles não fariam nada com você... É eles também conhecem sua avó." — César sorriu com ironia, como se a minha avó fosse uma gangster.

"Aí garoto, toma seu livro, é vai estudar pra tirar uma nota alta, você precisa de um 9,0 ou 10 esse ano, para entrar em uma boa faculdade de engenharia. Se você não se preocupa com o futuro, eu me preocupo!" — Falei sorrindo ao jogar o livro contra o peitoral do César, mas como uma boa desatenta que sou, ao tentar me virar de costas para o mesmo, sem notar que seu irmão estava parado atrás de mim, dando de cara com o cholo, esbarrando em seu peitoral com força bruta.

O cara alto, careca, com uma camisa xadrez de manga longa, a tatuagem de uma cruz no pescoço e uma gotinha de lágrima no lado olho era a própria definição de perigo. A barba bem desenhada e suas covinhas que beirando entre suas bochechas, agora tinha entendido todas as garotas do bairro falar sobre o quanto ele era gostoso e pelo jeito ele se achava demais por essa fama.

Ao me encarar por alguns minutos como se fosse um pedaço de carne, deixando amostra um sorriso de canto em seus lábios, falando com a sua voz rouca e o sotaque forte em espanhol:

—"Mira la, Olívia Baker, a professora particular de mi hermanito, little spooky só fala de você, é agora entendi o motivo, chica!"

—"Hamram, sou eu, vim entregar o livro do seu irmão e já estou indo, me desculpa por esbarrar em você, sério. Não te vi, Spooky."

Assentei com a cabeça, envergonhada, me distanciando rapidamente, por alguma razão eu estava nervosa, nunca tinha o visto pessoalmente, mas já tinha escutado história ruins sobre Spooky, era assim que o chamavam, o líder dos Santos.

...

El verano de los santos 🍁Onde histórias criam vida. Descubra agora