Capítulo 1

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Milagre. Essa é a palavra que eu usaria para resumir o que acabou de acontecer comigo.

E tudo isso porque um homem bonito, bondoso, apaixonado e, além do mais, muito rico pediu minha mãe em casamento.

E não. Não sou a Princesinha Sofia, da Disney Channel, mas admito que me senti ela quando minha mãe e eu fomos convidadas a morar com o noivo dela, pai solteiro, no castelo dele — ou, melhor dizendo, sua casa de quatro suítes equipada com piscina e empregados.

Tudo começou com uma linda história de amor entre minha mãe e um empresário que ela conheceu na lanchonete em que trabalhava.

O nome do partidão é Fred. Estava passando as férias em Aurora, nossa cidade, e, quando começou uma linda amizade com mamãe, passou a sempre visitá-la.

Então os dois viúvos estiveram apaixonados sem dar iniciativa alguma por seis meses, e, enquanto isso, eu e mamãe lutávamos contra um aluguel caríssimo, um Bolsa Família que foi cancelado com um mês e meio e, logo em seguida, uma fatura gigante no cartão que a gente não conseguia pagar.

Só que, quando Fred pediu mamãe em casamento, tudo mudou. Porque ele decidiu que a gente moraria na casa dele com seu filho, Jonathan — que, inclusive, tem o cabelo liso escorrido e castanho claro igual o meu —, e nos arrancou de Aurora para morar em Fortaleza, a cidade deles.

Okay. Admito que assim fica parecendo uma história de sequestro, mas garanto que foi bem mais tranquilo e romântico do que isso. Até porque mamãe demorou a aceitar o pedido, já que não sabia se queria deixar sua cidade natal assim de repente.

Mas, no fim, deixou. E suspirei de alívio.

Não que eu achasse ruim morar no interior. Muito pelo contrário: sou totalmente contra o estereótipo de que cidades pequenas são só mato e calango. Até porque não são só isso; são mato, calango e sapos.

Mas, enfim, fiquei aliviada porque queria muito mudar de escola. E foi o que aconteceu: enquanto Fred e mamãe preparam o casamento, ele nos deixou em um hotel chique e me matriculou numa nova escola, que não é de tempo integral. E isso depois de dar um baita banho de loja na gente.

E é aí que começa meu conto de fadas.

— Pessoal, essa é a Lana Lis. Ela vai estudar o resto do ano aqui com a gente.

— Oi, pessoal.

É o meu primeiro dia na escola nova, e, quando sou apresentada para a turma, não dá nem um minuto, e já vêm milhares de garotas conversar comigo.

— Oi! Você veio de onde?

— Aurora.

Eu sabia que tinha algo errado com Aurora. Foi só eu sair de lá que agora está chovendo amigas.

Aparentemente, ser enteada de um ricaço começa a dar resultados, e, nessa brincadeira, já acabo ganhando três amigas, que são Thaís, Nicole, que é irmã dela, e Gabriela — o que é bastante para mim, que vivi com um total de zero amigos.

A terceira aula acaba muito bem, e, quando o sinal do intervalo toca, mais duas garotas vêm até mim enquanto guardo meu caderno na mochila.

— Lana Lis? Tudo bom? Meu nome é Sue. — A garota de cabelo ruivo no ombro, que está segurando um caderno numa mão, estende a outra para mim com um sorriso fofo.

Espera. Eu estudo na mesma escola que alguém chamada "Sue"? Isso só pode ser um sonho.

— Oi — gaguejo e aperto a mão dela.

— Bem vinda! Eu sou a representante da turma — ela fala e aponta para a garota ao lado —, e a Bárbara é a vice!

— Oi. — Bárbara, meio inexpressiva, levanta e abaixa a mão bem rápido para mim.

Abençoada Lana LisOnde histórias criam vida. Descubra agora