Eu definitivamente estou ficando maluca, porque mais uma vez cheguei cedo o suficiente para qualquer um estranhar.
Não encontrei ninguém dos meus amigos, o que me dá a entender que eu fui milagrosamente a primeira a chegar hoje.
E como sempre, caminho diretamente pro meu armário e assim que o abro, o encontro normal, sem nenhuma flor ou bilhetinho que de vez em quando fazem meu estômago ficar esquisito.
Veja só? Cheguei primeiro que o admirador também? Mas que sorte eu tive agora.
Como a maluca que sou, me escondi novamente para poder flagrá-lo de vez. Confiante que dessa vez daria certo.
De onde eu estava, dava pra ver certinho o meu armário e ninguém conseguiria me ver.
- O que está fazendo? - Me assustei e encarei Agustín que parecia segurar a risada.
- Eu cheguei e não tinha flor no armário, me escondi pra ver se alguém aparecia de novo.
- Pensei que tinha desistido disso - Riu e me deu um abraço - Mas já que não, vou te fazer companhia.
- Eu não pedi sua companhia - Ele me encarou sorrindo.
- Foda-se? - Revirei os olhos.
Voltei a encarar meu armário com ele ao meu lado, Agustín tinha os braços cruzados em frente ao corpo e a feição despreocupada, parecia que estava se divertindo com a minha novelinha mexicana.
Eu queria ver se fosse ele no meu lugar.
- Pensei que o objetivo era observar seu armário, não eu - Me encarou de forma divertida e eu senti minhas bochechas esquentarem ao notar que o encarava feito uma psicopata - Sei que sou bonito, Anjo. Mas tente se controlar, posso acabar te denunciando.
- Para de ser idiota - Seu sorriso aumentou - Babaca.
- Um babaca que você não tira os olhos, não é? - Provocou - Admite, Lis! Eu te distraio com a minha beleza, me sinto mal por isso.
- Meu Deus - Ele riu - Você é no máximo ajeitadinho.
Me arrependo amargamente do que disse, no segundo que ele se abaixou um pouco e ficou da altura do meu rosto. Com o maldito sorriso convencido.
- Tão ajeitadinho que te fiz esquecer do admirador - Mordi meus lábios com raiva, porque era verdade e eu não poderia negar - Presta atenção no seu armário, amor.
- Eu te odeio - Ele sorriu mais uma vez e apertou o meu nariz.
Voltei minha concentração ao armário, com meu coração quase saindo pela boca e a sensação de que ele me observava.
- Quer um calmante? - O encarei e ele soltou uma risada.
- Idiota - Resmunguei cruzando meus braços e congelei ao ver uma pessoa com uma flor em mãos passar pela porta do corredor e caminhar até meu armário - Agustín, ele está com uma flor.
- É, eu vi - Respondeu de forma esquisita.
- E está na frente do meu armário.
- Sim, eu estou vendo - O encarei.
- Agustín, você pode ir comigo até lá? Eu não quero ficar sozinha com ele.
Ele somente assentiu e me seguiu até Juan que segurava uma flor cor de rosa que eu não sabia o nome e nem o seu significado.
Juan me encarou e abriu um sorriso, na qual não foi retribuído porque eu estava preocupada demais com a sensação de desmaio que estava sentindo.
- Lis! É pra você - Me entregou a flor - É um Gladíolo, vi que significa desejo amoroso e bem...acho que não preciso prolongar.
Escutei Agustín resmungar algo atrás de mim e o encarei completamente perdida, ele encarava Juan com uma feição nada agradável.
- Então... é você que me manda flores? - Juan sorriu e assentiu.
Essa foi a revelação mais sem graça da minha vida. Porque com a criatividade que ele tinha ao me mandar flores, o mínimo que eu esperava era uma revelação cheia de pétalas sendo jogadas de um balão voando por aí.
Sim, eu sou perturbada.
De repente o girassol já não fazia mais sentido, a sensação de vazio se apossou de mim. Eu nunca poderia ser a alegria dele, nunca conversamos antes.
Então tudo foi da boca pra fora?
- Lis? - Juan se aproximou e eu acabei recuando, senti Agustín segurar meus ombros - Eu venho te observando há tempos, o que acha de tomarmos alguma coisa após a aula?
- E-eu não te conheço, eu não quero sair com você agora - Ele me encarou surpreso - Não quero beber nada com você.
- Lis, olha pra mim - Agustín me fez virar pra ele - Está tudo bem, Juan já estava indo embora.
- Caso mude de ideia, me encontra na lanchonete aqui na frente da faculdade. Vou te esperar por meia hora.
Saiu e eu respirei fundo.
- Eu não quero beber nada com ele.
- Você não vai beber nada com ele - Garantiu - Respira fundo, Lis.
- Tudo foi da boca pra fora, Agustín? As flores e seus significados eram tudo da boca pra fora? Ele não me conhece - Deixei uma lágrima escapar - Eu pensei que estava apaixonada pelo meu admirador, mas agora eu descobri que tudo...
- Lis - Ele me interrompeu - Você está apaixonada? Está apaixonada pelo seu admirador?
- Eu não quero mais - Ele riu descrente.
- E é assim? Você decide quando está e não está? - Assenti - Eu também queria ter esse poder.
- Gente, o que foi? Por que você está chorando? - Fede se aproximou preocupado.
- Fede! O Juan é o meu admirador - Ele fez uma careta.
- O Juan? Tá ficando doida? De onde tirou isso?
- Ele me entregou essa flor e confirmou que era ele.
- Ele confirmou? - Perguntou surpreso e eu assenti - Mas gente, não tem como ser ele. Ele estuda direito.
- O que isso tem a ver? - Agustín perguntou confuso.
- Eu sei que a gente ignora, mas o cara tem a chave do armário dela. Isso é invasão de privacidade, né? - Agustín riu - Um futuro advogado, juiz, delegado ou sei lá que porra ele quer ser. Não faria isso, faria?
- Faria? - Perguntei em um fio de voz.
- Tá, calma - Respirou fundo - Vamos pensar, vamos pensar e não surtar... Caralho, eu vou surtar.
- Ele me chamou pra beber alguma coisa após a aula, vocês podem ir comigo e observar o meu copo? - Eles se encararam - Eu só quero pôr um fim nisso e viver a minha vida.
- Eu vou com você, tá? - Fede garantiu.
- Eu tenho um compromisso, mas me manda mensagem qualquer coisa - Assenti - Eu vou indo.
Saiu sem se despedir.
- Ele parece atordoado - Fede observou e se virou pra mim - Mas você está mais, vamos distrair você com um projetinho arquitetônico.
- Ele está ali - Apontei para Juan que estava sentado mais afastado na lanchonete.
- Ótimo, você vai lá e fala pra ele não te mandar mais flores e a gente vai embora - Assenti e puxei Fede comigo até Juan.
- Oi.
- Lis! Você veio - Seu sorriso desmanchou ao olhar pro lado - Com o Fede.
- Fico muito contente em ver a sua alegria, todos ficam alegres quando me olham.
- Menos, Fede.
- Sentem.
- Não, eu só vim aqui te pedir a chave do meu armário e não quero que me mande mais flores.
- Por que eu teria a chave do seu armário, Lis? - Indagou confuso.
- Não é você o meu admirador? Que coloca flores e bilhetes no meu armário e...
- Ah! Eu só te mandei um buquê de margaridas e a flor de hoje - Riu - Eu não seria idiota de ficar mandando flores todos os dias para uma garota.
- Nossa que felicidade! - Fede soltou e eu acabei sorrindo completamente aliviada.
- Eu fiquei sabendo que recebe flores todos os dias, você está bem famosa no campus e como eu fiquei interessado. Acabei me aproveitando do lance das flores e mandei um buquê pra você. Pensei que assim eu teria alguma chance.
- Ah.
- Bem, já que está esclarecido que ele não é o senhor flores, vamos embora? Esse papo embrulhou meu estômago.
- Sim, tchau.
- Espera, nós podemos sair juntos - O encarei.
- Sinto muito, mas você não faz o meu tipo - Acenei e puxei Fede comigo - Não era ele, Fede! Não era.
Pulei de felicidade do lado de fora e ele riu me puxando para um abraço.
- Mais um descartado da lista!
- Quem sobrou?
- Théo e Andrew.
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Flores
RomanceQuem não sonharia em receber flores e mensagens carinhosas todos os dias? Para Lis Benitez foi uma experiência preocupante, a princípio. Ser surpreendida por flores de um admirador secreto lhe trouxe um grande temor, alguém tinha a chave de seu armá...